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Brasileiros vítimas de homofobia em Lisboa: 'Na rua, nos pedem perdão'

Casal de brasileiros estava em um dos principais pontos turísticos da capital de Portugal quando foi perseguido e agredido por um grupo de traficantes

Internacional|Carolina Vilela, do R7*

Fabio Liebl (e) e Victor Drummond na TV portuguesa após a agressão
Fabio Liebl (e) e Victor Drummond na TV portuguesa após a agressão

O que deveria ter sido uma tarde em família para Victor Drummond e Fabio Liebl se tornou um caso de homofobia repercutido em todo o mundo, somando mais de 50 reportagens sobre o ocorrido.

Mas a principal repercussão tem sido entre os portugueses. Após a divulgação do caso, o casal tem recebido solidariedade nas ruas de Lisboa. “Nos param na rua para pedir desculpas”, afirmou Drummond em entrevista ao R7.

O casal brasileiro foi vítima de injúria homofóbica seguida de agressão no dia 29 de setembro, na Praça do Comércio, em Lisboa.

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A reação de Drummond e Liebl também chamou a atenção dos portugueses. Alguns dos que se dirigem ao casal nas ruas dão os parabéns pela coragem de terem denunciado o ocorrido.


Drummond explicou que, mesmo se tratando de um país conservador, casos assim em Portugal são um “ponto fora da curva” porque o país é um dos que mais tem leis que protegem a comunidade LGBT na Europa.

“Quando um jovem casal tem coragem de ir a imprensa e dar a cara a bater para denunciar essa situação, isso encoraja outras pessoas a fazerem o mesmo.”


LGBTs em Portugal

Mesmo com esse título de país que mais protege os direitos da população LGBT, a executiva da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA, em sua sigla original) informa que, em 2019, 186 casos de homofobia foram registrados em Portugal e que, por se tratar de um lugar conservador, muitos ainda vivem dentro de “seus armários mofados”.


O país também vive um aumento da violência de gênero e o número de feminicídios vem aumentando - como por exemplo da brasileira Camila Mendes, cujo corpo foi encontrado dentro de uma mala recentemente.

Para Drummond, o aumento desses casos de violência tem ligação com a força com que a extrema-direita tem conquistado nos grandes cargos políticos mundiais.

“Parece que esses ódios encubados estão sendo empoderados, seja por um presidente que está no poder ou por partidos conservadores que estão tendo força nas eleições mundiais”.

O jornalista ainda afirma que a voz do conservadorismo se expressa pela violência, como no caso que aconteceu com ele e o marido.

"A ambulância demorou meia hora para chegar"

Drummond e Liebl passaram um ano morando em Buenos Aires e, em 2019, se mudaram para a capital portuguesa em um ato que eles chamam de “autoexílio pós-político".

Ao R7, Drummond conta que, naquele domingo, ele estava acompanhado do marido e da prima — que mora em São Paulo e estava de visita em Lisboa — voltando de um almoço e caminharam em direção à Praça do Comércio, um local turístico na cidade que, durante a alta temporada, tem cerca de 10 mil pessoas na região por dia. Lá, eles foram abordados por 5 traficantes de drogas oferecendo cocaína e heroína.

O jornalista explicou que essa abordagem é muito comum em Lisboa e que, desde que ele e o marido chegaram a cidade há nove meses, já foram abordados desta forma mais de 100 vezes.

Drummond afirmou que ele e o marido ignoraram as primeiras ofensas, mas que em certo momento ele falou que iria chamar a polícia e pegou o celular para gravar e fotografar os traficantes.

“Quando eu abro o celular para filmar, o Fabio me pediu para correr e falou que eles estavam vindo atrás”, afirma o jornalista. “No tempo em que eu corri e dei uns passos na frente do Fabio, já gritando para a polícia, ouvi um barulho para trás. Quando eu vi, o Fabio estava no chão, protegendo a cabeça”.

Fabio Liebl contou que foi encurralado por quatro dos traficantes, que deram uma rasteira e começaram a agredi-lo.

As marcas da agresão nas costas de Fabio Liebl
As marcas da agresão nas costas de Fabio Liebl

Apesar dos pedidos de ajuda de Drummond, o casal conta que a polícia foi andando “calmamente” para o local apenas quando viram o Fabio no chão e deteve os traficantes, mas sem prendê-los porque a Guarda Municipal de Lisboa não tem poder de prisão.

“Eles pediram para a gente chamar a Polícia de Segurança Pública de Portugal (PSP), que demorou 15 minutos para chegar, e nos dividiu em dois grupos, os agredidos e os agressores.”

Após 30 minutos, uma ambulância chegou para cuidar dos ferimentos de Fabio que, segundo ele, estava ensanguentado e com a roupa rasgada.

Os enfermeiros induziram a recusa de atendimento, dizendo que ele “não estava em condição de decidir se queria ir ou não”. O casal seguiu para o hospital por conta própria.

Crime público

Drummond e Liebl procuraram a ILGA e foram instruídos a irem até a Polícia Judiciária, que é equivalente à Polícia Civil brasileira, por ter se tratado de um crime com mais de um agressor. “Quando isso acontece aqui em Portugal, o crime é caracterizado como público”, explicou Drummond.

O casal abriu um inquérito por injúria homofóbica e acrescentaram as provas (fotos dos machucados e das roupas rasgadas de Liebl) em outro inquérito por agressão. Mesmo com as provas e inquéritos policiais, os responsáveis pelas agressões irão responder em liberdade.

Uma questão que vai além da ideologia

Esta foi a primeira vez que o casal passou por um caso de agressão física, mas Drummond conta que em 2017, quando ainda moravam em São Paulo, passaram por uma situação de homofobia com o motorista de um aplicativo por estarem com “os mindinhos dados”.

Apesar de terem passado por um segundo caso de homofobia, o casal afirmou que uma das bandeiras que querem levantar nessa discussão é a da inclusão, inclusive daqueles que os agrediram.

“Em algum momento nesse mecanismo, eles foram excluídos e o responsável por isso é uma sociedade imprudente, conservadora que não olha pra essas pessoas.”

Vivendo esta exclusão de forma tão explícita, os dois brasileiros não se negam a indicar a solução para essas questões: acesso à educação, cultura e a arte.

“Nós queremos justiça, mas não só. Com toda a repercussão, a nossa luta é por respeito, por olhar para figura humana independente de quem seja, por inclusão e bom senso.”

*Estagiária do R7 sob supervisão de Cristina Charão

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