Batalha de Verdun ajudou a unir o povo francês na Primeira Guerra
Os combates foram sangrentos, com 700 mil mortos, e determinantes para a derrocada alemã na Primeira Guerra, dois anos depois
Internacional|Eugênio Goussinsky, do R7
O mais longo, e possivelmente o mais decisivo, combate da Primeira Guerra Mundial foi a Batalha de Verdun, que durou de 21 de fevereiro a 18 de dezembro de 2016. Em uma série de disputas inicialmente vencidas pela Alemanha, a França terminou vitoriosa em seu próprio território, nesta batalha na cidade de Verdun-sur-Meuse (noroeste francês), que causou a morte de cerca de 700 mil pessoas.
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O grande número de mortos se deveu em grande parte ao tipo de armas utilizadas, como o lança-chamas e dispositivos com gás venenoso. A batalha já começou mostrando como seriam cruéis os meses seguintes.
Conforme diz o professor de História Milton Fernandes Filho, apesar de avanços importantes no ano de 1914, os alemães iriam perder velocidade em seu ímpeto e após a 1ª Batalha do Marne a guerra ingressará na degradante e estática fase das trincheiras. E os alemães, segundo ele, optaram por uma tática desesperada.
— Bloqueado, o exército alemão opta por desenvolver uma tática que buscava provocar, através de ataques maciços o maior número de baixas possível ao lado francês e atacar as fortalezas de Verdun foi uma espécie de armadilha que visava atrair os franceses para a resistência e a morte. Cenário tétrico que de certa forma se realizou.
Artilharia pesada
Com uma artilharia-pesada, os alemães atacaram deixando um rastro de destruição e em meio a um barulho ensurdecedor, que o escritor Ernst Junger denominou como "Tempestade de Aço."
A ideia do comandante alemão Erich von Falkenhayn era ferir de morte o Exército francês, com estocadas agressivas e intermitentes. O que dificultou a vitória alemã foi um erro estratégico, pois o local não é apropriado para esse tipo de combate.
Trata-se de uma região acidentada, contornada pelo Rio Mosa e, mesmo se vencida pelos alemães, estes teriam dificuldade de chegar a Paris, distante 250 km.
Para os franceses, porém, lutar contra os alemães era o mais importante, não importante onde. O país estava com sede de vingança por ter perdido a região da Alsácia e Lorena, na Guerra Franco-Prussiana de 1870.
Foi com esse ímpeto que o general Philippe Petain (que viria a ser governante a serviço dos nazistas na República de Vichy, na Segunda Guerra) mobilizou as tropas e chegou a ter à disposição 70% dos soldados franceses que combatiam na guerra.
Se a ideia alemã era atrair esse contingente, foi justamente ele, por ser numeroso e estar determinado, que venceu a batalha. Um episódio que em vez de fragmentar, uniu ainda mais os franceses, e tirou um ímpeto de vitória alemão. Dois anos depois, a TrípliceEntente venceu a Primeira Guerra.
Para a eternidade
Mas o rastro de destruição ficou pela eternidade, como diz Fernandes Filho.
— Alguns autores falam em 700 mil mas talvez possa chegar a 1 milhão o número de baixas nesta batalha, a mais longa da 1ª guerra e a segunda mais sangrenta (menos assassina apenas que a batalha do Somme). Exemplo gritante do extremo horror que a humanidade é capaz de fazer a si mesma.
Fernandes Filho afirma que, décadas após o término da Segunda Guerra, França e Alemanha entraram em um processo de convivência pacífica, buscando colocar fim às rivalidades da Guerra Franco-Prussiana e de conflitos sangrentos como o de Verdun, dentro de um contexto que deu solidez à União Europeia.
— Na década de 1980 os líderes, François Mitterand e Helmut Kohl, encontraram-se em Verdun e cumprimentaram-se em gesto de grande teor simbólico exatamente no local onde a rivalidade provocou uma das maiores carnificinas da história. Alguns anos depois, a ONU através de seu secretário-geral da época, Javier Perez de Cuellar, instalou naquela localidade um memorial com diferenciada programação e acervo, batizado como ‘ Centro Mundial da Paz e dos Direitos do Homem’.
Em 2016, o então presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, participaram juntos do evento que lembrou o centenário da batalha. Durante uma semana, até o sábado, 10 de novembro, o atual presidente francês, Emmanuel Macron viajará para o leste e norte da França, inclusive para Verdun. Para o professor Fernandes Filho, tais gestos são emblemáticos. E necessários.
— São homenagens aos milhares de mortos e destinados a manter viva a memória e a consciência a respeito dos horrores e absurdos de que são feitas as guerras.