Boris Johnson representa 'americanização' da política britânica

Os britânicos, mundialmente conhecidos por sua seriedade e postura, serão governados a partir desta quarta-feira (24) pelo conservador de modos pouco ortodoxos Boris Johnson. A chegada de uma figura de certa forma caricata ao segundo cargo mais importante do Reino Unido representa uma mudança na sóbria política britânica.

Johnson toma posse do cargo de premiê na esteira de uma longa crise iniciada com o plebiscito sobre a saída do país da União Europeia e chegou a renúncia de Theresa May. Uma crise que, mais que política, envolve a identidade do Reino Unido.

Para Sidney Ferreira Leite, especialista em Relações Internacionais e Pró-reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, ter Boris Johnson no cargo de premiê do Reino Unido representa uma americanização da política britânica. “Johnson foge do parâmetro tradicional do que seria um conservador britânico”, afirma.

Boris, o nova-iorquino

Boris Johnson seguiu uma carreira tradicional na política até chegar ao cargo que sempre almejou. Foi eleito e reeleito prefeito de Londres e também ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, mas uma coisa o torna diferente no parlamento: Boris Johnson nasceu em Nova York, nos EUA.

Apesar de educado na Inglaterra e ter seguido uma carreira britânica na política, é possível identificar traços da cultura política norte-americana em sua trajetória. Por exemplo, aproveitar a exposição midiática sempre que possível, da preparação de Londres para as Olimpíadas de 2012 a passeios populares nas viagens como ministro das Relações Exteriores.

Agora, é possível também apontar uma forte identificação política com o presidente dos EUA, Donald Trump.

Assim como Trump, Johnson ostenta um cabelo louro que insiste em estar sempre descabelado e polêmicas em sua carreira política. O ex-prefeito de Londres já foi acusado de fazer declarações racistas, além de assumir um perfil espalhafatoso incomum em meio aos britânicos.

“É muito comum o Boris mudar de ideia. Ele é um político muito contraditório”, diz Leite.

Johnson e o Brexit

Agora, Johnson está a ponto de encarar um desafio que custou o cargo dos últimos dois premiês do país: o Brexit – acordo de saída do Reino Unido da União Européia – mas desta vez, é pouco provável que ele possa se contradizer como defensor de uma saída traumática do bloco europeu.

Boris Johnson fez toda a sua campanha para o cargo de primeiro-ministro baseado em uma saída sem acordos, então segundo Leite, uma mudança de opinião sobre o assunto que o fez chegar ao cargo significaria o enfraquecimento de sua posição no Partido Conservador britânico.

*Estagiária do R7 sob supervisão de Cristina Charão