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Crescem os protestos no Líbano e bancos amanhecem destruídos

As manifestações começaram contra a cobrança nas chamadas de voz online. O país vive sua pior crise econômica das últimas décadas

Internacional|Da EFE

Protesto no Líbano
Protesto no Líbano

Após um hiato devido à pandemia de covid-19, os libaneses subiram o tom dos protestos após a morte de um manifestante na cidade de Trípoli, que se tornou o centro das manifestações que começaram contra a cobrança nas chamadas de voz do WhatsApp e geraram a pior crise econômica do país em décadas.

"Mesmo que não possamos recuperar o dinheiro, nos vingaremos quebrando as propriedades. Chegou a hora da vingança", disse Mohamed Deraei, de 27 anos, diante de um dos bancos atacados no centro de Trípoli, a segunda maior cidade do país, que continuou a arder após os distúrbios na manhã anterior.

Em 17 de outubro de 2019, os cidadãos saíram às ruas por uma taxa que o governo queria aplicar a alguns serviços de chamadas online e que rapidamente se transformou em uma revolta popular que pedia o fim da corrupção e do sectarismo da classe dominante, que levou o país a ser um dos mais endividados do mundo.

Ao longo dos meses, os protestos pacíficos em outubro e novembro se radicalizaram devido ao cansaço de parte dos manifestantes, o que os levou a confrontar as forças de segurança, deixando centenas de feridos. No entanto, o coronavírus SARS-CoV-2 parou as ruas no início do ano.


Após essa pausa, os manifestantes voltaram com mais raiva em abril: queimaram agências bancárias e confrontaram o exército em Trípoli. Um manifestante morreu no dia 28 em confrontos com os militares, alimentando com sua morte as chamas de uma nova revolução no país.

Os bancos, alvo principal

Trípoli, uma cidade de maioria muçulmana sunita, amanheceu com as calçadas da praça central sujas devido aos contínuos protestos noturnos, ocorridos após o intervalo do pôr do sol no jejum do mês sagrado do Ramadã.


As agências bancárias estão totalmente carbonizadas pelos coquetéis molotov lançados pelos manifestantes, enquanto outras estão com portas blindadas depois de terem sido fechadas por tempo indeterminado.

Deraei, que participa todas as noites dos protestos, indica com a bandeira do Líbano nas costas que existem "mais problemas do que os bancos, mas as pessoas apontam para eles como os principais culpados" da crise.


"Imagine estar em uma situação em que você não pode retirar seu próprio dinheiro do banco. Seu trabalho, sua vida. E você não pode ter seu dinheiro?", comentou.

Os bancos impuseram limites à retirada de dinheiro, especialmente dólares, em uma economia fortemente dolarizada e em crise, agravada ainda mais pelo desligamento da atividade para conter o avanço da covid-19 desde o final de março.

A isto se acrescenta que o valor da libra libanesa está em queda livre, impulsionada pela inflação, que poderá atingir 27% este ano, segundo o governo. Outro fator é o preço do dólar, que passou das 4 mil libras no mercado negro, enquanto o câmbio oficial é de 1.507 libras.

O pequeno país possui uma dívida pública de mais de US$ 90 bilhões, o que representa 170% do PIB (Produto Interno Bruto). O governo anunciou ontem (30) um plano de resgate econômico de cinco anos, para quando as autoridades esperam que a dívida represente menos de 100%.

'Começaremos a comer uns aos outros'

No famoso souk (mercado) de Trípoli, as lojas reabriram e as pessoas fazem compras sem tomar precauções contra o coronavírus. O país já confirmou 700 casos e 24 mortes por covid-19.

"Apesar de tudo o que acontece, temos que continuar trabalhando para alimentar nossos filhos. Esperemos mais um pouco e começaremos a comer uns aos outros. Não acredito que cheguemos a esse ponto", lamentou Laila sentada no chão enquanto vende vegetais.

O Banco Mundial estimou em 2017,que 53% da população ativa da cidade de Trípoli estava desempregada, situação que piorou recentemente.

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