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A grande mesa de Putin: precaução sanitária ou sinal de isolamento?

O presidente russo se reuniu com diversas autoridades para discutir a crise entre seu país e a Ucrânia, mas sempre ficou separado delas por vários metros

Internacional|Do R7

Grande mesa foi usada para garantir o distanciamento entre o presidente russo e seus interlocutores
Grande mesa foi usada para garantir o distanciamento entre o presidente russo e seus interlocutores

Uma mesa muito longa e oval se interpõe entre Vladimir Putin e seus interlocutores, uma precaução sanitária que reforça a impressão de um presidente da Rússia alheio ao mundo, em plena crise ucraniana, e que alimenta as brincadeiras na internet.

Durante uma reunião nesta terça-feira (15), no Kremlin, Putin e o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, apareceram sentados cada um em um extremo de uma mesa branca, de vários metros de comprimento, e já familiar para os observadores da Rússia.

A cena reproduz o ocorrido na semana passada com o presidente francês Emmanuel Macron. O Kremlin explicou que essa precaução sanitária é adotada para qualquer convidado estrangeiro que recuse um teste de Covid-19 efetuado por um médico russo.

Essas cenas, incomuns nas reuniões de alto nível, ilustram a magnitude das precauções tomadas pelo chefe de Estado russo, de 69 anos, para evitar a infecção pelo novo coronavírus.


Mas também são percebidas por alguns como o sintoma de um dirigente cada vez mais distante e isolado, cujas intenções sobre a crise ucraniana são indecifráveis.

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Nesta segunda-feira (14), Putin impôs essa mesma distância a seu ministro de Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu, um dos amigos com os quais costumava passar férias.


Ambos se viram obrigados a se sentar a vários metros do presidente, durante reunião dedicada à Ucrânia.

Ao ver essas fotos, "é evidente que [Putin] está cada vez mais sozinho", estima o cientista político independente Konstantin Kalatchev. "Essa solidão é óbvia: ele não se importa com o que os demais pensam sobre ele", acrescenta.


Indagado a respeito, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta terça-feira que as medidas eram "provisórias" e relacionadas com o "pico da onda" da variante Ômicron, que é bastante contagiosa e muitas vezes assintomática.

"Não há nada terrível ou extraordinário. Nestes tempos, é necessário tomar medidas um pouco especiais", relativizou Peskov.

De fato, o presidente russo está imerso há vários meses em uma bolha sanitária, que parece mais hermética que as que protegem outros dirigentes do mundo.

E tudo isso ocorre depois que Putin não impôs nenhum lockdown na Rússia desde meados do primeiro semestre de 2020, com o objetivo de preservar a economia e apesar dos mais de 700.000 mortos pela pandemia no país, segundo a agência de estatísticas Rosstat.

Por outro lado, as delegações estrangeiras e os jornalistas que querem comparecer ao Kremlin devem se submeter a três testes PCR nos quatro dias precedentes.

E os dirigentes estrangeiros que visitam a Rússia e querem proximidade física com Putin devem aceitar que um médico do Kremlin lhes enfie um cotonete no nariz. Caso contrário, devem se contentar com uma cadeira no extremo de uma longa mesa.

Tudo isso gerou uma avalanche de comentários humorísticos nas redes sociais, a qual compensa as tensões em torno da Ucrânia, uma crise que desperta o espectro da guerra na Europa.

O presidente russo cultiva a imagem de homem forte, mas os memes da internet que antes o mostravam montado em um urso deram lugar a outros que sugerem a uma loja de móveis famosa a criação de um modelo de mesa longa batizado de Putin, ou àqueles que mostram a mesa do Kremlin como uma gangorra de parque infantil ou uma pista de patinação.

Com essas fotos, Vladimir Putin "corre o risco de parecer ridículo", opina o especialista Konstantin Kalatchev.

Até mesmo o líder húngaro Viktor Orban, aliado europeu de Putin, brincou durante uma visita ao Kremlin no início de fevereiro, dizendo que jamais teria visto uma mesa tão grande, relata o cientista político.

O próprio Kalatchev faz piada ao afirmar que as fotos "deveriam tranquilizar todo o mundo, pois é improvável que uma pessoa que cuida tanto de sua saúde seja responsável por desencadear a terceira guerra mundial".

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