Congo: ganhador de Nobel teme que fraudes em eleição levem à guerra
Denis Mukwege, vencedor de prêmio da paz, afirmou que as autoridades estão com dificuldade para cumprir os prazos e que a violência está piorando
Internacional|Do R7
As eleições presidenciais deste mês na República Democrática do Congo podem provocar um conflito se não forem livres, justas e pacíficas, e há indícios de que não serão, disse o ganhador do prêmio Nobel da Paz, Denis Mukwege, nesta segunda-feira (10).
A votação de 23 de dezembro marcará a primeira transferência de poder democrática do Congo e encerrará o comando do presidente Joseph Kabila, que teve início em 2001, após o assassinato de seu pai.
O Nobel da Paz de 2018 foi dado a Mukwege por seu trabalho como médico que ajuda vítimas da violência sexual em Bukavu, cidade do leste congolês, e para a ativista de direitos humanos yazidi e ex-escrava sexual do Deash, Nadia Murad.
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"O que vi quando deixava meu país não me tranquilizou", disse Mukwege à Reuters horas antes de receber o Prêmio Nobel da Paz em uma cerimônia diante do rei Harald.
"Existe muito pouca preparação eleitoral e muita preparação militar. Estou muito temeroso de que estas eleições não sejam livres, justas, críveis e pacíficas e de que haja fraudes maciças... os apoiadores (dos candidatos derrotados) não as aceitarão".
Ele disse que as autoridades eleitorais estão com dificuldade para cumprir os prazos antes da votação e que a violência está piorando nas terras do leste que fazem fronteira com Ruanda, Uganda e Burundi.
"Estes... elementos me sugerem que uma opressão está sendo preparada, no mínimo, e pode ser que uma guerra contra o próprio povo esteja sendo preparada", disse.
Kabila deveria ter saído em 2016, ao final de seu mandato constitucional, mas a eleição que o substituiria foi adiada várias vezes, provocando protestos nos quais dezenas de pessoas foram mortas.
No domingo Kabila disse à Reuters que os preparativos para a eleição estão transcorrendo tranquilamente e que espera que o pleito seja "tão próximo da perfeição" quanto possível.
Ele também disse que planeja continuar na política quando deixar o cargo, após a votação, e não descartou concorrer novamente a presidente em 2023. Críticos dizem que ele pode governar nos bastidores se seu candidato, Emmanuel Ramazani Shadary, vencer.
Uma guerra na qual cerca de 5 milhões de pessoas morreram, a maioria de fome e doenças, terminou em 2003, mas a violência ainda é um problema e milícias atacam civis.