'Aqui tem um futuro para minha filha', diz venezuelana que fugiu da fome
Governo autoritário de esquerda de Nicolás Maduro força milhares de venezuelanos a fugir da miséria
Internacional|Por Fábio Menegatti
É debaixo de uma árvore de poucas folhas que Grécia arma uma pequena fogueira para cozinhar um prato típico do país de origem, a Venezuela. Acompanhada dos cinco filhos pequenos, ela prepara a arepa — um tipo de pão à base de milho e algum recheio —, e assim consegue manter viva um pouco da tradição da terra que foi obrigada a abandonar cerca de um ano atrás.
Aos 24 anos, Grécia Mejias está entre os milhares de imigrantes venezuelanos que têm cruzado a fronteira com o Brasil em busca de uma vida melhor. Fugindo das dificuldades extremas do regime de esquerda de Nicolás Maduro, a jovem mãe não encontrou outra opção fora da viagem arriscada ao país vizinho para, na sorte, conseguir um futuro melhor para a família.
Ela, que morava em casa própria, conta que não aguentou mais a desesperança, a falta de oportunidades e, principalmente, a dor da fome. “Não posso falar do governo da Venezuela porque nunca recebi nada de Maduro. Nunca recebi nada do governo”, diz ela.
Grécia não passa fome como já aconteceu antes, a arepa que ela faz para os filhos é uma espécie de aconchego de família, afinal, todos ali estão num dos oito abrigos da Operação Acolhida, do governo brasileiro. No que ela está, o Rondon 5, vivem hoje 872 pessoas.
Por dia, são oferecidas cerca de 2.500 refeições entre café da manhã, almoço e jantar. O Rondon 5 é a parte final de um processo que começa na cidade brasileira de Pacaraima, a principal porta de entrada dos venezuelanos no Brasil. Segundo as Forças Armadas, 500 imigrantes venezuelanos chegam ao Brasil por dia.
Quem está no Rondon 5 é preparado para a interiorização, ou seja, o deslocamento e a fixação em outra região brasileira. Há algumas formas para que isso aconteça, uma delas é para quem já chega atrás de um amigo ou parente que veio primeiro. Outra é para quem tem a perspectiva ou a proposta de uma vaga de trabalho em algum estado. Há também os que apenas pretendem trocar de abrigo e assim seguir para uma região diferente.
'Aqui tem futuro para minha filha'
Segundo a Acnur, agência da ONU para refugiados que atua na Operação Acolhida, todos os venezuelanos recebem assistência médica e vacinas para circular em território brasileiro. Algo que na Venezuela das últimas décadas está distante da rotina.
Entre os anos de 2015 e 2019, segundo o Unicef, mais de 254 mil venezuelanos entraram no Brasil. Grécia e os cinco filhos chegaram um pouco depois que essas contas foram feitas. Aqui, eles querem ter uma vida digna e, por que não, uma casa como um dia já tiveram. E que a arepa, hoje cozida no improviso, seja feita numa cozinha de verdade. “Aqui tem um futuro pra minha filha”, diz ela, com esperança de ver a filha crescer em um país com liberdade.