Boric (e) e Kast (d) são os oponentes no segundo turno da eleição chilena
Martin Bernetti / Claudio Reyes - AFPO futuro do Chile começará a ser definido neste domingo (19), com o segundo turno da eleição presidencial. Cerca de 15 milhões de eleitores terão a opção de escolher entre um candidato de direita, José Antonio Kast, e outro vindo de movimentos de esquerda, Gabriel Boric, em um dos pleitos mais polarizados da história recente do país.
No primeiro turno, disputado há pouco menos de um mês, o advogado Kast, de 55 anos, foi o primeiro colocado, com 27,91% dos votos, enquanto o deputado Boric, 35, obteve 25,83%. Dois fatores, no entanto, não permitem previsões muito precisas sobre o resultado da votação deste domingo.
Em primeiro lugar, 46% dos eleitores que foram às urnas na primeira votação escolheram outros candidatos, o que dá margem a bastante variação e fez ambos os concorrentes mirarem os votos de moderados. Nas últimas pesquisas, Boric aparece um pouco à frente de Kast, mas no primeiro turno ele também parecia ter vantagem e isso não se concretizou.
Além disso, o comparecimento na votação de 21 de novembro foi bastante baixo: apenas 47% dos 15 milhões de eleitores foram às urnas. O total de votos foi inferior aos pouco mais de 50% registrados no referendo de outubro de 2020, que aprovou a adoção de uma nova Constituiçao no Chile, mas superior aos 41, 5% que votaram na escolha dos integrantes da Assembleia Constituinte.
Para o historiador Fernando Gabriel Romero, professor do curso de Relações Internacionais da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), a eleição deste domingo deve ser entendida em um contexto anterior, que começa nos grandes protestos contra o presidente Sebastián Piñera, que levaram milhares de chilenos às ruas entre 2019 e 2020.
"Essa eleição é chave para a continuidade do processo de conquistas de direitos e a possibilidade de reduzir a desigualdade socioeconômica no Chile. Saber se o país vai consolidar uma mudança mais profunda com a nova Constituição ou se um possível governo Kast seria um contrapeso nesse processo", explica.
Segundo o especialista, o comparecimento baixo no primeiro turno pode ser explicado com a pandemia, que impediu grandes mobilizações, já que houve medidas de restrição em Santiago e em outras grandes cidades, mas também é tradicional no país, onde o voto é opcional.
"No entanto, por ser uma eleição tão decisiva, considero que existe a possibilidade de que uma boa parte da cidadania acompanhe o segundo turno com maior motivação", diz.
O resultado do segundo turno também pode ser decisivo para a simples adoção da futura Constituição chilena, que está em elaboração e deve ser finalizada entre abril e julho de 2022. A tendência é que um eventual governo Boric abrace com mais facilidade as novas leis, elaboradas por um grupo composto mais por independentes que por políticos mais tradicionais.
Por outro lado, uma administração encabeçada por Kast, apoiador e admirador do último ditador chileno, Augusto Pinochet, pode dificultar a adoção de um texto constitucional elaborado nessas bases. "Há essa possibilidade, ele poderia não aceitar, mas haveria uma crise política e tensionaria bastante a situação interna, assim como aconteceu com Piñera", afirma Romero.
Curiosamente, a eleição deste domingo repete um confronto visto no plebiscito realizado no Chile em 1988, sobre a permanência de Pinochet no poder. À época, Kast fez campanha a favor da permanência do então governante, enquanto a família de Boric era parte integrante da campanha pela saída dele. Na ocasião, o 'não' a Pinochet venceu por 56% a 41%, com uma participação impressionante, de 97,5% do eleitorado.