Aceno de Trump ao Brasil é bem avaliado, mas imprevisibilidade dos EUA exige cautela
Breve encontro entre Lula e Trump pode indicar uma nova fase na tensa relação entre os dois países
Internacional|Giovana Cardoso e Luiza Marinho*, do R7, em Brasília
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O breve encontro entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, durante a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) rendeu um novo capítulo na questão diplomática entre os dois países e a promessa de uma conversa dos líderes.
Especialistas ouvidos pelo R7 entendem que, apesar da imprevisibilidade da figura de Trump, é possível que haja uma abertura por parte do governo americano. O aceno do republicano, mesmo que incerto, é visto como positivo para a comunidade diplomática.
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Na visão do presidente dos Estados Unidos, Lula é um “homem agradável”, e os dois tiveram uma “química excelente” ao se cumprimentarem, o que pode favorecer um cenário de negociações para o conflito diplomático entre as nações. No entanto, tanto Lula quanto Trump fizeram críticas recíprocas nos discursos na ONU.
A especialista em relações internacionais Natali Hoff explica que a cautela com os EUA é necessária devido às recentes ações de Trump com outros países, onde ele coloca o parceiro em uma posição de perda significativa para acabarem concordando com acordos que seriam prejudiciais.
“A gente viu isso acontecendo com União Europeia, Japão, Coreia do Sul. Então, os EUA ameaçaram tarifas muito altas para que esses atores negociassem com ele e para que nessas negociações as tarifas continuassem muito altas, mas mais baixas do que foi ameaçado. Ou seja, para que ele, mesmo cedendo, ainda conseguisse ter um ganho significativo”, pontua.
Acho que é importante ter cautela. A gente está falando da Assembleia Geral da ONU. A gente está falando do presidente dos Estados Unidos discursando nesse ambiente, e foi uma das poucas vezes que ele diretamente se referiu ao chefe de Estado brasileiro, fazendo isso de maneira positiva e elogiosa. Você precisa receber isso com cautela, mas entendo que também tem esse aspecto positivo e abre uma janela diplomática importante.
Para Hoff, existe uma possibilidade de distensionamento entre os dois países. Ela explica que, mesmo com a necessidade de cautela, as novas movimentações e mudanças na postura de Trump são positivas.
“[A questão] é realmente entender qual seria a forma que essa conversa iria se dar e realmente quanto o Donald Trump está disposto a negociar aspectos que são negociáveis com o governo brasileiro, o que passa por questões econômicas e envolve deixar de lado as demandas políticas que ele apresenta”, completa.
Para o doutor em educação e comentarista político Gabriel Petter, Brasil e Estados Unidos atravessam um dos momentos mais delicados de sua relação diplomática. Segundo ele, Lula e Trump vivem fases políticas distintas, o que se refletiu diretamente nos discursos.
“Trump está agitando o setor mais ideológico do seu governo. Lula, por outro lado, não se dobrou às pressões do atual governo americano e tocou em temas sensíveis que têm peso moral para falar sobre problemas que afligem o mundo todo sem abordar falas ideológicas”, disse.
Petter também acredita que os impactos das tarifas na economia brasileira foram “limitados” e que as sanções dos EUA a autoridades nacionais não tiveram efeito sobre processos judiciais envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Por isso, acredita que um eventual encontro entre Lula e Trump pode abrir espaço para um consenso sobre barreiras comerciais.
“Nesse contexto, a oposição sairia mais enfraquecida. Eis porque o próprio anúncio dessa reunião, ainda que de forma vaga, já produz desânimo entre eles”, afirma.
Reunião complexa
Petter ressalta, no entanto, que os discursos de ambos devem ser compreendidos dentro de um tabuleiro mais amplo.
“Acho que os discursos fazem parte do jogo, mas o que ainda não recebeu a devida atenção é a lenta, mas progressiva, destruição da ordem internacional erigida no pós-Segunda Guerra. A OMC respira por aparelhos; a ONU se mostrou totalmente ineficaz nas tentativas de solucionar os principais conflitos bélicos em curso. A própria ideia de governança global está em crise.”
Ainda no sentido da possível reunião, que deve ocorrer por telefone, Natali entende que o encontro vai tratar de questões complexas, exigindo que as partes observem o que poderá ser negociado.
A especialista comenta que assuntos como anistia e a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro não devem ser uma pauta para o Brasil, favorecendo temas como regulamentação das big techs e o acesso dos EUA aos minerais críticos.
“Neste momento, o Brasil indo para essa reunião, que seria ótimo no ponto de vista de ter um diálogo. A questão é entender o que vai ser possível negociar. Tanto o discurso do Lula, quanto a posição que ele já vem tendo nos últimos tempos e todas as questões relacionadas a como o Estado brasileiro funciona, deixam muito claro que a questão da anistia e condenação do Jair Bolsonaro não é uma pauta”, explica.
*Sob supervisão de Leonardo Meireles
Perguntas e Respostas
Qual foi o contexto do encontro entre Lula e Trump?
O encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Donald Trump, dos Estados Unidos, ocorreu durante a Assembleia Geral da ONU. Esse breve encontro gerou novas discussões sobre a tensa relação entre os dois países e a possibilidade de um futuro encontro entre os líderes.
Como os presidentes se posicionaram durante o encontro?
Durante o encontro, Lula fez queixas indiretas sobre a administração de Trump, enquanto o presidente norte-americano adotou um tom crítico em relação ao Brasil. Trump mencionou que ambos tinham uma “química excelente” ao se cumprimentarem, o que poderia favorecer negociações futuras.
Quais são as implicações das sanções americanas contra autoridades brasileiras?
A crise entre Brasil e Estados Unidos se intensificou com o anúncio de novas sanções do governo americano contra autoridades brasileiras, incluindo o advogado-geral da União, Jorge Messias, e Viviane Barci, esposa do ministro Alexandre de Moraes. Especialistas indicam que essas punições eram esperadas após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e que as sanções podem ser ampliadas.
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