Chile homenageia Allende e vítimas da ditadura 46 anos após golpe
País relembrou presidente morto antes da ditadura e as pessoas que desapareceram e foram torturadas durante os 17 anos do regime militar
Internacional|Da EFE
O Chile recordou nesta quarta-feira (11) os 46 anos do golpe de Estado de Augusto Pinochet, que derrubou o governo de Salvador Allende, em um dia no qual foram lembrados o presidente morto e as pessoas que desapareceram e foram torturadas durante a ditadura, que durou de 1973 a 1990.
Allende, que comandou o Governo da Unidade Popular, de 1970 a 1973, foi a figura central das homenagens feitas do lado de fora do Palacio de La Moneda, sede do Executivo, em frente a seu túmulo, ou nos mais variados atos realizados ao longo do dia.
No entanto, o seu nome não foi mencionado pelo presidente Sebastián Piñera durante um discurso não programado feito na sede do Governo. Nele, o chefe de Estado chamou de "grande fracasso" e de "quebra da democracia" o que aconteceu no Chile em 1973.
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"Convoco a todos os meus compatriotas a refletir com serenidade e boa vontade sobre as causas e consequências de 11 de setembro de 1973, a aprender com as lições e doutrinas que os erros do passado nos entregaram, e a atuar sempre com total apego e respeito aos valores da democracia", declarou Piñera.
Uns valores democráticos que Allende defendeu até a morte, entrincheirado no Palacio de La Moneda enquanto as Forças Armadas do Chile bombardeavam o local e os tanques bombardeava a fachada do edifício.
Esses fatos foram recordados na manhã de hoje na porta da rua Morandé, número 80, por onde o então presidente costumava entrar e sair do palácio e também por onde seu corpo foi retirado no dia do golpe, após a destruição do imóvel devido aos bombardeios, depois que o líder se recusou a se render.
Quando La Moneda foi reconstruída, ainda durante a ditadura, a porta desapareceu, mas o presidente Ricardo Lagos mandou reconstrui-la em 2003. Hoje, essa porta foi enfeitada com cravos vermelhos e uma grande coroa de flores depositadas por partidários da esquerda chilena em forma de homenagem. O gesto foi repetido nos pés da estátua na praça de Constituição.
A neta de Allende, a deputada Maya Fernández, recordou o avô no local, mas também teve palavras para os desaparecidos, torturados e detidos durante a ditadura de Pinochet.
"É um dia para lembrar, como todos os anos, mas não só Salvador Allende. Quero fazer uma homenagem aos familiares das vítimas de violência durante a ditadura, porque muitos até hoje não sabem onde estão seus entes queridos, não podem pôr uma flor em seus túmulos, não podem vê-los ou acompanhá-los em algum lugar", disse Maya à Agência Efe.
A figura do presidente e as das vítimas também receberam homenagem no Cemitério Geral, onde anônimo depositaram flores no túmulo de Allende, no Memorial aos Detidos Desaparecidos e Executados Políticos e no Pátio 29, onde foram enterrados dissidentes assassinados em valas comuns sem serem identificados.