Calor brutal e temperaturas ‘perigosas’ no sul dos EUA matam pessoas, animais e racham o asfalto
Sensação térmica de 45ºC disparou alertas em diversas cidades, e autoridades tomam providências para ajudar a população
Internacional|Do R7
Uma onda de calor está atingindo com força o sul dos Estados Unidos, especialmente os estados de Texas e Louisiana, com temperaturas "perigosas" que podem se prolongar por vários dias, atribuídas ao impacto do aquecimento global.
No Texas, um carteiro e um jovem morreram nos últimos dias após terem desmaiado por insolação em dia de muito calor. Além disso, 13 animais de estimação morreram depois que permaneceram trancados em um apartamento abandonado. O calor chegou a rachar o pavimento na cidade de Houston.
Com o verão apenas no início, milhões de americanos estão sob alerta de calor extremo, com temperaturas que superam os 40°C e sensações térmicas em torno de 45°C.
As altas temperaturas também afetam parte dos estados de Novo México, Arkansas, Mississipi, Alabama e o norte da Flórida, que cientistas atribuem ao aquecimento global.
"Esta onda de calor é mais intensa, mais extensa e, provavelmente, também mais prolongada" do que teria sido sem o impacto das atividades humanas, disse à AFP Andrew Pershing, vice-presidente encarregado de ciência da ONG Climate Central.
Em Nova Orleans, na Louisiana, foi emitido um alerta de calor para grande parte do dia. Em Houston, a quarta maior cidade do país, com 2,3 milhões de habitantes, foram abertos centros de refrigeração para abrigar pessoas vulneráveis.
As estradas sofreram danos devido ao calor, e os trabalhadores estavam ocupados nesta terça (27), fazendo os reparos.
"É uma emergência, fomos chamados pelo estado. O calor arrebentou a rua. Todos os anos lutamos contra a mesma coisa, não conseguimos acompanhar, é demais", explicou à AFP Víctor Hugo Martínez, de 57 anos, um dos operários de reparação de ruas em Houston.
Ele e seus companheiros se hidratam permanentemente, disse.
"Alguns lugares no Texas têm temperaturas que estiveram acima dos 37°C durante mais de duas semanas, o que é muito incomum para esta época do ano", disse o cientista Pershing.
"O que nos preocupa particularmente é que, por ter começado tão cedo [o calor], a fisiologia das pessoas ainda não havia se adaptado", acrescentou. Segundo o especialista, as primeiras ondas de calor do ano costumam ser as mais letais.
"Beba muita água, fique em lugares com ar-condicionado e sombra e controle sua família e vizinhos", disse o Serviço Meteorológico dos EUA (NWS, na sigla em inglês), que classificou as condições como "perigosamente quentes" e recomendou às pessoas evitar atividades extenuantes.
As temperaturas extremas já têm durado dias e estão se estendendo gradualmente rumo ao leste. Espera-se que continuem até o fim de semana.
A pequena cidade de Del Río, no Texas, na fronteira com o México, bateu seu recorde de calor durante oito dias consecutivos, chegando a cerca de 43°C no domingo (25), segundo o serviço meteorológico local.
Na semana passada, um funcionário dos correios, de 66 anos, desmaiou enquanto entregava correspondência em Dallas, quando o calor rondava os 46°C. Ele morreu algumas horas depois, informou o Serviço Postal dos Estados Unidos aos meios de comunicação, mas a causa do falecimento ainda está sob investigação.
Na sexta-feira (23), um adolescente de 14 anos desmaiou por exaustão enquanto fazia uma trilha no Parque Nacional Big Bend, no Texas, e morreu mais tarde, segundo um comunicado oficial.
Além disso, 12 gatos e um cachorro foram encontrados mortos em um apartamento abandonado, segundo a Houston Humane Society. Outros seis gatos foram resgatados vivos.
"Estavam mortos por todo o apartamento. Alguns deles estavam na pia da cozinha, aparentemente tentando conseguir água. Havia outros perto das paredes, e os seis sobreviventes estavam debaixo da pia, tentando conservar alguma energia", disse nesta terça-feira Macey Staes, representante da organização.
Os animais foram encontrados há uma semana, em um imóvel sem nenhum tipo de serviço, ar-condicionado, água nem comida.
A companhia Ercot, que administra a rede elétrica no Texas, advertiu que a demanda de energia foi maior por conta do calor, mas disse que esperava fazer frente a ela. Também pediu às pessoas que economizassem energia.
"O ar-condicionado literalmente pode salvar vidas", disse à AFP Kristina Dahl, da União de Cientistas Preocupados (UCS, na sigla em inglês).
"Mas, se não o fizermos funcionar com energias renováveis, contribuímos para liberar mais emissões à atmosfera, o que aumentará ainda mais o calor", acrescentou.
Trata-se de um "desafio", disse. O ar-condicionado não é um aparelho de uso massificado nos Estados Unidos, mas é provável que isso "aumente consideravelmente nas próximas décadas".
Segundo o site GridStatus.io, as energias renováveis — solar e eólica — representam atualmente cerca de 35% do mix da rede do Texas.
Para Dahl, esta onda de calor "é exatamente o que se espera em um mundo em aquecimento".