Auxílio dos Estados Unidos à Ucrânia desde o início da guerra chega a R$ 370 bilhões
Maior parte desses recursos foi ajuda militar, incluindo equipamentos, armas e treinamento de pessoal
Internacional|Do R7
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, o governo Biden já enviou mais de US$ 75 bilhões (cerca de R$ 370 bilhões) em dinheiro vivo e equipamentos para que o país possa se defender, sendo que boa parte dessa quantia vai para as operações militares, a manutenção da máquina governamental e o suprimento das necessidades humanitárias.
Sem esse auxílio, a Ucrânia estaria, na melhor das hipóteses, em dificuldades para se defender — e poderia inclusive entrar em colapso. Entretanto, o futuro dessa ajuda está em risco, e é por isso que Volodmir Zelensky visitou Washington.
Segundo Joe Biden, a Ucrânia precisa de uma injeção mais robusta que só o Congresso pode aprovar, mas muitos republicanos são contra o envio do dinheiro do contribuinte a um conflito em terras distantes — e, em troca de apoio, insistem que o presidente faça concessões sobre um tópico completamente desvinculado, o da questão da segurança de fronteira.
Aqui segue um resumo da ajuda já enviada pelos EUA à Ucrânia e do debate político que pode decidir seu futuro.
1. Que tipo de auxílio militar os EUA já enviaram à Ucrânia?
Segundo o Instituto Kiel para a Economia Mundial, já foram mais de US$ 44 bilhões desde o início da guerra, o que supera o volume dos outros quatro principais contribuidores — Alemanha, Reino Unido, Noruega e Dinamarca — juntos.
Apesar disso, o governo Biden continua se mostrando cauteloso em relação ao fornecimento de armas, temendo que isso concorra para o agravamento do conflito com Vladimir Putin.
Primeiro com os sistemas de defesa antiaérea Stinger e os mísseis antitanque Javelin, e depois com os lançadores de foguetes múltiplos, os Himars, e as baterias antimísseis Patriot, o fato é que o armamento enviado às linhas de frente começou a se sofisticar já em 2022. Além disso, o Pentágono também enviou mais de 2 milhões de cartuchos de artilharia de 155 mm, munição básica dessa guerra.
O governo federal enviou suas últimas reservas de sistemas bélicos cruciais — como os mísseis de longo alcance, ou os chamados Atacms, que os ucranianos usaram em outubro para atingir uma base de helicópteros.
A Casa Branca também concordou em despachar tanques Abrams, além de permitir que os aliados ocidentais enviem caças F-16, de sua fabricação, embora as 31 unidades do primeiro ainda não tenham entrado em combate e os pilotos ucranianos continuem em treinamento para pilotar o segundo, só devendo assumir missões de combate no ano que vem.
2. Que outro tipo de ajuda os EUA enviaram?
Quase 40% do volume total se destina a finalidades não militares, incluindo principalmente as necessidades humanitárias, como abrigo para os refugiados e suporte econômico direto para a manutenção do funcionamento do governo.
Desde janeiro de 2022, o volume dessa assistência financeira já chega a US$ 26,4 bilhões, e inclui suporte orçamentário direto. Com a economia prejudicada, a Ucrânia depende do auxílio externo para manter o funcionamento de serviços básicos como escolas, hospitais e corpos de bombeiros. De acordo com o Conselho de Relações Exteriores, também foram enviados US$ 2,7 bilhões em auxílio alimentar emergencial, assistência médica e apoio aos refugiados.
O Instituto Kiel mostra que, embora os EUA sejam, de longe, o principal apoiador militar da Ucrânia, em nível financeiro a União Europeia ganha disparado, com US$ 79,1 bilhões, com a Alemanha sozinha arcando com um suporte humanitário semelhante ao de Washington: US$ 2,6 bilhões.
3. Os EUA enviarão mais ajuda?
Alguns republicanos alegam que o país não deveria colocar quantias astronômicas em um conflito estrangeiro quando há necessidades não supridas em território nacional, com muitos mencionando o grande número de imigrantes na fronteira com o México.
Donald Trump criticou o auxílio à Ucrânia, afirmando em julho que Biden estava "negligenciando interesses vitais dos norte-americanos", ao mesmo tempo que "age de forma perigosa e desnecessária, ameaçando levar o país à Terceira Guerra Mundial" com a Rússia.
Em participação no programa State of the Union, da CNN americana, em 10 de dezembro, o senador J.D. Vance, republicano por Ohio, classificou de "ridícula" a ideia de que a Ucrânia possa expulsar completamente os russos de seu território, afirmando que mais "cheques em branco" fornecidos pelos EUA não vão mudar a situação. "Como US$ 61 bilhões vão mudar alguma coisa se US$ 100 bilhões até agora não tiveram esse poder?", questionou.
E o novo presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, já afirmou que qualquer pacote de auxílio estará atrelado às medidas rígidas de segurança na fronteira com as quais os democratas não concordam.
Até os mais radicais, que já criticaram o presidente por não fazer mais pela Ucrânia, agora dizem que qualquer auxílio àquele país deve estar vinculado à questão imigratória.
"Não votarei pela aprovação de nova remessa enquanto não solucionarmos o problema na nossa fronteira. Só vou ajudar os ucranianos depois de ajudar nosso país", declarou o senador Lindsey Graham à CNN neste mês. Em tempo: o senador republicano pela Carolina do Sul é um dos principais defensores do envio de auxílio à Ucrânia no Congresso.
4. Qual a reação de Biden?
Em discurso perante o Congresso, em 6 de dezembro, para pedir que a Casa aprovasse um novo pacote assistencial, Biden definiu o apoio como "imprescindível à segurança nacional".
"Não dá para esperar", comentou ele na Casa Branca horas antes da votação do pacote de US$ 111 bilhões, que representaria US$ 50 bilhões para reforçar a segurança, a economia e a ajuda humanitária à Ucrânia, e outros US$ 14 bilhões em armamentos para Israel, em guerra contra o Hamas.
Segundo o presidente, os norte-americanos deveriam ter orgulho de poder ajudar os ucranianos há quase dois anos, minando os planos de ocupação de Putin. Mesmo antes de a verba adicional ser rejeitada, ele disse que era "inacreditável que tenhamos chegado a isso", e acusou os republicanos no Congresso de "estarem dispostos a dar a Putin o maior presente que ele poderia desejar".
Para completar, declarou estar preparado para fazer "compromissos consideráveis" em relação às restrições fronteiriças, a principal exigência republicana.
5. Os EUA pararam de enviar armamento à Ucrânia?
Vários membros do governo já disseram que até o fim do ano os EUA não terão mais verba para envio, a menos que o Congresso aprove uma nova remessa.
Entretanto, é pouco provável que isso se aplique ao Pentágono, pois o Departamento de Defesa continua mandando de US$ 100 milhões a US$ 175 milhões em armas, munição e equipamento a cada aproximadamente dez dias.
O setor foi forçado a reduzir o volume dos carregamentos para fazer com que os US$ 4,8 bilhões restantes em seu poder durem mais, mas, segundo os cálculos de alguns, há somente US$ 1,1 bilhão para fazer a reposição dos estoques.
Por outro lado, membros do Pentágono garantem poder esticar as remessas ao longo do inverno, quando o ritmo dos combates tende a diminuir. E ainda há bilhões de dólares em pedidos de novas armas e equipamentos que serão entregues diretamente pelos fabricantes ao longo dos próximos meses.
De qualquer forma, a incerteza em relação ao envio de auxílio suplementar pelos EUA e à capacidade de os aliados europeus arcarem com essa despesa causa transtornos no planejamento ucraniano, cujos comandantes afirmam já ter dado ordens de racionamento de munição.