Como gesto de paz, Afeganistão inicia libertação de 900 talibãs
Gesto sem precedentes pode abrir caminho para negociação de paz. Presos serão soltos gradualmente de prisões espalhadas por todo o país
Internacional|Da EFE
O governo do Afeganistão libertou nos últimos dois dias mais de 250 prisioneiros talibãs, os primeiros de um total de 900 que deixarão as cadeias do país como um gesto de boa vontade sem precedentes para abrir caminho para uma possível negociação de paz.
A medida foi determinada por decreto assinado pelo presidente do país, Ashraf Ghani. O porta-voz do governo, Arif Samim, disse à Agência Efe que esses presos serão libertados gradualmente de prisões espalhadas por todo o território do Afeganistão.
Cumprindo o decreto de Ghani, anunciado durante a recente festa que celebrou o fim do Ramadã, 170 insurgentes talibãs saíram da prisão de Pul-e-Charki, em Cabul. Os demais estavam nos centros penitenciários de Herat, no noroeste do país, e Nangarhar, no leste.
Leia também
Ghani, que não havia dado detalhes sobre os prisioneiros no decreto, afirmou em recente discurso que os 900 talibãs que serão libertados não voltarão a fazer parte do grupo e não representarão uma ameaça para a segurança do Afeganistão.
O decreto foi assinado após a realização de uma Loya Jirga, uma grande assembleia popular que reúne chefes tribais e anciãos do país, que pediu um passo como o tomado por Ghani para criar um ambiente de confiança que leve os talibãs a negociar com o governo afegão, algo negado pelos insurgentes até então.
"Em sinal de respeito às recomendações da Loya Jirga, este é um gesto de boa vontade por parte do governo", ressaltou o porta-voz de Ghani, citando que esta é a maior libertação de membros do talibã realizada nos 18 anos do conflito.
Contrariando a conduta habitual do grupo, o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, elogiou a medida de Ghani em comunicado, classificando-a como um "bom passo".
Sem esclarecer qual será a resposta dos insurgentes ao decreto, Mujahid afirmou que os prisioneiros que estão sendo libertados pelo governo não tiveram ligação direta com o conflito e que muitos deles foram detidos com base em informações equivocadas.
Os talibãs realizaram nos últimos meses várias rodadas de negociação com os Estados Unidos, que continuam atuando no Afeganistão como parte da missão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de treinamento dos militares do país.
No entanto, os talibãs se recusaram a dialogar com o governo de Ghani.