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Um único gene pode elevar risco de esquizofrenia em até 87 vezes, revela estudo

Descoberta expõe impacto de variantes raras no cérebro e abre portas para terapias personalizadas

Fala Ciência

Fala Ciência|Do R7

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Gene defeituoso altera desenvolvimento e saúde mental. (Foto: Billion Images via Canva) Fala Ciência

A genética das doenças mentais acaba de ganhar um novo capítulo capaz de transformar a forma como entendemos condições como esquizofrenia, transtornos de humor e ansiedade. Um estudo publicado na revista Molecular Psychiatry identificou que cópias defeituosas do gene GRIN2A podem aumentar drasticamente o risco de alterações psiquiátricas de início precoce, especialmente quando a mutação impede totalmente a formação da proteína que ele deveria produzir.

A descoberta, parte de uma colaboração internacional de pesquisadores, sugere que um único gene pode ser o principal fator de risco para alguns indivíduos, contrariando a visão tradicional de que transtornos mentais comuns são sempre poligênicos.


Falha de gene crucial

O gene GRIN2A contém as instruções para produzir a proteína GluN2A, uma peça fundamental do receptor NMDA, estrutura essencial para a memória, aprendizagem e comunicação neuronal. Por isso, alterações nesse gene podem provocar um efeito cascata que compromete funções cerebrais sensíveis.


O estudo analisou dados de 121 indivíduos com variantes conhecidas no GRIN2A. As mutações foram classificadas em dois grupos:
Variantes de sentido trocado, que alteram a proteína sem desativá-la por completo.
Variantes nulas, que impedem totalmente a produção da proteína.

Foi nesse segundo grupo que os resultados chamaram atenção.


Risco 87 vezes maior de transtornos psicóticos

Mutação rara no GRIN2A eleva risco de psicose em 87x. (Foto: Katsiaryna Hatsak via Canva) Fala Ciência

Entre os 84 indivíduos com variantes nulas, 23 apresentaram transtornos mentais, enquanto apenas dois dos 37 com variantes de sentido trocado desenvolveram algum quadro psiquiátrico.


Quando comparados ao banco populacional finlandês FinRegistry, os portadores de variantes nulas apresentaram:
87 vezes mais risco de transtornos psicóticos
12 vezes mais risco de transtornos de humor
6 vezes mais risco de transtornos de ansiedade

Além disso, muitos apresentaram sintomas na infância, muito antes da janela etária típica dessas condições.

Epilepsia e saúde mental

O estudo também identificou casos em que a epilepsia regrediu, mas os sintomas psiquiátricos surgiram logo depois, sugerindo que a mesma alteração genética pode modular diferentes fases do neurodesenvolvimento.

Em seis participantes, o transtorno mental foi a única manifestação da variante nula, sem epilepsia ou deficiência intelectual, algo considerado incomum.

L-serina mostra potencial, mas ainda sem comprovação clínica

Quatro indivíduos receberam tratamento com L-serina, um aminoácido que pode facilitar a ativação dos receptores NMDA. Todos apresentaram melhora, incluindo redução de alucinações, mas os autores alertam: os relatos são preliminares e não fazem parte de um ensaio clínico controlado.

O que vem pela frente

O estudo, intitulado “As variantes nulas do GRIN2A conferem um alto risco de esquizofrenia de início precoce e outros transtornos mentais e potencialmente permitem a terapia de precisão”, assinado por Johannes R. Lemke et al. pode abrir caminho para:
• Diagnóstico psiquiátrico mais personalizado
• Testes genéticos mais ampliados
• Desenvolvimento de terapias direcionadas

Embora os achados precisem ser confirmados em populações maiores, o estudo reforça que a genética pode ter peso decisivo em certos casos de transtornos mentais severos e precoces.

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