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Boeing enfrenta familiares das 346 vítimas dos acidentes com modelo 737 Max na Justiça dos EUA

Acordo previa o pagamento de US$ 2,5 bilhões em multas e indenizações e desistência da ação se a empresa cumprir certas condições

Internacional|Do R7, com AFP

Na época, acidentes provocaram uma paralisação do uso do Boeing 737 Max
Na época, acidentes provocaram uma paralisação do uso do Boeing 737 Max

A Boeing comparece a um tribunal nos Estados Unidos nesta quinta-feira (26) para confrontar os familiares dos passageiros mortos nos acidentes envolvendo dois 737 MAX, que pedem a revisão de um acordo entre a fabricante de aeronaves e o governo norte-americano.

Nesta audiência em Fort Worth, Texas, um representante da Boeing deve se declarar culpado ou inocente das acusações contra o fabricante de aeronaves por seu papel nos acidentes da Lion Air em 2018 e na Ethiopian Airlines em 2019, que deixaram 346 mortos.

Em seguida, os familiares das vítimas tomarão a palavra para defender sua causa.

O Departamento de Justiça dos EUA chegou a um acordo com a Boeing em janeiro de 2021, acusando-a de ter enganado o regulador da aviação no processo de autorização do MCAS, sistema-chave do avião, que seria o culpado pelo acidente, mas, ao mesmo tempo, concedendo-lhe alguma imunidade.


O chamado Acordo Diferenciado de Acusação (DPA, na sigla em inglês), que previa o pagamento de US$ 2,5 bilhões em multas e indenizações, prevê que o departamento desista do processo após três anos se a empresa cumprir certas condições.

No entanto, os familiares das vítimas afirmam não terem sido consultados e pediram a um juiz do Texas, no final de 2021, a anulação do acordo, que consideram muito complacente com a Boeing.


O magistrado encarregado pelo caso, Reed O'Connor, reconheceu em outubro passado que as famílias poderiam ser consideradas "vítimas de um crime" e, portanto, tinham direito a serem ouvidas. Na semana passada, ele convocou a Boeing para uma audiência.

"Tratamento favorável"

Os familiares querem que o juiz revisse o acordo, em particular para impor um auditor independente à empresa, de acordo com um documento adicionado ao dossiê na última quarta-feira (25) em que estimam que a Boeing "cometeu o crime mais mortal já cometido por uma empresa na história dos Estados Unidos".


"Acreditamos que a Boeing recebeu um tratamento favorável", disse à AFP o advogado das vítimas, Paul Cassell. "Este é um caso envolvendo a morte de 346 pessoas. Por que você não iria querer uma equipe independente para garantir que o comportamento criminoso não volte a acontecer?", questionou.

A Boeing e o Departamento de Justiça dos EUA se opõem à reabertura do acordo. Na acusação, o departamento culpou dois funcionários da Boeing, mas não implicou a administração.

Os promotores também disseram que não havia necessidade de nomear um auditor independente porque o crime "não foi generalizado" ou "facilitado por altos funcionários".

Em apoio às acusações feitas pelos familiares das vítimas, a autoridade dos mercados financeiros dos EUA censurou a empresa e seu então CEO, Dennis Muilenburg, em setembro por terem emitido várias mensagens afirmando, após os dois acidentes fatais, que o 737 MAX não representam um risco, embora saibam que o sistema MCAS é um problema.

Sem reconhecer ou negar as conclusões da autoridade, a Boeing concordou em pagar US$ 200 milhões.

Não está claro se o magistrado concordará com as demandas dos familiares.

"O juiz pode anular o DPA, mas acho improvável", disse John Coffee, professor da Universidade de Columbia, que vê o acordo como revelador da tendência das autoridades de não querer atacar demais as grandes empresas.

Questionado na quarta-feira pela CNBC, o presidente da Boeing, Dave Calhoun, se recusou a comentar o mérito do caso. Mas considerou normal que as famílias aproveitem qualquer ocasião para partilhar as suas desgraças. "Isso lembra [....] o quão importante é a segurança", finalizou.

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