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Crescimento da China diminui, enquanto autoritarismo cresce em década de Xi Jinping no poder

No comando do Partido Comunista há dez anos, presidente fechou país e precisará lidar com as novas indústrias de alta tecnologia

Internacional|Lucas Ferreira, do R7

Presidente da China, Xi Jinping, durante convenção do Partido Comunista
Presidente da China, Xi Jinping, durante convenção do Partido Comunista Presidente da China, Xi Jinping, durante convenção do Partido Comunista

O presidente da China, Xi Jinping, completa nesta terça-feira (15) dez anos na liderança do Partido Comunista, grupo que comanda a república chinesa desde meados do século 20. Porém, diferente dos antecessores, o mandatário asiático iniciará em breve o terceiro governo no país de maneira inédita na história recente.

Desde Mao Tsé-Tung, líder símbolo do passado moderno da China, nenhum chefe de governo ficou mais do que dez anos no poder. Xi, ainda que de maneira mais tímida, começa a construir uma história de hegemonia parecida com o período maoista.

O professor de relações internacionais da UFT (Universidade Federal do Tocantins) Carlos Frederico Pereira da Silva Gama explicou em entrevista ao R7 que a última conferência do Partido Comunista deu a Xi o direito do terceiro mandato, colocando-o em um patamar ímpar.

“Muitos líderes distantes de Xi perderam seus postos no partido. O seu controle sobre a máquina partidária nesse momento parece maior do que jamais foi”, conta Gama.

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E toda essa autonomia de Xi deve perdurar por longos anos, já que não há uma sucessão clara ou algum ator em destaque no cenário político chinês que possa substituir o atual presidente.

“O contexto na China não indica a ascensão de nenhum nome contrário a Xi. Se a tradição for seguida, o atual primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, da mesma geração de líderes, seria o herdeiro, mas hoje vemos a possibilidade de um mandato vitalício para [Xi].”

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Também em entrevista ao R7, o professor de relações internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Maurício Santoro ressalta a centralização política promovida por Xi desde 2012, além das ações de repressão ao redor do país.

“Aumentou bastante a repressão política contra os muçulmanos, contra os manifestantes pró democracia e autonomia em Hong Kong. Um cenário internacional também bem mais tenso com os EUA, a Índia e a questão de Taiwan”, explica Santoro.

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Para o professor da Uerj, o Partido Comunista e a China atualmente são um reflexo da visão de Xi, que “aboliu” uma liderança compartilhada construída ao longo dos anos.

“Desde a morte de Mao, em 1976, o que tinha acontecido no governo chinês é que ele tinha virado um sistema de poder mais colegiado, um poder compartilhado por uma elite do Partido Comunista, de algumas dezenas de dirigentes, e evitando o culto à personalidade de um só líder.”

Economia mais lenta

Trabalhadores em fábrica chinesa
Trabalhadores em fábrica chinesa Trabalhadores em fábrica chinesa

A China se destacou nas últimas décadas pelo acelerado processo de industrialização que dominou o mercado internacional. Empresas de diversos seguimentos possuem fábricas no país ou adquirem componentes produzidos em território chinês.

Este cenário fez com que o país estabelecesse crescimentos econômicos anuais de mais de 10%, normalizando uma meta que seria um sonho para todos os países do mundo.

Entretanto, durante o mandato de Xi, as cifras se tornaram cada vez mais tímidas. Após a crise global de 2008, o país passou a crescer cerca de 5% e, desde do início da pandemia, a média caiu para 3%.

“A China de hoje tem crescido muito menos do que no passado recente”, diz Santoro. “O país está se endividando mais para crescer — a dívida pública aumentou bastante, principalmente a dívida das províncias e municípios”.

Gama, por sua vez, destaca que os números da economia chinesa ainda devem impressionar por algum tempo, ainda que em um ritmo mais lento desde 2008.

“A China tem enorme dependência de matérias-primas importadas e a crise afetou o modelo de crescimento chinês, baseado na integração nacional, na industrialização e em saltos tecnológicos programados pela liderança política com investimentos público-privados”, destaca Gama.

Apesar dos contratempos, durante o governo de Xi mais de 100 milhões de pessoas deixaram a linha de pobreza e outras 100 milhões saíram do campo e foram para a cidade. Os números também mostram a redução da desigualdade financeira, em um país questionado muitas vezes pela corrupção de políticos.

“Xi chegou ao poder como um burocrata inflexível com a corrupção, alguém que tinha atuado muitos anos nas regiões mais pobres do país”, explica Gama. “Veio a crise de 2008 e a prosperidade desacelerou. Xi era o vice de Hu Jintao e foi escolhido para lidar com essas duas questões: a crise a corrupção”.

Nos últimos anos, a China destinou parte da indústria do país para o desenvolvimento de tecnologias de alta complexidade, como inteligência artificial e o padrão 5G de internet.

“Esses dez anos de governo Xi foram marcados realmente por um aprofundamento do desenvolvimento econômico da China, sobretudo no sentido de mais avanços tecnológicos, uma China que começa a competir com os EUA, Japão e Europa”, ressalta Santoro.

A concentração de poder de Xi, obviamente, também passa pela economia. Hoje, o Estado chinês é muito mais intervencionista em relação às empresas do país do que antes, segundo o internacionalista da Uerj.

“A característica principal da política econômica de Xi é que o Estado passou a ter um controle muito maior do setor privado do que acontecia há 15 anos, 20 anos. Isso tem levado também a muitos conflitos do governo chinês e empresas privadas, sejam chinesas ou estrangeiras presentes no país.”

Pandemia na China

Funcionários da área da saúde são vistos próximo a condomínio em lockdown
Funcionários da área da saúde são vistos próximo a condomínio em lockdown Funcionários da área da saúde são vistos próximo a condomínio em lockdown

A pandemia do novo coronavírus, com primeiro caso rastreado em um mercado popular de Wuhan, na China, foi um divisor de águas para o governo de Xi. Politicamente fechado, o mandatário e toda a cúpula do Partido Comunista decidiram isolar o país do mundo, com uma política conhecida como Covid-zero.

Todavia, ainda assim sobram críticas à postura de como Xi conduziu a China durante a pandemia, desde a falta de cooperação com a OMS em informações até o desenvolvimento isolado de vacinas.

“Xi adotou políticas controversas durante a pandemia, que começou em novembro de 2019, com a descoberta de um novo coronavírus na cidade de Wuhan. Nas relações internacionais, Xi deixou a OMS sem informações precisas durante meses. O atraso facilitou a contaminação global e dificultou a cooperação da China com o mundo desde 2020”, conta Gama.

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Atualmente, a China vive pequenos lockdowns em regiões isoladas do país. Porém, para uma nação de mais de 1 bilhão de pessoas, a clausura de uma cidade pode impactar dezenas de milhões de habitantes.

Para Santoro, a forma como Xi lida com as questões do país, desde a área econômica até a saúde, é um reflexo de um fenômeno global de “líderes fortes” na última década, que levaram ao poder Donald Trump (EUA), Jair Bolsonaro (Brasil) e Viktor Orban (Hungria).

“No caso de países que já eram regimes autoritários, como China e Rússia, foi uma consolidação dessa autocracia nas mãos de um só governante. Isso faz parte desse cenário global de uma reação a uma economia muito mais turbulenta desde a crise global de 2008”, conclui Santoro.

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