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Brasileiros relatam dificuldades para voltar da Austrália por covid-19

Dos 5.500 brasileiros que ainda precisam ser repatriados, 471 estão retidos no Austrália, de acordo com o Itamaraty. Conheça a história de três deles

Internacional|Giuliana Saringer, do R7

Ingrid está na Austrália há sete meses
Ingrid está na Austrália há sete meses

A consultora de eventos Ingrid Targino Anjos viajou quase 14 mil quilômetros para realizar o sonho de estudar inglês em Gold Coast, na Austrália, e foi a primeira da família a morar tanto tempo fora do Brasil. Ingrid está há sete meses do outro lado do mundo e, por causa da pandemia do coronavírus, é uma das brasileiras que enfrenta dificuldades para voltar para casa.

Ingrid comprou uma passagem aérea para o dia 22 de abril deste ano, mas, um mês antes do embarque, recebeu a informação de que o voo havia sido cancelado. Com visto de estudante prestes a vencer, Ingrid está com a passagem remarcada para o começo de maio, mas não sabe se vai conseguir voltar para casa.

“A sensação é de abandono, porque você está aqui de mãos atadas. Eu ainda estou conseguindo pagar o aluguel, mas tenho amigos que já vão começar a passar perrengue. Se eu não voltar em maio, eu não sei como eu me sustento aqui, porque a vida na Austrália é cara”, afirma.

Para tentar se manter de forma legalizada no país, solicitou um visto de turista, que custa US$ 365. “Eu não posso ficar ilegal, mas também não posso renovar para o visto de estudante, porque eu não teria dinheiro para isso, eu teria que comprar outro curso”, explica.


Ao entrar em contato com o consulado para conseguir ser encaixada em um voo de resgate, Ingrid disse que foi inserida na lista, mas informada de que os turistas são as prioridades nestes voos. Apesar de estar com a passagem comprada, a companhia aérea deixou claro que o voo pode ser cancelado novamente, devido à pandemia.

Sonho suspenso

O arquiteto brasileiro Sidnei Alves se planejou por um ano e oito meses para realizar o sonho de morar na Austrália e vive há três meses na cidade de Sydney. No entanto, precisou interromper a nova vida devido a pandemia. O arquiteto, assim como Ingrid, está tentando voltar para casa, mas já teve o voo cancelado três vezes.


“Eu optei por voltar para o Brasil pelo menos até passar tudo isso, só que no momento está bem complicado para achar voos”, afirma, contando que tem a volta marcada para maio, mas sem a certeza de que vai conseguir embarcar. 

Para Sidnei, será mais fácil enfrentar a pandemia ao lado da família no Brasil. “Por mais que é difícil no Brasil, a gente está em casa, com a família, dá para aguentar mais tempo. Aqui a gente está fora de casa, tem que pagar aluguel, tem os gastos e tudo se torna caro. Como eu estou usando meu dinheiro do Brasil, acaba indo muito rápido”, conta o arquiteto, que perdeu o emprego devido à pandemia. 


Atualmente, a moeda usada na Austrália é o dólar australiano, que nesta sexta-feira (10) era cotado a R$ 3,24. 

Viagem a turismo

A microempreendedora Eliane Rodrigues mora em São Paulo e viajou para Perth, na Austrália, em 29 de fevereiro para visitar a irmã, que mora na cidade. O retorno para o Brasil estava marcado para 24 de março, mas, devido ao coronavírus, teve o voo cancelado pela companhia aérea.

Desde então, Eliane tem enfrentado problemas em pedir o reembolso da passagem para custear uma nova. A empresa afirmou que, já que o cancelamento não aconteceu por responsabilidade deles, os valores não poderiam ser reembolsados. A solução foi remarcar a volta para 1º de maio, sem saber se conseguirá de fato embarcar.

“A maior questão é que hoje estou na Austrália, não tenho condições de me sustentar aqui por tanto tempo, estou dependendo da minha irmã e de alguns amigos dela, porém ela também, como todos, está tendo que se adaptar à crise. Eu sou microempreendedora, meus recursos são bem limitados e me programei para 30 dias não 63”, afirma.

Eliane entrou em contato com o consulado e a embaixada brasileira e foi informada que estes órgãos estão tentando repatriar mais de 300 brasileiros na Austrália. “Porém a informação que tenho é que não tem data pra acontecer e quando autorizado o voo de repatriação partirá de Sydney e que eu terei que arcar com os custos para chegar até lá”, afirma. Perth fica a quase 4 mil quilômetros de Sydney.

Eliane sente uma mistura de arrependimento por ter ido viajar e saudade de casa. "Por mais que no Brasil também estaria em quarentena, lá poderia estar cuidando das minhas coisas, no meu ambiente e junto com meu marido tentando nos reinventar na nossa empresa, como todos estão fazendo, mas não consigo ajudá-lo com toda essa diferença de fuso horário e nesta distância", afirma.

A empresária se diz frustrada, tanto com a companhia aérea como com o governo brasileiro. "Apesar de nascida , criada e residente do Brasil à 46 anos, me sinto menos brasileira que muitos outros, me sinto definitivamente frustrada com a situação e principalmente com o 'apoio' que temos recebido", diz.

Itamaraty

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil criou um Grupo Consular de Crise e disponibilizou um formulário para identificar os brasileiros que estão no exterior tentando voltar para casa.

São solicitadas informações como nome, descrição da situação e endereço onde a pessoa está. 

Veja os números de contato para assistência aos brasileiros:

América do Sul: +55 (61) 9826 00 767

América do Norte, Central e Caribe: + 55 (61) 9826 00 610

Europa: + 55 (61) 9826 00 787

África e Oriente Médio: + 55 (61) 9826 00 568

Ásia e Oceania: + 55 (61) 9826 00 613

Nesta sexta-feira (10), o Itamaraty informou que, desde o início da crise da covid-19, conseguiu remarcar as passagens de 270 brasileiros na Austrália. Segundo a embaixada do Brasil em Sydney, “o Consulado em Sydney e a Embaixada em Camberra estão trabalhando em busca de uma solução coletiva dos casos de passageiros retidos (voos cancelados março/abril) e de quem não consegue antecipar ou não conseguiu comprar suas passagens”.

Até quinta-feira (9), mais de 11.900 brasileiros haviam sido repatriados. De um total de 5.500 brasileiros que ainda estão fora do país, 471 estão retidos na Austrália.

O Itamaraty afirmou ainda que "Embaixadas e Consulados ao redor do mundo estão em negociações constantes para conseguir superar obstáculos como o fechamento do espaço aéreo, a proibição do trânsito interno e restrições severas de movimentação dentro das cidades. O MRE também está contratando voos fretados que permitam o retorno dos brasileiros retidos em países com absoluta interrupção dos voos comerciais."

Aéreas que voam para Austrália

As companhias Qantas e Jetstar suspenderam todos os voos internacionais da Austrália até pelo menos o dia 31 de maio deste ano.

Os voos cancelados estão sendo transformados em créditos que podem ser usados em voos na companhia quando a situação se normalizar ou estão devolvendo o dinheiro àqueles que querem viajar antes de maio.

Os brasileiros com voos contratados via sites ou agência precisam entrar em contato com estas instituições.

A Latam cancelou todos os voos internacionais até o dia 30 de abril. Segundo a companhia, “os voos especiais internacionais serão avaliados durante esse período de acordo com as necessidades e estão sujeitos a aprovação”.

A Emirates Airline, que também opera rotas na Austrália, conseguiu autorização para transportar passageiros dos Emirados Árabes Unidos para alguns destinos a partir de 6 de abril. "Atualmente, há voos de Dubai para Zurique e Bruxelas (até 11 de abril), Paris (até 12 de abril) e Londres Heathrow, Frankfurt (até 19 de abril)", diz a companhia.

Até o final da tarde deste sábado, havia 6.303 casos confirmados de covid-19 no país e 57 mortes, de acordo com levantamento da Johns Hopkins University.

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