Bergamo, foco da pandemia na Itália, trabalha para fechar 'ferida'
Cidade era conhecida pela arquitetura renascentista antes, e agora luta para se reconstruir e tratar os 12 mil casos ainda ativos de coronavírus
Internacional|Do R7
Depois de meses ajudando seu município a atravessar um dos piores surtos de coronavírus da Europa, Giorgio Gori, prefeito da cidade de Bergamo, no norte da Itália, diz que o pior da crise de saúde pode ter passado, mas o novo desafio da reconstrução está só começando.
Mais conhecida outrora por sua arquitetura renascentista ou sua cidade velha histórica, situada em uma colina que dá vista para a metrópole moderna, Bergamo logo se viu naquilo que Gori descreveu como o epicentro de um terremoto.
Depois que o primeiro caso de coronavírus veio à tona, no final de fevereiro, os hospitais ficaram sobrecarregados rapidamente. Como os necrotérios não conseguiam dar conta do serviço, comboios de caminhões refrigerados transportando os mortos se tornaram um símbolo arrepiante da pandemia global.
"Foi muito sofrido durante muitas semanas em março e abril", disse Gori à Reuters em seu escritório no neoclássico Palazzo Frizzoni.
Mudança enorme
Como ainda há mais de 12 mil casos ainda em tratamento na província ao redor de Bergamo, ele disse que a crise não passou, mas acrescentou: "Entre aquele momento e agora, houve uma mudança enorme".
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O índice de novas infecções diminuiu, e a cidade está começando a redespertar da hibernação forçada a que foi submetida no começo de março, quando a Lombardia, que responde por cerca de metade das 30 mil mortes de coronavírus na Itália, entrou em isolamento.
Roberto Cosentini, chefe do pronto-socorro do Hospital Papa Giovanni, lembrou a "sensação assustadora" de ver pacientes chegando todos os dias, mas disse que os médicos aprenderam e se adaptaram.
Mas, como outros, ele está muito ciente de que a recuperação é frágil. "Estamos cansados. Temo que uma segunda onda seria muito mais dura para nós do que a primeira em termos de saúde mental".
Choque econômico
Além do medo de a epidemia ressurgir, as autoridades precisam lidar com o choque econômico provocado por semanas de inatividade.
"O alerta de saúde está recuando, mas o alerta social está crescendo", disse Gori. Mesmo em Bergamo, cidade próspera de uma das áreas mais ricas da Europa, o impacto é devastador.
"Acredito que uma ferida muito profunda ficará conosco. Ela nos atingiu a todos e entrou em nossos lares", disse Bruno Bonassi, vice-editor do jornal regional L'Eco di Bergamo, cujas páginas adicionais de obituários foram outro símbolo contundente da crise – tais anúncios saltaram de menos de 20 para mais de 90 por dia e tiveram picos de 110 a 116 em alguns dias de março.