Al-Qaeda ainda assusta 17 anos depois do 11 de Setembro
Desde 2001, grupo perdeu visibilidade, mas continua atuando por meio de células, com estratégias centrais e sem tantos 'lobos solitários'
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
A Al-Qaeda (A base) nasceu em 1989 para formalizar um movimento que se instaurou no Afeganistão desde antes da invasão soviética em 1979. Desde os anos 70, o interesse soviético já mobilizava uma reação religiosa islâmica local. Que chegou ao auge após o envio de tropas ao país, em 24 de dezembro de 1979, sob ordens do presidente Leonid Brejnev.
O ápice da visibilidade da Al-Qaeda veio em 11 de setembro de 2001, quando, comandada por Osama Bin Laden, a entidade realizou os atentados nos Estados Unidos, deixando mais de 2,7 mil mortos. Após 17 anos desde o atentado, o grupo ainda resiste em vários locais e tem buscado retomar o protagonismo depois das derrotas do Daesh na Síria e no Iraque.
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À Reuters, Arndt von Loringhoven, secretário-geral assistente de inteligência e segurança da Otan, ressaltou que aos poucos a Al-Qaeda tem recuperado inclusive algumas fontes de recursos.
"O enfraquecimento do Daesh forneceu à Al-Qaeda uma oportunidade de tentar reconquistar seu status anterior... Enquanto o Daesh ocupou a atenção do mundo durante os últimos quatro, cinco anos, a Al-Qaeda reconstruiu discretamente suas redes e recursos globais", afirmou. Ele cita atividades em regiões e países da Ásia, como a Caxemira, Afeganistão, Síria e Iêmen e da África, como a Somália e nações do norte do continente.
Atuação em células
Desde 2001, a Al-Qaeda tem atuado por meio de células, mas sempre com uma estratégia pré-concebida para atentados, como o de 11 de setembro de 2012, em Benghazi (Líbia), no qual o então embaixador americano John Christopher Stevens foi um dos quatro que morreram.
O atentado de 7 de janeiro de 2015, contra a revista Charlie Hebdo em Paris, que deixou 12 mortos, também foi reivindicado pela AQPA (Al-Qaeda da Península Arábica). Outra das ramificações que se formaram foi a AQMI (Al-Qaeda no Magreb Islâmico).
Da Al-Qaeda no Iraque, teria surgido o Daesh, comandado inicialmente por um ex-líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri (morto em 2006).
Apesar de conquistar partes da Síria e do Iraque em seu autoproclamado califado, em junho de 2014, no Iraque, o Daesh se abriu mais para uma estratégia propagandística de angariar "lobos solitários", a praticarem atentados isolados, sem necessariamente seguir uma diretriz ligada a táticas centrais do grupo.
Para a Al-Qaeda, que perdeu visibilidade após a ascensão do Daesh, são quase 30 anos de atividades, agora muito mais vigiadas pelas potências ocidentais e restritas a países onde a entidade mantém algumas bases, buscando alguma brecha para voltar a atormentar as nações ocidentais. Estas, por isso, se mantêm em alerta em relação às movimentações de membros do grupo.
Como surgiu a Al-Qaeda
Mais do que interesses econômicos, os soviéticos entraram no país em meio à Guerra Fria com os Estados Unidos e apoiaram o regime socialista local, comandado pelo presidente Nur Muhammad Taraki, contra dissidências, nestes anos 70.
Uma delas, além das existentes dentro do próprio PDPA (Partido Democrático do Povo do Afeganistão) era a de cunho religioso, formada pela etina pashtun, cuja maioria segue o islamismo.
Neste caldo étnico-cultural, o wahabismo saudita (islã radical) encontrou na região um canal de propagação de sua crença, adaptando-a a ataques contra os ditos "inimigos". Foi neste cenário que surgiu a Al-Qaeda, impulsionada pela iniciativa do saudita Bin Laden (morto em 2011).
Ele, que já buscava liderar movimentos de imposição do Islã, aproveitou-se da amizade que tinha com o chefe dos serviços de inteligência saudita, Turki al-Faisal e, em 1989 conseguiu aglutinar os cerca de 4,2 mil sauditas que lutaram no país, formando um grupo com o objetivo de promover a Jihad em outros países.
Para tanto, contou com o apoio das lideranças locais, fortalecidas após a saída dos soviéticos, em 1989. E a partir de 1996, quando assumiu o poder (ficando até 2001), o grupo Talebã, fundamentalista islâmico, abriu o Afeganistão para Bin Laden e o ajudou a montar uma logística de treinamento naquele país.
EUA se tornam inimigos
A partir dos anos 90, em vez dos soviéticos, que já haviam sido extintos com a dissolução da União Soviética, o inimigo declarado passou a ser os Estados Unidos que havia liderado a ajuda financeira e militar a Bin Laden e seus aliados, para ajudá-los a derrotar os soviéticos anos antes.
O pretexto para isso foi a Guerra do Golfo de 1991, campanha liderada pelos Estados Unidos em retaliação à invasão do Catar pelo Iraque, ação que provocou a fúria de radicais islâmicos e voltou a direcioná-la aos países ocidentais.
Rompendo até com o governo saudita, que por meio do Rei Fahd o expulsou em 1991, Bin Laden passou a atuar clandestinamente na luta contra a presença ocidental na região.
O nome de Bin Laden surgiu pela primeira vez com força na mídia internacional em 1998, quando dois atentados ocorreram em embaixadas americanas no leste da África (Quênia e Tanzânia) em agosto. A mensagem era clara, contrária à presença de tropas americanas no Oriente Médio.
Duzentas e vinte e quatro pessoas morreram nas explosões, ocorridas em Nairobi, no Quênia, e Dar es-Salaam, na Tanzânia (12 eram americanas). Os radicais detidos foram acusados de estarem ligados a Bin Laden.
Estes atentados levantaram a suspeita de que Bin Laden estivesse por trás também do atentado em 26 de fevereiro de 1993, na garagem do World Trade Center em Nova York, quando seis pessoas morreram após explosão de um carro-bomba, em um prenúncio do 11 de setembro, mais de oito anos depois.
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