Combates deixam ao menos 20 mortos perto da região do Tigré
Dezenas de milhares de pessoas precisaram deixar suas casas por conta de embates entre rebeldes e tropas do governo em Afar
Internacional|Do R7
Pelo menos 20 civis morreram e dezenas de milhares foram deslocados em meio a violentos combates entre rebeldes e forças pró-governo na região de Afar, na fronteira com Tigré, no nordeste da Etiópia, informou um funcionário de alto escalão do governo etíope nesta quinta-feira (22).
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Os combates na região de Afar indicam um risco de expansão da guerra no Tigré, que deixa milhares de mortos e centenas de milhares de deslocados em oito meses, segundo as Nações Unidas.
No domingo (18), os rebeldes que se opõem as forças pró-governamentais disseram ter realizado operações pontuais na região de Afar.
Mas o funcionário regional da Agência Nacional de Proteção Civil Mohammed Hussen afirmou nesta quinta-feira à AFP que se trataram de operações em grande escala e que as forças rebeldes "cruzaram a fronteira com a região de Afar e atacaram comunidades pastoris inocentes".
"Os combates violentos continuam acontecendo. Quase 70.000 pessoas se viram diretamente afetadas e estão deslocadas (...) Mais de 20 civis foram assassinados", acrescentou, acusando os rebeldes de quererem "submeter os Afar".
Um porta-voz dos rebeldes, Getachew Reda, qualificou estas acusações de massacres de civis de "puras mentiras".
Conflito em Tigré
O ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2019 e primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o Exército federal para Tigré em novembro passado, com o objetivo de destituir as autoridades regionais da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF).
Segundo ele, a operação, lançada após meses de tensão, foi realizada em represália por ataques lançados contra acampamentos do Exército ordenados pela TPLF, o partido que governou o país por três décadas.
Abiy proclamou vitória neste conflito no final de novembro passado, após assumir o controle da capital regional, Mekele. Os combates continuaram e recentemente se voltaram contra os interesses do governo.
Em 28 de junho, as forças rebeldes pró-TPLF reconquistaram Mekele e, nos dias seguintes, grande parte de Tigré, marcando um ponto de inflexão no conflito.
Abiy prometeu que os faria recuar e mobilizou forças regionais, procedentes em especial de Oromia, para combater junto com o Exército federal.
- Estrada-chave -
Os combates na região de Afar interromperam a distribuição de ajuda alimentar no Tigré.
Dez veículos do Programa Mundial de Alimentos (PMA) que transportavam ajuda foram atacados no domingo a 100 quilômetros da capital de Afar, Semera, o que levou a agência da ONU a suspender seus comboios que passavam por essa estrada.
A estrada que corta Semera para entrar no Tigré se tornou um ponto crítico para a entrega de ajuda humanitária, depois que duas pontes em outras estradas foram destruídas no final de junho.
Segundo um documento da ONU consultado pela AFP, na quarta-feira (21), houve intensos combates das forças especiais de Afar e dos soldados do Exército federal contra as tropas do TPLF nos distritos de Awra e Ewa.
Esses dois distritos de Afar fazem fronteira com o sul do Tigré e o norte da região de Amhara, para onde vários milicianos foram enviados recentemente.
A rota que une a Etiópia ao porto de Djibuti, ao leste da região de Afar, é essencial para este país sem saída para o mar, o que gera temores de que os rebeldes do Tigré queiram bloqueá-la.
Nesta quinta-feira, o chefe da Agência Nacional de Proteção Civil disse que a estrada estava "aberta" e era "muito segura" e acrescentou que qualquer afirmação em sentido contrário é "propaganda" da TPLF.
Em Adis Abeba, capital da Etiópia, uma manifestação de apoio ao exército levou dezenas de milhares de pessoas à emblemática praça Meskel.
Os manifestantes exibiram cartazes nos quais descreviam o TPLF como "o câncer da Etiópia" e diziam que o exército se posiciona "pela verdade e pela justiça".
A prefeita de Adis Abeba, Adanech Abiebe, acusou o TPLF, considerado uma "organização terrorista" pelas autoridades federais, de colaborar com a mídia internacional para "difamar o nosso exército".