Angola: Empreendedorismo dribla a crise da pandemia de covid-19
Pequena empresa de chinelos decolou e está até exportando graças a abertura de novos canais de venda e uma melhor publicidade
Internacional|Mariana Ghirello, do R7
Quando a covid-19 chegou em Angola, na África, Marisol Ngunza quase entrou em desespero. A crise econômica gerada pelo novo coronavírus também afetou a família dela. Com o marido abatido pela queda na renda, ela precisou sustentar a família. Ela e a filha tinham apenas um negócio caseiro de chinelos.
Assim como em muitas partes do mundo, a Angola, um país com 30 milhões de habitantes, viu o número de desempregados crescer após a chegada da pandemia. Um golpe muito duro contra um país que vinha se reestruturando e se desenvolvendo após anos de conflito armado.
Atualmente, devido a baixa industrialização do país, tudo precisa ser importado, conforme conta Marisol. "É um país que não fabrica quase nada, importamos até uma agulha", explica. Além disso, também é dependente da importação do petróleo."
De acordo com o Banco Mundial, o país tem feito progressos econômicos e políticos desde o fim da guerra em 2002. Mas, segundo dados do Inquérito às Despesas e Rendimentos de 2018/2019 do Instituto Nacional de Estatística, o índice de pobreza é alto, 40,6%. Assim, um dos desafios é a redução da desigualdade.
Para fugir da crise, sem a opção de empregos formais, os angolanos vão trabalhar como ambulantes ou montar um pequeno negócio.
Continuidade nos negócios
Para Camila Silveira, diretora da Câmara de Comércio Brasil-Angola, a população do país africano possui um espírito muito empreendedor. "O angolano é muito empreendedor, é difícil ele trabalhar em apenas um local, eles sempre têm um trabalho fixo e um negócio. E as mulheres são mais ousadas neste quesito do que os homens", explica.
"Há 15 anos trabalho na Angola, fui convidada para montar uma feira multisetorial que era a primeira feira que ia ocorrer no país, tinha acabado a guerra e estavam todos muito focados em estruturar o país", relata Camila.
Foi quando percebeu que muitos negócios não ia adiante por falta de conhecimento em gestão de negócios e passou, então, a prestar consultoria para empreendedores angolanos. O início foi despretencioso, conforme ela relata, mas a ideia foi ganhando corpo, e hoje ela é convidada do governo para dar palestras.
"Em Luanda, a capital, as pessoas têm acesso à internet e formação, mas nas províncias eram mais carentes, com extremas necessidades. Eles queriam fazer coisas, mas não tinham formação alguma, por mais que conseguissem um negócio não tinham estrutura para continuar", destaca Camila.
Segundo Camila, como a produção industrial no país é pequena, tudo o que é fabricado vende bem e com menor preço. "A partir do momento que tenho uma fabricação local, os valores caem", ressalta.
"Dava para aguentar"
O que era difícil antes com a pandemia se tornou ainda mais complicado. "Atendia cerca de 500 pessoas por mês, e quando começou a pandemia passei a atender 200 pessoas por dia", reforça Camila. Uma delas, era Marisol.
"Eu fazia os chinelos e vendia, mas a minha empresa não tinha expressão", conta Marisol. Foi então que ela foi orientada a abrir a empresa formalmente, bem como páginas oficiais na internet e começar a vender também por aplicativos.
Além de melhorar a publicidade de seu produto, Camila orientou ela a expandir seu negócio para revendedores, e hoje ela ela tem representantes do seu produto em mais seis cidades da Angola e nos vizinhos Namíbia e África do Sul. Ela exporta ainda para Portugal, França, Itália, Egito, Líbano e Maurítania.
Este crescimento da empresa de Marisol só foi possível graças a digitalização da empresa. Já adiantado por entidades internacionais, é a digitalização dos negócios que poderia ajudar na recuperação da crise da covid. Camila leva a recomendação a sério e ajuda a outros empreenderores angolanos a ampliarem seus canais de vendas.
Para dar mais base para novos empreendedores, Camila Silveira montou também uma plataforma angolana de cursos sobre gestão, finanças, e outros temas relacionados para impulsionar os negócios. "A Angola foi um dos países que mais se estruturou nos últimos anos", completa.
"Antes eu trabalhava só com a minha filha, dava para aguentar, mas hoje já tem mais seis pessoas trabalhando comigo fixo, e quando tenho uma demanda maior, contrato mais pessoas por hora, fora os revendedores", comemora Marisol.