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Como construir o maior navio de cruzeiro do mundo (ou um deles, pelo menos)

Em um estaleiro finlandês, o irmão de 250.800 toneladas do Icon of the Seas, o maior navio de cruzeiro do mundo, está em fase final de construção; veja as fotos

Internacional|Ceylan Yeğinsu, do The New York

O gigante está programado para ser oficialmente lançado em 31 de agosto do ano que vem, em Port Canaveral, na Flórida Royal Caribbean International via The New York Times

As válvulas foram abertas e mais de mil trabalhadores se reuniram no estaleiro Meyer Turku, na Finlândia, para assistir à “flutuação” do Star of the Seas, da Royal Caribbean. Começava assim o processo de nove horas que consiste em inundar uma doca especial com mais de 350 milhões de litros de água para levar o meganavio, de mais de 250 mil toneladas, até um píer para os estágios finais de construção.

Assim como seu irmão mais velho, o navio Icon of the Seas – o maior navio de cruzeiro do mundo –, o Star mede 364 metros de comprimento, tem 20 andares de altura e é capaz de transportar quase oito mil passageiros. O gigante está programado para ser oficialmente lançado em 31 de agosto do ano que vem, em Port Canaveral, na Flórida, e terá muitas das características do Icon of the Seas: oito “bairros” (áreas com características específicas), seis toboáguas, sete piscinas e mais de 40 restaurantes, bares e locais de entretenimento.

O Icon of the Seas custou US$ 2 bilhões para ser construído e foi lançado em Miami neste ano. É um sucesso entre os passageiros de cruzeiros, apesar das críticas que recebe por causa de seu tamanho e do potencial que tem para prejudicar o meio ambiente. Embora a Royal Caribbean não divulgue os números de reservas, a empresa revelou que o navio superou as expectativas no que diz respeito à satisfação dos hóspedes e ao desempenho financeiro; as reservas de julho a outubro de 2025 superaram os níveis de 2024 para o mesmo período.

Em resposta à demanda, a empresa iniciou a construção do terceiro navio da Classe Icon, que será concluído em 2026, e planeja encomendar um quarto para 2027, com opções para um quinto e um sexto. “Os navios da Classe Icon que encomendamos estão em conformidade com nossos planos de crescimento. Estamos atraindo mais clientes novos para nosso ecossistema de férias, principalmente grupos de gente mais jovem”, disse Jason Liberty, presidente e CEO do Royal Caribbean Group.


Os negócios estão em alta em todas as principais linhas de cruzeiros, e muitas delas, como a Carnival, a Norwegian e a MSC, estão expandindo sua frota. No ano passado, 31,7 milhões de passageiros fizeram um cruzeiro, aumento de 29,7 milhões em relação a 2019. Este ano, o número deve chegar a 34,7 milhões, de acordo com o grupo comercial do setor, a Associação Internacional de Linhas de Cruzeiro. Esta informou que, em junho de 2024, havia 430 navios de cruzeiro oceânicos em operação e 76 navios encomendados até 2036.

No ano passado, 31,7 milhões de passageiros fizeram um cruzeiro, aumento de 29,7 milhões em relação a 2019 Scott McIntyre/The New York Times

Depois de navegar no Icon of the Seas, eu quis saber como os navios dessa escala são construídos. Aqui está o que encontrei quando visitei o estaleiro Meyer Turku no mês passado.


O processo de construção naval

Visto de longe, o Star of the Seas parecia uma estrutura gigante feita de Lego. Ao redor dele, guindastes enormes encaixavam blocos de construção, incluindo cabines pré-fabricadas que pareciam minúsculas penduradas ao lado do casco imenso.

A quilha do navio, que atua como um estabilizador subaquático, foi lançada em dezembro na primeira etapa do processo de construção naval, e agora, quase um ano depois, a embarcação está 71% concluída.


Seu interior era um canteiro de obras com mais de mil trabalhadores correndo para concluir a instalação do equipamento mecânico e elétrico. O mobiliário interno também estava em andamento, com ladrilhos sendo colocados e atrações sendo erguidas.

Pendurados no teto, havia cabos elétricos em voltas infinitas, totalizando 7.600 quilômetros, o equivalente à trilha ciclística European Divide, que atravessa dez países, desde a Noruega até Portugal.

Interior do navio parece um canteiro de obras com mais de mil trabalhadores correndo para terminar tudo a tempo Vesa Laitinen/The New York Times

Assim que o processo de montagem de equipamento for concluído, inspeções serão efetuadas. Motores e caldeiras serão acionados e os preparativos para os testes no mar começarão, antes que o navio seja entregue no ano que vem.

A Pérola e o Aquadome

Uma das características arquitetônicas mais marcantes do Icon of the Seas é “A Pérola”, gigantesca instalação de arte cinética que funciona como uma peça estrutural central que sustenta os camarotes e um dos “bairros” no convés acima. Seu formato arredondado permite a colocação de janelas do chão ao teto, que enchem com luz natural a passagem do Royal Promenade – o local de passeio – e aproximam os passageiros da água.

O Royal Promenade no Star of the Seas é atualmente um labirinto de andaimes, fios e materiais de construção. Mas a estrutura redonda de aço de “A Pérola” está no lugar. Atrás de uma gigantesca lona protetora, os trabalhadores colocavam cuidadosamente os degraus das escadas, que, segundo a empresa, foram modificados depois que alguns passageiros do Icon of the Seas tropeçaram ao olhar para os ladrilhos móveis que preenchem o interior da instalação.

Outra característica que chama a atenção é o Aquadome. Trata-se de uma estrutura de 367 toneladas composta por 673 painéis de vidro. Tem 25 metros de altura e 50 de largura. Os módulos de vidro e aço, montados no estaleiro ao longo de oito meses, foram içados para o navio usando um equipamento personalizado de 15 toneladas com cabos mais longos do que a altura do Edifício Empire State. Seis horas foram gastas para prender a estrutura à proa do navio. Quando visitei o local em outubro, os construtores navais inspecionaram cada painel de vidro e substituíram aqueles em que encontraram rachaduras.

Em janeiro passado, descobri que o Aquadome no Icon of the Seas era a área mais tranquila do navio, com suas vistas de 220º do oceano e amplas áreas de descanso.

Desafios

Segundo Jon Sandham, gerente de produção do projeto na Meyer Turku, um dos maiores desafios na construção de um navio dessa escala é fazê-lo ao ar livre quando as condições climáticas na Finlândia nem sempre são favoráveis. A temperatura no estaleiro chega a menos 13º no inverno e ele pode ser atingido por ventos fortes e gelados. Para instalar o Aquadome, o estaleiro esperou que a velocidade do vento estivesse abaixo de 16 km por hora.

Outro desafio é coordenar os muitos contratados – geralmente de dez a 15 – necessários para concluir cada seção do navio. “É um processo muito técnico e complexo, como o parque aquático, que envolveu vários contratados. Mas é incrível como algumas partes podem ser perfeitas e como tudo se encaixa no fim”, disse Sandham.

Meio ambiente

A Royal Caribbean diz que seus navios da Classe Icon estão definindo um novo padrão de sustentabilidade. Usam tecnologia de eficiência energética projetada para minimizar suas pegadas de carbono (indicador ambiental que mede a quantidade de gases de efeito estufa emitidos por uma pessoa, empresa, cidade ou país).

Isso inclui um sistema de gestão que converte os resíduos a bordo em energia que pode ser usada para alimentar o parque aquático; um sistema avançado de purificação que trata as águas residuais a bordo; e tecnologia que permitiria ao navio funcionar com a eletricidade em terra fornecida pelos portos.

Os navios da Classe Icon também funcionam com gás natural liquefeito, ou GNL, combustível fóssil que a indústria de cruzeiros diz ser uma alternativa limpa ao óleo combustível pesado porque reduz as emissões de dióxido de carbono. No entanto, grupos ambientais, preocupados com a rapidez com que os operadores de cruzeiros estão adotando o combustível, argumentam que o metano emitido pelo GNL é mais potente e pode reter mais calor na atmosfera ao longo do tempo, mais até do que o dióxido de carbono.

Ao redor do navio, guindastes enormes encaixam blocos de construção, incluindo cabines pré-fabricadas que parecem minúsculas penduradas ao lado do casco imenso Vesa Laitinen/The New York Times

A Royal Caribbean afirma que o GNL era o combustível alternativo mais viável e disponível em escala quando o navio foi projetado há sete anos. Todos os futuros navios da Classe Icon terão motores movidos a GNL. “Continuamos a crescer e a avançar com nosso portfólio de fontes de energia. Vamos projetar nossos navios para o futuro, para que possamos nos adaptar à medida que fontes alternativas de combustível se tornem viáveis e escaláveis”, declarou a empresa em um comunicado.

Grupos ambientais acolheram com satisfação alguns dos recursos de eficiência energética nos navios da Classe Icon, mas alegam que a construção de meganavios tão grandes prejudica as metas de sustentabilidade de longo prazo da indústria.

O estaleiro Meyer Turku tem um programa de sustentabilidade próprio, chamado NEcOleap, que se concentra na eficiência energética, no fornecimento de materiais responsáveis e na otimização do casco e das estruturas de aço dos navios para reduzir o consumo de combustível, entre outras coisas.

Enquanto isso: um terceiro navio está a caminho

Há um filhote atrás do casco gigante do Star of the Seas na doca seca. É a quilha – a espinha dorsal de uma embarcação – do terceiro navio da Classe Icon que ainda não tem nome.

Enquanto o foco do estaleiro está nos preparativos finais do Star, a construção do terceiro navio está em andamento e programada para ser concluída em 2026.

c. 2024 The New York Times Company

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