Argentina: especialistas refletem sobre impactos no Brasil após vitória de Milei no Congresso
Partido do presidente argentino foi o mais votado do país em eleições e ampliará sua bancada a partir de dezembro
Internacional|Bruna Pauxis, do R7, em Brasília
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A vitória do partido A Liberdade Avança, liderado pelo presidente Javier Milei, na Argentina, no último domingo (26), elevou significativamente o número de cadeiras da legenda no Congresso. O presidente obteve quase 41% dos votos nas eleições que renovaram a Câmara dos Deputados e um terço do Senado.
O pleito registrou o menor comparecimento popular desde o retorno da democracia em 1983, com 66% dos eleitores participando, apesar do voto obrigatório.
Foram renovadas 127 das 257 cadeiras da Câmara e 24 das 72 vagas do Senado, mudanças que refletem não só na política argentina, mas também em outros países, como o Brasil.
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O professor Adrián Albala, do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), explica que, com os resultados, o Congresso argentino deixa de contar com maioria favorável ao impeachment de Milei.
“Podemos esperar, sim, que ele apresente mais projetos de tipo DNU [decretos com força de lei], medidas provisórias que podem ter maior chance de aprovação do que antes. Mas nada é garantido”, afirma Albala.
Para o cientista político, a vitória de Milei também pode impactar a relação política entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, em razão de desavenças entre os presidentes argentino e brasileiro, e da satisfação expressa pelo presidente americano com o resultado eleitoral.
Mercosul, Brics e diferenças ideológicas
Liliane Castro dos Santos, presidente do Nexo Governamental XI de Agosto, acompanhou as eleições presencialmente e acrescenta que os resultados podem influenciar a dinâmica com o Brasil, sobretudo no uso de mecanismos de solução de controvérsias do Mercosul.
“A consolidação do governo Milei, com discurso centrado na soberania nacional e em políticas econômicas liberais, tende a impactar a cooperação regional em comércio, integração alfandegária e circulação de pessoas”, afirma Castro.
A especialista destaca o contraste ideológico entre a Argentina, de orientação liberal-conservadora, e o Brasil, com perfil progressista. A renovação de cadeiras no Congresso argentino com visões distintas das do Brasil pode provocar afastamento na atuação conjunta em organismos internacionais, como ONU (Organização das Nações Unidas), OMC (Organização Mundial do Comércio) e G20.
“Quando as pautas de cada governo mudam, a harmonia entre países de um mesmo bloco tende a se fragilizar. Isso se percebe nas agendas de Argentina e Brasil”, observa Castro.
Ruim para a América do Sul
Segundo a especialista, Lula defende um Estado atuante na redução de desigualdades e na integração Sul-Sul, enquanto Milei adota postura liberal e antissistêmica, criticando a intervenção estatal e questionando a utilidade de blocos econômicos.
“Esses posicionamentos distintos podem reduzir a influência conjunta, prejudicando a maioria dos países da América do Sul”, completa.
Sobre a decisão de Milei de não ingressar nos Brics, Castro afirma que os compromissos multilaterais já assumidos pelo país permanecem.
“Os Brics funcionam como mecanismo de cooperação política e econômica, e a relação com o Brasil mantém certa solidez.”
Contudo, a saída da Argentina do Mercosul representaria preocupação. “Negociações de subsídios e a livre circulação de bens e pessoas, já estabelecidas e em discussão na OMC, seriam certamente afetadas”, conclui a especialista.
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