Curdistão faz crianças confessarem que eram do Daesh, diz ONG
A ONG Human Rights Watch entrevistou crianças iraquianas que disseram ter sofrido tortura para confessar que trabalhavam para o Daesh
Internacional|Do R7
A organização não governamental Human Rights Watch (HRW) denunciou nesta terça-feira (8) que o governo da região autônoma do Curdistão iraquiano está "torturando" crianças para que confessem que fizeram parte do grupo jihadista Daesh.
HRW entrevistou 20 crianças, com idades entre 14 e 17 anos, acusadas ou condenadas por afiliação ao Daesh no reformatório de mulheres e crianças em Erbil, capital do Curdistão, em novembro de 2018, além de três crianças que tinham sido libertadas recentemente.
Das 23 crianças, 16 disseram que um ou mais oficiais dos Asayish (oficiais de segurança curdos) "os tinham torturado durante o interrogatório nas instalações" e batido "em todo o corpo com canos de plástico, cabos elétricos ou barras", e que inclusive "usaram descargas elétricas".
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Além disso, a ONG indicou que a maioria das crianças disseram que "não tinham acesso a um advogado e que não tinham permissão para ler as confissões que os 'Asayish' escreveram e as obrigaram a assinar". Segundo HRW, "a maioria das crianças disseram que os seus interrogadores os disseram o que deveriam confessar".
"Primeiro, disseram que deveria afirmar que estava com o Daesh, então, aceitei", disse uma criança de 14 anos à HRW. "Depois, comentaram que tinha que dizer que trabalhei para o Daesh durante três meses. Eu disse que não fazia parte do Daesh, mas me falaram: 'Não, você tem que dizer".
Após "duas horas de interrogatório e tortura", aceitou, revelou organização humanitária, citando um dos depoimentos dos entrevistados.
"Quase dois anos depois que o governo regional do Curdistão prometeu investigar a tortura de crianças detidas, isso ainda ocorre com uma frequência alarmante", argumentou Jo Becker, diretora de defesa dos direitos das crianças para a HRW.
Em dezembro de 2017, a Human Rights Watch denunciou que as autoridades iraquianas estavam cometendo "abusos" de forma "desenfreada" contra os detidos suspeitos de pertencerem ao Daesh.