O caso de Vanessa Trump, a nora do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levada para o hospital nesta segunda-feira (12) após abrir uma carta com um "pó branco suspeito", trouxe à tona um dos maiores medos dos norte-americanos no século 21: o antraz. O temor não é injustificado. Cartas com um pó branco causaram a morte de 5 pessoas e a internação de outras 17 em 2001. Todas elas continham o pó branco que transmite a doença conhecica como antraz. Depois disso, todos os anos, milhares de casos de correspondência suspeita são registrados nos EUA. Mas desde que os ataques com antraz verdadeiro aconteceram, entre setembro e outubro de 2001, não houve mais contaminação de verdade, apenas alarmes falsos. Na própria família Trump já houve outro caso de uma carta com pó branco. Em 2016, ainda durante as primárias da eleição presidencial, Eric Trump, filho do agora presidente, recebeu uma correspondência suspeita, mas ninguém foi contaminado.Ataques com antraz após o 11 de Setembro Em 18 de setembro de 2001, apenas uma semana depois dos ataques de 11 de Setembro, cinco cartas contendo pó branco foram enviadas para redações de televisões e jornais norte-americanos. A primeira vítima foi Robert Stevens, que trabalhava no tabloide The Sun e morreu contaminado por antraz no início de outubro. Nas semanas seguintes, outras cartas foram enviadas para prédios do governo norte-americano. No Congresso, dois senadores democratas (Tom Daschle e Patrick Leahy) receberam envelopes contendo antraz. No total, 22 pessoas foram contaminadas. Além de Stevens, também morreram Thomas Morris Jr e Joseph Curseen, ambos funcionários de uma agência do correio em Washington. Houve outras duas vítimas fatais, mas as investigações jamais conseguiram determinar como elas foram contaminadas: uma era Kathy Nguyen, imigrante vietnamita que morava em Nova York, e Ottilie Lundgren, uma idosa de 94 anos, viúva de um juiz do estado de Connecticut. Os outros 17 contaminados sobreviveram. A investigação foi encerrada em 2008, sem nenhum indiciamento. Segundo o juiz do caso, seria impossível processar alguém com base nas poucas provas obtidas. O principal suspeito do caso, Bruce Ivins, microbiologista que trabalhava para o governo dos EUA, cometeu suicídio em agosto de 2008, sem jamais ser indiciado. Seus colegas relataram depois que ele estava sendo perseguido por agentes do FBI e chegou a ser internado por depressão.O que é o antraz Antraz é uma infecção causada pelo contato com os esporos da bactéria Bacillus anthracis e existe em três formas: cutânea (pele), pulmonar e intestinal. Segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA, são registrados por ano de 2 mil a 22 mil casos de contaminação por antraz todos os anos, no mundo. Cerca de 90% das ocorrências são do tipo cutâneo. A bactéria sobrevive no solo por anos, na forma de esporo. Normalmente, esses esporos são ingeridos por animais herbívoros, e as pessoas têm contato com eles por meio dos pêlos e da carne desses animais. O antraz começou a ser usado como arma biológica na Primeira Guerra Mundial, por rebeldes finlandeses que buscavam libertar a Finlândia do domínio da Rússia czarista, em 1916. O uso da bactéria foi testado pelo exército do Japão durante a Guerra da Manchúria contra a China, na década de 1930. Aliados e membros do Eixo também testaram o uso da bactéria na Segunda Guerra, mas não há registro de utilização em batalha. Durante a Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética chegaram a produzir e armazenar quantidades de antraz para utilização num possível conflito, mas a bactéria jamais chegou a ser usada e os estoques foram destruídos.