Cúpula entre Putin e Kim enfraquece Trump, diz especialista
Países trataram da desnuclearização da Coreia do Norte e das relações comerciais entre os dois países. Líderes trocaram presentes
Internacional|Beatriz Sanz, do R7
A reunião entre o presidente russo Vladimir Putin e o líder norte-coreano Kim Jong Un, que aconteceu nesta quinta-feira (25) terminou sem nenhum acordo formal, mas pode ser considerada um sucesso.
Putin conseguiu se colocar de volta na mesa de negociação da desnuclearização da Coreia do Norte com uma proposta que interessa mais a Kim Jong Un do que a de Trump.
Segundo Vicente G. Ferraro Jr., Mestre em Ciência Política pela Higher School of Economics de Moscou e membro do Laboratório de Estudos da Ásia da USP, "Putin ofereceu um acordo de desnuclearização parcial, enquanto os EUA cobraram uma que a Coreia do Norte se livrasse de suas armas nucleares de forma imediata e incondicional".
Assim, o presidente norte-americano sai enfraquecido nessa disputa.
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Para Kim Jong Un, o programa nuclear é uma forma de garantir sua soberania e dissuadir ataques estrangeiros.
“Fomos capazes de discutir a história de nossas relações. Também falamos sobre os dias atuais e as perspectivas de desenvolvimento de laços bilaterais. É claro que também discutimos a situação na península coreana", afirmou Putin ao fim do encontro.
Na época da Guerra Fria, a Rússia era um dos maiores parceiros da Coreia do Norte e conta com essa carta na manga para aquecer a relação entre os países.
Troca de presentes
Durante o encontro, os dois líderes trocaram presentes. Kim Jong Un entregou a Putin uma espada de ouro e recebeu do russo um conjunto de chá para usar em seu trem.
Na cúpula que realizou com o presidente sul-coreano Moon Jae In, também houve troca de regalos. Moon recebeu um casal de cachorros da raça Pungsan, típica da Coreia do Norte.
Objetivos estratégicos
A cúpula aconteceu na Universidade Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, uma cidade portuária perto da fronteira com a Coreia do Norte.
Kim Jong Un chegou até a Rússia controlando um país extremamente prejudicado pelas sanções internacionais e em busca de algum sinal de que isso possa ser mudado.
Putin, por sua vez, relembrou que nos últimos anos seu país enviou US$ 25 milhões (cerca de $R 100 milhões) em ajuda alimentar à Coreia do Norte e prometeu enviar outras 50 mil toneladas de trigo.
No entanto, a própria Rússia enfrenta uma série de sanções desde 2014 por conta da anexação da Crimeia e não pode se comprometer em grandes ajudas com Kim Jong Un.
“Apesar do interesse político, isso não se reflete no plano econômico”, explica Ferraro. Em 2017, o comércio entre os dois países movimentou cerca de US$ 78 milhões de dólares. Esse valor caiu para US$ 34 milhões no ano passado.
Enquanto isso, a China segue sendo o maior parceiro comercial da Coreia do Norte, mesmo com todos os embargos.
Para a Coreia do Norte, o intuito é se mostrar disponível para continuar nas negociações, tentando forçar Trump a voltar para a conversa depois dessa derrota.
O país asiático também acredita que, como membro do Conselho de Segurança, a Rússia possa dialogar para evitar futuras sanções e até mesmo aliviar algumas das que já existem.
Essas sanções afetam diretamente cerca de 10 mil norte-coreanos que trabalham na Rússia e enviam dinheiro para a pátria-natal. A ONU determinou em 2017, que esses trabalhadores deveriam ser demitidos até o fim de 2019. A situação preocupa Kim Jong Un que pediu a Putin que mantenha seus cidadãos empregados até o prazo máximo.
Já a Rússia, tem interesses mais imediatos, como se mostrar como uma potência mundial, presente em diversos confrontos — a Guerra da Síria e a Crise da Venezuela, por exemplo, contam com o país como negociador. “Para a Rússia é importante jogar em diferentes tabuleiros para ter uma maior margem de manobra e poder de barganha nas relações com o Ocidente”, explica Ferraro.
Além disso, Putin se preocupa em manter a estabilidade na península coreana, já que um combate entre as duas Coreias poderia chegar também à Rússia.