Dia 1: a viagem da equipe da Record TV até Kiev, na Ucrânia
Leandro Stoliar e o repórter cinematográfico Luís Felipe Silveira passaram por incertezas no embarque e medo durante o voo
Internacional|Leandro Stoliar, da Record TV
Assim que chegamos ao aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, uma imensa fila nos separava do balcão do check-in. Cerca de duas horas antes do embarque, recebemos a primeira notícia que nos tirou a aparente tranquilidade: companhias aéreas europeias haviam acabado de cancelar os voos para Kiev, capital da Ucrânia. Entre elas, estava a que nos levaria ao epicentro da tensão mundial.
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O repórter cinematográfico Luís Felipe Silveira e eu sabíamos que nossa conexão em Amsterdam agora estava ameaçada. Será que conseguiríamos pegar o voo da Holanda para a Ucrânia? Começava ali nossa tensão particular. A fila à nossa frente atrasava o despacho das malas e, consequentemente, o voo. Era o início da nossa jornada em direção ao incerto.
Nossa correria só terminou quando chegamos ao portão de embarque do aeroporto de Amsterdam, 12 horas depois. No painel eletrônico, o único avião que seguiria viagem até a Ucrânia no domingo, 13 de fevereiro de 2022, estava com mais de uma hora de atraso. De certa forma foi um alívio. Não perderíamos o voo, mas o atraso já era um sinal de que havia algo errado com o espaço aéreo.
Estados Unidos, Japão, Holanda, Reino Unido e outros países europeus esvaziaram as embaixadas na Ucrânia e pediram a seus compatriotas que deixassem o país o mais rápido possível. O medo de uma invasão russa, que tem sob seu comando um dos Exércitos mais poderosos do mundo, aumenta a cada minuto e cria uma instabilidade mundial. A diplomacia europeia falha em tentar um acordo de paz. Os representantes demonstram desconhecer os interesses da Rússia, que tipo de Estado o atual governo russo quer construir e em que posição Putin quer estar nesse tabuleiro.
Como disse a escritora Anne Applebaum, da Universidade Johns Hopkins, em artigo publicado no jornal The Atlantic: "Os líderes do Ocidente vivem num mundo onde regras importam, o protocolo diplomático é útil e o discurso educado é válido. Todos eles acreditam que quando vão à Rússia conversam com pessoas que podem mudar o pensamento por meio do debate e que a elite russa se importa com a própria reputação. Eles não são assim".
Tensão a bordo
A tensão era evidente no rosto dos passageiros dentro do avião que decolou de Amsterdam em direção a Kiev. Pessoas que precisam voltar para casa. Um silêncio sepulcral.
Domingo de sol na cidade, com temperatura em torno dos 6 graus nos Países Baixos. O avião voa bem abaixo da altitude normal em um trajeto de mais de três horas... Quando atinge a altitude de cruzeiro, caças cruzam por baixo da nossa aeronave em alta velocidade. De onde são? É difícil dizer.
Somos os únicos jornalistas brasileiros no voo, e aqui começa nossa viagem rumo a um país ameaçado pela iminência da guerra. Aqui começa, talvez, a cobertura mais difícil das nossas vidas.