Capital de Bangladesh tem sua primeira 'zona sem buzinas'
Governo tenta diminuir o problema da poluição sonora com áreas onde tocar buzina é proibido, no centro da capital de Bangladesh, Dacca
Internacional|Da EFE
Quando, nesta terça-feira (17), um grupo de escoteiros de Bangladesh parou um ônibus lotado de passageiros que entrava na zona administrativa de Dacca, o motorista Nur Mohammad achou que tinha infringido alguma norma de trânsito, mas eles só queriam informar que agora não é mais permitido tocar buzina no bairro.
Os jovens colocaram um adesivo no veículo e deram a Mohammad um folheto que explicava que, a partir deste dia, o bairro estava declarado como uma "zona sem buzinas", uma medida pioneira no país asiático e que, para o motorista de 62 anos, é uma "boa iniciativa".
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"Evitar o uso de buzinas em alguns lugares vai ajudar a todos, não só a população em geral, mas também pessoas como eu que passam horas nas ruas", disse Mohammad, motorista de ônibus há três décadas, à EFE. "Muitos colegas foram parar no médico porque estavam com problemas no ouvido por isso".
A medida, aprovada no início do mês pelo ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática de Bangladesh, entrou em vigor nesta terça-feira (17) com um grande evento no centro de Dacca.
Multas e prisão por buzinar
Com a nova regra, o ministério tenta conscientizar os motoristas para que eles usem menos o instrumento, que muitas vezes é abusado para ganhar tempo na disputa por espaço com outros veículos nas ruas estreitas e, muitas vezes, sem pistas definidas da capital de Bangladesh.
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"Essa é a primeira vez que declaramos uma área como 'zona sem buzinas' e é como um projeto piloto. Se virmos que tem sucesso, vamos implementar gradualmente iniciativas similares em outras partes do país", explicou o secretário do ministério do Meio Ambiente, Abdullah Al Mohsin.
"Como aqui é o coração do governo, pensamos que seria melhor começar por aqui. Vamos estabelecer áreas de silêncio próximo a hospitais e escolas", afirmou.
Ele também explicou que nos primeiros dias será feita uma campanha de conscientização antes de aplicar todas as penas previstas na lei. Quando isso acontecer, os infratores podem pegar penas de até 3 meses de prisão ou pagar uma multa de até US$ 120 (cerca de R$ 488)
"Muitas vezes, as pessoas tocam a buzina sem necessidade. Temos casos de motoristas comuns que usam aré sirenes de ambulância para ter preferência no trânsito. Vamos multar, mas não é só com uma lei que iremos mudar a situação, a conscientização do público é o mais importante", disse Al Mohsin.
Problema de saúde pública
A poluição sonora é um problema grave em Bangladesh. Segundo um estudo realizado pelo governo em 2017, pelo menos 12% da população do país (cerca de 20 milhões dos 165 milhões de habitantes) tem algum problema auditivo.
Em Dacca, uma cidade com quase 20 milhões de habitantes e mais de 1,5 milhão de veículos registrados, o ruído das buzinas pode chegar a até 110 decibéis nos horários de pico segundo a pesquisa. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o limite máximo tolerável é de 85 decibéis.
"Em 2017, descobrimos que o nível de ruído é muito mais alto que o limite recomendado em quase toda a cidade. Podemos supor que o problema só piorou nos últimos dois anos", explicou Farid Ahmed, funcionário responsável pelo estudo.
"Só um idiota toca a buzina sem desnecessariamente"
A nova medida tem sido bem recebida por ativistas, que no entanto criticaram a escolha da área administrativa do governo para o projeto-piloto.
"Decidiram algo que é bom, mas não estou muito contente com o local, minha preocupação está nas escolas, nos hospitais e centros de oração e não em uma zona de escritórios", criticou o ativista Mominur Rahman Royal.
Há cinco anos, ele lançou uma campanha na internet contra a poluição sonora na capital bengali. Desde 2018, ele passou a ficar em um dos cruzamentos mais movimentados da cidade, com um cartaz com a mensagem: "só um idiota toca a buzina desnecessariamente".
"Em vez de apenas fazer campanha nas redes sociais, decidi ir para as ruas quando nasceu a minha filha, há um ano e dois meses. Me dei conta que os bebês dormem rápido dentro do carro, mas o barulho das buzinas desnecessária os acorda", disse.
"Estou feliz que minha campanha começou a dar frutos, pelo menos estão tomando algumas medidas", finalizou.