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Conflito na Etiópia completa um ano e pode virar guerra civil

Rebeldes ameaçam atacar a capital, Adis Abeba, e tomá-la em 'semanas', enquanto governo pede que população se arme

Internacional|Do R7, com AFP e Ansa

Agricultores passam ao lado de tanque abandonado na região do Tigré, no norte da Etiópia
Agricultores passam ao lado de tanque abandonado na região do Tigré, no norte da Etiópia

Um ano após o início da ofensiva do governo da Etiópia contra a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF), partido que governa a região semiautônoma do Tigré, uma união de forças rebeldes ameaça desbancar o próprio governo central etíope. Um grupo afirmou nesta quarta-feira (3) à agência de notícias AFP que a tomada da capital do país, Adis Abeba, é "uma questão de meses, se não de semanas".

A ofensiva é realizada pelo Exército de Libertação Oromo (OLA), guerrilha que pertence à mesma etnia do primeiro-ministro Abiy Ahmed, vencedor do Nobel da Paz em 2019, mas se aliou à TPLF na luta contra o governo central.

Segundo a CNN, os rebeldes já estão na periferia de Adis Abeba e aguardam "uma série de fatores" para decidir se avançam ou não, incluindo a posição americana sobre o conflito. O enviado especial dos EUA ao Chifre da África, Jeffrey Feltman, deve chegar à Etiópia na quinta-feira (4).

Por sua vez, a TPLF afirmou neste fim de semana que havia tomado Dessie e Kombolcha, duas cidades estratégicas cerca de 400 quilômetros ao norte de Adis Abeba, e não descarta marchar até a capital. 


Apesar de negar o avanço dos rebeldes, o governo decretou na terça-feira estado de emergência em todo o país. Em Adis Abeba, os moradores receberam orientações de se armar e se organizar para montar a defesa da cidade.

O primeiro-ministro Abiy Ahmed acusou a aliança de grupos de rebeldes de tentar transformar a Etiópia em uma nova Líbia ou Síria. "Querem destruir um país, não construir", disse Ahmed enquanto pedia união aos etíopes.


Um ano de conflito

Em 4 de novembro de 2020, o planeta concentrava sua atenção na eleição presidencial americana. Enquanto isso, na Etiópia, seu primeiro-ministro, Abiy Ahmed, lançava uma operação militar na região do Tigré, iniciando uma guerra devastadora.

A intervenção rápida e limitada prometida por Ahmed para deter os líderes da TPLF se transformou em um conflito duradouro, marcado por massacres e estupros, e ameaça mergulhar o norte do país na fome.


Segundo o primeiro-ministro, a intervenção se tornou inevitável depois que a TPLF atacou duas bases militares. O partido regional negou qualquer responsabilidade.

A operação ocorreu após meses de tensões. Os líderes da TPLF, que lamentavam regularmente ser deixados à margem por Ahmed, o desafiaram abertamente organizando eleições locais em setembro, apesar da proibição decretada pela pandemia.

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Depois de semanas de ataques aéreos e combates, o Exército etíope tomou o controle da capital regional Mekele em 28 de novembro. O primeiro-ministro cantou vitória.

Mas em junho a TPLF lançou um contra-ataque que lhe permitiu reconquistar a maior parte do Tigré. O Exército etíope se retirou e o governo de Ahmed declarou um "cessar-fogo humanitário".

Depois do Tigré, a TPLF ampliou sua ofensiva para as regiões vizinhas de Afar e Amhara a fim de impedir, segundo seus líderes, que as tropas rivais se reunissem e de romper o que a ONU descreveu como um "bloqueio de fato" da região.

Abiy Ahmed, por sua vez, convocou uma mobilização nacional contra os "terroristas" da TPLF.

Nestas últimas semanas os combates se concentraram em Amhara, ao sul do Tigré.

As comunicações estão cortadas em grande parte do norte da Etiópia e o acesso de jornalistas está restringido, o que dificulta verificar as posições no terreno.

O Tigré foi palco de poucos combates desde o fim de junho, embora a aviação etíope tenha realizado bombardeios que mataram ao menos quatro civis no fim de outubro.

O governo afirma direcionar seus ataques a instalações rebeldes. A TPLF responde que os ataques mostram o desprezo da autoridade federal pelas vidas civis.

Fome e crimes de guerra

Mais de 400 mil pessoas ultrapassaram o "limite da fome" no Tigré, alertou em julho um alto funcionário da ONU. Desde então, a situação só piorou.

Serviços básicos como energia elétrica, bancos ou telecomunicações "são rejeitados pelo governo etíope", afirmou à AFP em setembro um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, mencionando "sinais de um Estado de exceção".

O conflito na região do Tigré é marcado por "brutalidade extrema" e todos os envolvidos podem ter cometido crimes contra a humanidade, afirmou nesta quarta a alta comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet.

Ela apresentou os resultados de uma investigação conjunta feita pela ONU e pela comissão etíope de direitos humanos — criada pelo governo central — sobre o conflito que assola o país.

"Existem motivos razoáveis para acreditar que todas as partes cometeram violações do direito internacional, dos direitos humanos, do direito internacional humanitário e do direito internacional dos refugiados, algumas das quais podem constituir crimes de guerra e crimes contra a humanidade", afirma o relatório.

Tanto o governo central quanto os rebeldes negam que tenham cometido esses crimes, mas ambos acusam o outro lado.

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