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Avanço da extrema-direita deixa judeus da Itália em alerta

Membros da comunidade judaica temem que a retomada do antissemitismo volte a ser um incômodo a ponto de impedir a vida em alguns países

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Veneza era outra cidade que tinha gueto
Veneza era outra cidade que tinha gueto

Em um momento em que a intolerância volta a rondar a Europa, membros da comunidade judaica temem que a retomada do antissemitismo volte a ser um incômodo a ponto de impedir a vida em alguns países. Um deles é a Itália, cuja comunidade não se esquece do fatídico dia 16 de outubro de 1943.

Na ocasião, conforme informa a Euronews, em série de artigos sobre a intolerância, durante a ocupação de Roma pelos alemães, os alemães reuniram os judeus da cidade, moradores ou não do gueto, e os deportou para o campo de concentração de Auschwitz. Eram mais de mil pessoas e apenas 16 retornaram. Veneza era outra cidade italiana que tinha gueto.

Doceira húngara se tornou símbolo na luta contra a intolerância

Neste contexto, em que as crises econômicas dão brecha para o surgimento do discurso de ódio, a comunidade judaica está atenta. Ativa, mantém a memória da repressão contra os judeus com filmes, livros, palestras. Para evitar que o esquecimento e o passado sejam repetidos, conforme afirma a reportagem da publicação europeia.


O episódio em Roma ilustra bem a forma com que o antissemitismo se espalhou na Europa, intensificando-se ainda mais naqueles anos 30 e 40. Na Alemanha, a famosa Noite de Cristais, que no próximo dia 9 completará 80 anos, foi a porta que, na prática, destravou de vez a sanha nazista em proclamar seus mais vis sentimentos, abjetamente legitimados.

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A essência da macabra reunião de Roma e a violenta Noite dos Cristais (1938), quando lojas e estabelecimentos de proprietários judeus foram destruídos, é a mesma. E pode estar voltando aqui e ali, em atos ainda isolados, mas que não só assustam mas deixam os defensores dos direitos humanos incrédulos.


Como é que ainda há brechas no vazio do ser humano para que aquele horror se manifeste, ainda que de forma fracionada? É a pergunta que se fazem. Claudio Procaccia, responsável pelos eventos culturais da comunidade judaica romana, admite a possibilidade de o racismo ou a perseguição a grupos retornar.

"O risco existe porque é algo que está no ser humano, algo que é historicamente certificado. E assim, durante o período da crise, que não é apenas econômica, é uma crise de valores, a partir do qual a crise econômica, obviamente, o fenômeno destrava e até mesmo aumenta exponencialmente."


Ruth Dureghello, presidente da comunidade judaica romana, destaca a permanente busca do "bode expiatório" que possa ser alvo de todas as projeções de angústia e frustração, sejam eles judeus ou de outras comunidades do mundo.

"O 'inimigo' muda, cada vez há um novo inimigo para atacar, insultar. Nós somos os " diferentes", por isso fomos e às vezes somos vítimas desse ódio. Mas temos que neutralizar esse ódio, não importa quem seja a vítima, pode ser um cigano, um gay ou uma pessoa com deficiência, como já aconteceu. A diferença é uma desculpa para perseguir uma pessoa."

Proteção de Israel

Mas os judeus, conforme lembra o artigo, criaram uma rede de proteção maior, a partir da criação do Estado de Israel. Outros grupos, porém, se ressentem da mesma intolerância, e necessitam que ela seja combatida de forma tão contundente quanto o antissemitismo, já que são originários da mesma fonte de insensatez. O artigo ressalta isso.

E afirma que, além do novo antissemitismo na França, o projeto busca analisar e denunciar a islamofobia na Áustria, a propaganda e o medo dos outros na Hungria e entender o porquê do crescimento da extrema-direita em toda a Europa.

"É importante que nunca nos esqueçamos, mas também a vemos como uma oportunidade para explorar o antissemitismo, o racismo, a islamofobia de hoje e a ascensão da extrema direita em toda a Europa."

Quem mais clama por isso são, além dos que têm empatia, os que vivenciaram na pele e na alma este drama. Enrico di Veroli, 85 anos, lembra daquele dia em que os judeus foram explusos de Roma.

"Eu estava aqui, vi a deportação de minha irmã, meu cunhado e seus dois filhos."

Perguntado, ele não sabe dizer se algo semelhante pode acontecer novamente.

"Eu não sei, agora temos o Estado de Israel que pode nos proteger."

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