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Dificuldades no Brasil fazem refugiados admitirem volta à Síria

Eles se mostraram surpresos com a fala do Ministro das Relações Exteriores, que, durante assembleia na ONU, exortou os refugiados a voltarem

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Talal vai esperar as eleição no Brasil para definir retorno
Talal vai esperar as eleição no Brasil para definir retorno

O discurso de triunfo do ministro de Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, no último sábado (29), na Assembleia Geral das Nações Unidas, pegou de surpresa muitos sírios que moram no Brasil.

O ministro afirmou em Nova York que a Síria está pronta para o retorno dos refugiados da guerra, que já dura mais de sete anos, mas, segundo ele, está muito perto do fim.

Os refugiados da guerra síria no Brasil são parte dos pelo menos 5,6 milhões de sírios (quase um terço da população do país, de cerca de 17 milhões de pessoas, segundo a ONU) que fugiram dos combates, em busca da sobrevivência em várias nações.

Muitos acabaram se instalando e refazendo suas vidas. Inclusive no Brasil, onde, por exemplo, Talal al-Tinawi, 45 anos, abriu um restaurante de gastronomia árabe em São Paulo.


Mas as dificuldades ainda são grandes. Principalmente por causa da crise que ainda não foi totalmente superada no Brasil. Mas isso não quer dizer, porém, que o pedido do ministro al-Moualem irá surtir efeito imediato.

O próprio Talal admite a possibilidade de voltar. Mas ele pretende esperar pelo menos alguns meses, com a mulher e dois filhos, até a definição de qual será o novo governo brasileiro.


"Penso em voltar para a Síria. Vou esperar para ver o que irá ocorrer nas próximas eleições presidenciais no Brasil, que tem passado por dificuldades. Então decidirei. Na Síria ainda tenho um apartamento, familiares e muitas coisas do meu trabalho de engenheiro."

Em conversa com parentes, ele tem informações de que a guerra estaria próxima do fim, após sete anos de conflitos que mataram mais de 500 mil pessoas. Talal diz que só falta o governo de Bashar al-Assad retomar o controle de Idlib, no noroeste do país, das mãos dos rebeldes.


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Mas pela vivência que Talal tem em relação ao tema, o pedido do ministro ainda não deverá ser seguido pela maioria dos que saíram da Síria.

"Converso com muitos sírios. E acompanho a movimentação dos refugiados de uma maneira geral. Alguns realmente pensam no retorno, mas acredito que a maioria das pessoas não deverá voltar, principalmente em um curto e médio prazos."

Situação de risco

É o caso de Kamal Daqa, 37 anos, profissional especializado em TI (Tecnologia da Informação), que não tem plena confiança de que um retorno agora é seguro.

"Claro que gostaria de voltar. Mas uma coisa é o que se fala, outra é o que ocorre na prática. A guerra ainda não acabou. Há combates e ainda é arriscado."

Kamal fez parte do primeiro grupo que concluiu curso de português realizado em uma mesquita de São Paulo. Para ele, que contou com a ajuda do grupo humanitário Missão Paz, muitos sírios que voltarem ainda podem ser convocados para o Exército. E isso deverá inibir o retorno de muitas pessoas neste momento.

"São chamados homens até 40 anos de idade. Ainda está muito perigosa a situação. Prefiro esperar até ter certeza de que um retorno será seguro."

O ministro al-Moualem garantiu que a guerra praticamente acabou e falou inclusive em abrir as portas do país não só para os que saíram, mas para nações que queiram contribuir com a reconstrução local.

“Nós saudamos qualquer assistência para a reconstrução, vinda daqueles países que não fizeram parte da agressão contra a Síria.”

Por outro lado, o ministro demonstra que há muito ressentimento. E que, mesmo se a guerra acabar, a paz demorará para voltar.

“Os países que oferecem apenas assistência condicional ou que continuam apoiando terrorismo, não estão convidados, nem são bem-vindos a ajudar.”

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