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Campanha do Brexit teria violado leis eleitorais do Reino Unido

Segundo denúncia de ex-voluntário, campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia usou grupos independentes para gastar acima do permitido

Internacional|Fábio Fleury, do R7, com agências internacionais

Shahmir Sanni denunciou uso irregular de recursos
Shahmir Sanni denunciou uso irregular de recursos

Um voluntário na campanha em favor da saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de 2016 revelou, nesta segunda-feira (26) que o comitê do Brexit desrespeitou as leis eleitorais do país e gastou acima do teto máximo.

Shahmir Sanni, que trabalhou na campanha como voluntário, contou à emissora britânica Channel 4 os detalhes de como a campanha pró-Brexit utilizou comitês independentes afiliados para gastar mais recursos do que o permitido e influenciar as eleições.

Esse dinheiro teria sido usado para pagar uma empresa canadense de análise de dados, ligada ao mesmo conglomerado que é dono da Cambridge Analytica, a companhia britânica que protagonizou o escândalo dos dados vazados do Facebook.

O modelo de utilizar grupos independentes para burlar as regras de gastos eleitorais e influenciar em eleições é semelhante ao que executivos da Cambridge alegam ter feito nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 2016.


Esquema

A denúncia feita por Sanni gira em torno das ligações entre o Vote Leave, o comitê central da campanha em prol da saída do Reino Unido da União Europeia, e um grupo independente chamado BeLeave.


Pelas leis eleitorais, o Vote Leave tinha permissão para gastar, no máximo, 7 milhões de libras (cerca de 33 milhões de reais) na campanha. Grupos independentes tinha permissão para gastar até 700 mil libras (3,3 milhões de reais), caso se registrassem como participantes da campanha.

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No entanto, os gastos desses grupos deveriam ser verdadeiramente independentes do comitê central. Segundo Sanni, na relação entre o Vote Leave e o BeLeave, isso não aconteceu.


Ele afirma que Stephen Parkinson, então dirigente do comitê, era quem fazia todas as decisões dentro do BeLeave. Sanni era do comitê central, mas foi designado para trabalhar junto com o grupo independente.

"Não houve uma só vez que o BeLeave fez alguma coisa sem passar por Stephen. Qualquer artigo que eu postasse ou escrevesse, ele aprovava antes de publicar", contou Sanni ao Channel 4. "Mesmo depois de separar os comitês, eu mandava rascunhos dos meus discursos e pedia conselhos e autorização".

Durante a campanha, o BeLeave funcionava dentro da sede do Vote Leave e o fundador do BeLeave, Darren Grimes, foi fotografado com um cartaz do Vote Leave nas mãos no dia do referendo.

Doação e controle

Nos últimos dez dias da campanha, a Vote Leave doou um total de 625 mil libras (cerca de 2,9 milhões de reais) para Grimes, que estava registrado como participante. Esse dinheiro foi inteiramente direcionado para a empresa de análise de dados canadense Aggregate IQ.

Segundo o Channel 4, a Aggregate é ligada ao grupo SQL, o mesmo conglomerado dono da empresa de dados Cambridge Analytica, responsável pelo escândalo envolvendo o Facebook, na última semana.

De acordo com a denúncia de Sanni, Grimes jamais teve controle real sobre as ações do BeLeave dentro da campanha, e o grupo foi usado apenas para contornar o limite legal de gastos.

Ele diz que chegou a pedir para Grimes para utilizar uma parte do dinheiro para reembolsar seus gastos com viagens, já que trabalhava como voluntário no comitê e ainda não tinha emprego fixo, mas teve o pedido negado.

"Pedi o dinheiro e Darren disse 'acho que não podemos, o único jeito deles nos darem o dinheiro é se mandarmos para a AIQ'. Foi quando parei e pensei que as coisas estavam estranhas. Nós nunca nos sentimos no controle de nada, do dinheiro, da organização, nada", disse Sanni. "Eles dizem que essas coisas não foram coordenadas pelo comitê, mas foram".

Reação

Scott Parkinson, hoje secretário político no gabinete da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, negou todas as acusações e afirmou à imprensa britânica que ele e Sannir tiveram um relacionamento amoroso por um ano e meio, e que o fim desse relacionamento seria a causa das denúncias.

"Infelizmente, as alegações que Shahmir e outros fizeram são tão graves que preciso revelar minha relação com Shahmir. Ela aconteceu no período do referendo e interfere em tudo que está sendo alegado. Nego tudo o que eles estão dizendo, jamais interferi com a campanha feito pelo BeLeave e tenho convicção que permaneci dentro dos limites legais na questão dos gastos de campanha", afirmou Parkinson.

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