Al-Assad completa 20 anos no poder na Síria: da 'moderação' à guerra
Período é marcado por denúncias de corrupção e por guerra civil que dura 9 anos, deixou milhões de refugiados e mais de 400 mil mortos
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
O presidente da Síria, Bashar al-Assad, completa 20 anos no poder do país árabe neste sábado (18). Sob sua gestão, os sírios vivem há 9 anos uma das guerras civis mais violentas e brutais da história, marcada por ataques químicos e ascensão de grupos terroristas.
Assad chegou ao poder aos 34 anos, depois da morte do pai, Hafez al-Assad, presidente do país de 1971 a 2000, em uma eleição fraudada, sem opositores e outros candidatos.
Desde o começo do mandato, Assad buscou se aliar com o Irã e a Rússia, parceiros importantes para mantê-lo no poder, e discordava dos governos de Israel e Turquia, tanto por brigas territoriais quanto por declarar apoio a rebeldes curdos na Turquia.
Além das alianças políticas, ele, acompanhado da esposa, Asma, tentaram ser vistos ao lado de ícones ocidentais, como o Papa João Paulo II, em 2002, e visitaram a rainha Elizabeth II em Londres, em 2004, para passar a imagem de um político moderado no meio de um território complexo.
Com um primeiro mandato sem grandes escândalos, Assad é reeleito em 2007, com 97,6% dos votos. Porém, a imagem de presidente moderado da Síria mudou radicalmente em 2011, com a chegada da Primavera Árabe.
O começo da guerra
Em 2011, diversos países no Oriente Médio foram tomados por manifestações populares, que resultaram na deposição de presidentes ou mudanças no governo. Na Síria, manifestantes reclamavam da corrupção, desemprego, má qualidade de vida e da falta de liberdade política no país, comandado pela família Assad há 40 anos.
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As tropas do governo repreenderam violentamente os protestos, mas a situação se tornou extrema depois que um grupo de estudantes foi torturado na cidade de Derá, em 2011.
Até 2013, a guerra na Síria era um conflito entre a oposição ao governo e militares sob o comando de Assad. Porém, depois de um ataque químico, os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, decidiram entrar na guerra com bombardeios aéreos na região do ataque.
No mesmo ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que mais de 1 milhão de pessoas já tinham deixado a Síria, se tornado refugiados em países vizinhos ou tentando fugir para países europeus.
Participação de outros países
Diferentemente de outros países árabes, a Síria não é controlada por religiosos e nem tem a religião como um dos pilares do governo. Com um país fragilizado pela guerra, grupos extremistas encontraram o local perfeito para expandir seu poder, e assim o Estado Islâmico também entrou na guerra.
Com o crescimento dos jihadistas, os Estados Unidos e países europeus deslocaram tropas para a Síria para combater os extremistas.
Do lado de Assad, Rússia e Irã ajudaram em bombardeios aéreos e outras ações militares contra civis e opositores do governo. Em 2016, Assad chegou a fazer uma visita surpresa ao presidente russo, Vladimir Putin, depois da ajuda russa em um combate.
Retomando o controle do país
Com a Síria dividida, Assad perdeu o controle de boa parte do território. A oposição ao governo não é uniforme e conta com países ocidentais, que chamam Assad de ditador, extremistas islâmicos, separatistas curdos e grupos pró-democracia. Desde 2015, o presidente tenta reconquistar o poder.
O governo contou com a ajuda da Rússia, do Irã e do grupo libanês Hezbollah para derrotar grupos rebeldes, isolar os extremistas na capital, Damasco, além de conseguir recuperar parte do norte.
Atualmente, o governo de Assad já controla mais de 70% da Síria, mas as lutas continua no norte, onde a Turquia ajuda a oposição e em Idlib, o último reduto jihadista no país.
O legado
A família Assad está há quase 50 anos no poder, mas o legado da última década vai deixar feridas difíceis de serem cicatrizadas.
Desde o começo da guerra na Síria, mais de 13 milhões de pessoas fugiram, com pelo menos 6,6 milhões de pessoas se deslocando pelo território e outras 5,6 milhões buscando abrigo em outros países. A ONU acredita que pelo menos 400 mil pessoas morreram e milhares de crianças nasceram e cresceram no meio de uma guerra.