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Argentina tem debate em meio à disputa acirrada entre Massa e Milei

Analistas dizem que debate será decisivo para eleitores indecisos em um cenário de empate técnico entre os dois candidatos

Internacional|Do R7

Milei e Massa participam de debate
Milei e Massa participam de debate

Os candidatos à Presidência da Argentina, o peronista Sergio Massa e o ultraliberal Javier Milei, se enfrentam neste domingo (12) no único debate antes do segundo turno de 19 de novembro. Com um cenário tão incerto, em que a disputa promete ser voto a voto, este será um debate essencial para atrair o eleitor indeciso, segundo analistas.

Milei reforçou que planeja terminar com o Banco Central local. "O banco central é o que gera a inflação", afirmou Milei, em resposta a Massa quando questionado sobre sua proposta de dolarização da economia argentina.

Educação e Saúde foram os temas do terceiro eixo temático, o tema em que os dois mais se distanciam. Milei defende que todos os serviços sejam privatizados e sejam distribuídos vouchers para quem não pode pagar. Massa, como peronista, é a favor de um Estado mais forte e que ofereça este serviços.

Milei apostou em apresentar números de pobreza, citando que milhares de crianças argentinas não terminam a escola. Já Massa apostou em acusar Milei de planejar fechar as universidades públicas argentinas - que são gratuitas. Quando questionou se o libertário vai fechá-las, ele respondeu: “No curto prazo, não”.


Cristina Kirchner e Mauricio Macri se tornaram foco no fim das discussões. Milei tenta colar em Massa a imagem de kirchnerista e, portanto, uma continuação do atual governo. Já Massa acusou Milei de se associar com o Juntos pela Mudança, coalizão de Macri, cujo partido declarou apoio ao libertário. “Hoje te abandonaram”, afirmou Massa, em alusão ao fato de que nem Macri nem Patricia Bullrich compareceram ao debate.

O eixo temático foi a relação da Argentina com o mundo. Massa abriu citando ter boas relações com Brasil e China, a visita do papa à Argentina e a reivindicação argentina das Ilhas Malvinas. Temas caros à Milei que já afirmou não dialogar com “comunistas”, como já classificou Lula e Xi Jinping. 


Milei chama Mercosul de “estorvo” ao tratar de comercializar com China e Brasil. O libertário diz que as afirmações feitas pela campanha de Massa de que ele vai cortar relações com estes países como falsas e defende que o próprio mercado regule estas relações.

“Brasil e China, vai manter relações ou não? Porque chamou de comunistas ambos os presidentes”, questionou Massa.


Milei respondeu que Alberto Fernández não tinha relações com o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Você pertence a um governo onde Alberto Fernández não falou com Bolsonaro, que problema tem se eu falar ou deixar de falar com Lula?”, questionou Milei. O que Massa rebateu dizendo que ele visitou o ex-presidente como ministro.

Campanha

Toda esta segunda fase das campanhas tem sido baseada no medo: a de Massa, o temor do que representa uma novidade política com ideias explosivas como o ultraliberal. Já Javier Milei tem explorado o medo do desastre econômico e social que representa a continuidade do peronismo na figura de Sergio Massa, ministro da Economia.

O destaque do segundo turno tem sido as peças publicitárias produzidas por marqueteiros brasileiros ligados ao PT, que associam uma vitória de Milei a armas e fim de direitos.

Massa aposta no medo de que Milei seja a anarquia completa e na instabilidade. Já Milei aposta no medo de que a Argentina continue no mesmo caminho que a pôs em uma crise econômica infinita e uma possível futura crise de segurança.

“O medo é a emoção que joga nessas eleições. São campanhas de medo versus medo. Há também uma esperança, e nesse sentido Milei desperta mais esperança em seu eleitorado do que Massa, mas definitivamente não é essa a emoção preponderante”, explica o cientista político Pablo Touzon.

“E são medos diferentes. Milei desperta o medo à anarquia, enquanto Massa desperta o medo à hegemonia. Massa é visto como um homem obcecado pelo poder. A questão é ver que medo se impõe mais”, completa.

As estratégias

Não à toa, Milei tem apostado em peças com o mote “liberdade ou kirchnerismo”. Ele absorveu o lema de “mudança” que trazia a coalizão Juntos pela Mudança, que agora apoia o libertário por meio das lideranças de Patricia Bullrich e Mauricio Macri contra a continuidade dos governos de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, esta última personagem ativa de seus programas. “Essa eleição é sobre se mudamos ou se mantemos no poder os mesmos que nos arruinaram a vida”, diz sua última peça de campanha.

Já Massa utiliza-se das próprias falas de Milei para produzir sua publicidade, citando a manutenção da saúde e educação públicas, “uma Argentina sem armas” e sem venda de órgãos. “Vem uma Argentina com o coração tão grande que jamais venderia seus órgãos”, diz o último spot. Em seu mote, sua Presidência seria uma estabilidade e “algo que se espera”, enquanto o adversário seria a surpresa desconhecida.

O peronista também tem apostado em utilizar as relações da Argentina com o Brasil, tanto em suas propagandas quanto em declarações à imprensa. Ele bate na tecla de que Milei pretende romper os laços, o que, em suas palavras, seria um desastre para os empregos na Argentina.

O ultraliberal não fala exatamente de romper relações, mas é a favor de não existir uma atuação do Estado nesse fluxo comercial; ele defende o diálogo direto dos empresários uns com os outros. As recentes declarações de Milei sobre Lula, quando o chamou de “comunista”, também viraram munição de campanha.

“O principal dilema para o eleitor é se Massa conseguirá ser presidente sem ter a tutela de Cristina [Kirchner], a exemplo do que vivemos nos últimos quatro anos, um presidente que precisa pedir permissão para tudo. Uma Presidência tutelada”, afirma o cientista político da Universidade Católica Argentina, Fabian Calle.

“Enquanto pelo lado de Milei, a preocupação é se ele vai conseguir governar, se vai conseguir controlar as ruas, enfrentar todos os setores, ou se vão querer derrubá-lo. Acho que isso preocupa muita gente indecisa, que no fim vai decidir essas eleições”, continua.

Na quarta-feira (8), ocorreu o debate entre os candidatos a vice-presidente: Agustin Rossi pela coalizão de Massa e Victoria Villarruel pela lista de Milei. Os dois subiram o tom em vários momentos, um clima que deve ser uma prévia do que ocorrerá neste domingo. A libertária focou expor os erros da gestão peronista, enquanto Rossi apostou na pauta dos direitos humanos.

O impacto dos debates

Historicamente, os debates não costumam mudar o humor do eleitor de forma contundente, segundo análises feitas pelo Observatório Pulsar da UBA. No caso dos primeiros turnos, eles ajudam a alavancar candidatos menores, como ocorreu com Juan Schiaretti e Myriam Bregman, que se tornaram mais conhecidos nacionalmente, e ajudam a traçar as linhas ideológicas em disputa.

Em um estudo conduzido em 2019, durante a disputa entre Mauricio Macri e Alberto Fernández, o observatório notou que os debates presidenciais serviram para motivar o eleitorado a conhecer as propostas dos candidatos e decidir ir votar, mas os impactos acabavam sendo marginais, com a maioria do eleitorado já decidido. Além disso, a disputa se concentrava em duas linhas tradicionais, o peronismo e o macrismo.

Mas agora, com o cenário de empate técnico entre os candidatos, o impacto tende a ser mais significativo. Os debates do primeiro turno já mostraram que esta eleição seria diferente e que a exposição televisiva poderia ter um papel maior. Em vez de duas linhas principais, havia três, com Patricia Bullrich também em jogo, e às vezes com a disputa do mesmo eleitorado.

“Em ambientes mais disputados, é mais provável que as mudanças de preferências gerem impacto nas posições dos candidatos”, explicou Facundo Cruz, coordenador geral do Observatório Pulsar.

Agora, a expectativa é que a audiência seja recorde, superando a anterior. “Acredito que vai ser um debate importante. O anterior teve muita audiência, mais de 4 milhões de pessoas, alguns falam em até 5 milhões. Esse com certeza vai ser igual ou maior, e, em uma eleição tão disputada como essa, até decisivo”, afirma Calle. “Em geral, os debates não movem muito o amperímetro na Argentina, mas, frente à séria dúvida que tem a população, uma porcentagem pequena, mas decisiva, pode afetar, sim.”

As últimas pesquisas de intenção de votos consolidam um cenário de empate técnico entre os candidatos, com Milei liderando a maioria deles. Em praticamente todos os cenários, cujas diferenças variam de 2 a 4 pontos percentuais, a disputa será voto a voto, e a decisão caberá a quem está indeciso e deixou para escolher no último minuto.

O site La Politica Online, que faz um agrupamento das pesquisas eleitorais e tira uma média delas, mostra que Sergio Massa possui uma média de votos de 43%, com seu mínimo variando de 36,46% a 49,49%. Já Milei tem em média 43,8% das intenções de voto, com uma variação de 35,48% a 52,14%.

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