Agência denuncia que jornalistas foram espionados no governo Macri
Auditoria em órgão federal de inteligência aponta que ao menos 400 profissionais de imprensa foram classificados por 'proximidade ideológica"
Internacional|Da EFE
Mais de 400 jornalistas, entre eles vários da Agência Efe, foram investigados durante o governo do ex-presidente argentino Mauricio Macri, segundo a Agência Federal de Investigação (AFI).
A auditora da AFI, Graciela Caamaño, apresentou na última sexta-feira uma denúncia legal pela suposta produção de inteligência ilegal sobre jornalistas, acadêmicos, organizações sociais e partidos políticos e entregará 11 dos arquivos encontrados à Justiça Federal amanhã.
Fontes oficiais disseram à Efe que Caamaño solicitou o depoimento em juízo dos agentes envolvidos, o ex-diretor geral da AFI Gustavo Arribas, a ex-diretora geral adjunta da agência Silvia Majdalani e Macri, "na qualidade de responsável pela definição das diretrizes estratégicas e objetivos gerais da política de inteligência nacional".
De acordo com a denúncia, o Ministério da Segurança do governo Macri estabeleceu diretrizes para a concessão de credenciamento a jornalistas para as cúpulas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do G20, realizadas respectivamente em 2017 e 2018 Na Argentina. O trabalho de inteligência não teria sido ordenado nem autorizado por um juiz.
Jornalistas tinham redes sociais devassadas
Entre o material encontrado em um cofre da Diretoria de Eventos Especiais da AFI estão os arquivos de 403 jornalistas, 28 acadêmicos e 59 outras pessoas, separados em três envelopes marcados com "2017", "Jornalistas do G20" e "Diversos".
Os jornalistas foram identificados por um "semáforo ideológico", com os mais próximos do governo Macri marcados em verde, outros em amarelo e os críticos em vermelho.
Os profissionais incluíam jornalistas de agências internacionais, jornais, canais de televisão nacionais e internacionais, de acordo com os arquivos a que a Efe teve acesso.
"Os arquivos contêm informações de todos os tipos e cores: links na mídia, preferências políticas, publicações em redes sociais, simpatia por grupos feministas ou conteúdo político e/ou cultural, entre outras questões que nada têm a ver com o conteúdo do evento para o qual este tipo de trabalho estava supostamente sendo realizado sem controle ou ordem jurisdicional", afirma a denúncia apresentada pelo auditor da AFI.
Ministério Público fala em espionagem interna ilegal
No último dia 29, Macri e o ex-chefe da AFI Gustavo Arribas, entre outros ex-funcionários do governo durante o mandato do ex-presidente, de 2015 a 2019, foram formalmente acusados de espionagem interna ilegal pelo Ministério Público da Argentina.
Segundo o relatório do MP, que já foi enviado ao juiz Marcelo Martínez de Giorgi - que confirmará ou rejeitará a abertura da investigação -, a denúncia é dirigida, em primeiro lugar, contra pessoas que seriam agentes da inteligência, cujos nomes são mantidos em sigilo.
A queixa foi aceita após um disco rígido ter sido encontrado como parte das tarefas de coleta de informações da agência de inteligência. No HD, foram encontrados traços digitais que mostram a conexão de dispositivos externos que armazenavam informações de inteligência sobre pessoas ligadas à atividade política.
O relatório do procurador federal Jorge di Lello dizia que as informações foram usadas para produzir inteligência ilegal, pois "não há registros no AFI de que essas tarefas tenham sido ordenadas por um juiz ou autoridade competente.