À espera de Caíque: mãe luta para rever filho de 7 anos detido nos EUA
O menino foi separado do pai na fronteira dos EUA e está em um abrigo há quase um mês; a mãe aguarda no Brasil a volta do menino
Internacional|Fábio Fleury, do R7
Nadielle Rodrigues está há quase um mês sem poder abraçar seu filho mais velho. Caíque, de 7 anos, acompanhava o pai, Wellington Rodrigues da Silva, quando ele tentou entrar ilegalmente nos EUA através da fronteira com o México, no dia 27 de maio, depois que a política de 'tolerância zero' da administração Trump entrou em vigor.
O pai se apresentou a uma patrulha da fronteira para dizer que pretendia pedir asilo no país. Ambos foram detidos e imediatamente separados. Wellington está detido no Texas, onde ainda tem uma audiência de imigração, que dificilmente evitará sua deportação. Caíque foi transferido para um abrigo em Nova York, a mais de 3 mil quilômetros.
Volta ao Brasil
Por sua vez, Nadielle, que acompanhou o marido até o México e pretendia cruzar a fronteira se a entrada dele desse certo, voltou ao Brasil na semana passada e finalmente conseguiu ter contato com Caíque. Em entrevista ao R7, ela disse que tem problemas para dormir por preocupação com o menino e o estado psicológico dele:
— Já consegui falar duas vezes com ele, por telefone. A moça do consulado, que esteve com ele, disse que ele está muito agitado, quebrando coisas. Ele está bem abalado, já demorou demais pra ele voltar.
Nadielle voltou para a cidade de Carmo do Paranaíba, em Minas Gerais, onde morava, e aguarda a volta do marido e do filho para seguir a vida. Enquanto isso, tenta cuidar do filho mais novo, de 4 anos.
— Ele não está bem, chora querendo o irmão, o pai. Eu tento explicar, mas é difícil, às vezes eu não aguento e choro. E nessa hora é ele que cuida de mim, ele fala 'não fica triste, mamãe, o papai do céu vai trazer eles de volta'.
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"Vida melhor"
Em Minas, Nadielle trabalhava como balconista, Wellington limpava cisternas. Os dois juntaram o dinheiro que tinham e foram para o México, na esperança de cruzar a fronteira em Ciudad Juarez, um dos locais mais violentos do país. A atual política de processar todos os que entram ilegalmente em território norte-americano acabou com isso.
— Nossa ideia era tentar uma vida melhor, conseguir criar nossos filhos em um lugar com mais oportunidade. Infelizmente, não deu. Agora só quero que eles voltem o mais rápido possível.
Governo pede explicações
Nadielle afirma que, no Brasil, ainda não foi procurada por nenhum representante do Ministério das Relações Exteriores, apenas tem contato com representantes do consulado brasileiro em Nova York.
O Itamaraty, no entanto, divulgou uma nota em que pede explicações ao embaixador norte-americano em Brasília pela situação, que gera uma 'dor incontornável' nas famílias, e recomenda que as crianças sejam devolvidas a seus pais. Estima-se que 51 crianças brasileiras estejam separadas dos pais nos EUA.
"Teme-se que os menores brasileiros que ainda se encontram nessa situação, muito dos quais de tenra idade, estejam sofrendo trauma psicológico que poderá deixar sequelas graves ao longo de todas as suas vidas", diz a nota.