Dois anos após retornar ao poder, Talibã segue atacando liberdade das mulheres afegãs
Grupo extremista excluiu mulheres do sistema educacional, do mercado de trabalho e até de espaços públicos
Internacional|Do R7
Em 15 de agosto de 2021, o povo afegão vivia momentos de tensão e desespero: o Talibã assumiu novamente o poder, depois de 20 anos, mudando drasticamente a vida das pessoas, especialmente das mulheres. Naquele dia, milhares de cidadãos invadiram as pistas do aeroporto de Cabul, na esperança de embarcar em um avião para fugir do novo regime. O desespero foi tamanho que Zaki Anwari, um jogador de futebol de 19 anos, morreu ao cair da parte externa de um avião, tentando escapar.
O Talibã surgiu em 1994, durante a Guerra Civil do Afeganistão, e foi formado por estudantes de escolas religiosas afegãs. O grupo fundamentalista islâmico tomou o poder em 1996 e governou o país de forma violenta, ficando conhecido por cometer várias violações aos direitos humanos. O regime durou cinco anos, quando os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 mudaram o rumo de tudo.
Naquele dia, a Al Qaeda, outro grupo fundamentalista islâmico, coordenou uma série de atentados terroristas contra os Estados Unidos, incluindo dois nas Torres Gêmeas de Nova York, símbolo do poder econômico americano. Como o Afeganistão era a base da Al Qaeda e havia cedido abrigo a Osama bin Laden, líder da organização, os EUA invadiram o país islâmico e instalaram suas tropas militares por lá.
Em 29 de fevereiro de 2020, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um acordo com o Talibã que definiu um cronograma para a retirada definitiva dos EUA e de seus aliados após quase 20 anos de conflito. O acordo foi mantido por Joe Biden, sucessor de Trump e o atual presidente, e, em 30 de agosto de 2021, as tropas americanas concluíram a retirada de suas tropas. Logo na sequência, o Talibã iniciou uma ofensiva para recuperar o controle do país e, em 15 de agosto, assumiu o poder da capital, Cabul.
Desde então, o Afeganistão virou um verdadeiro "pesadelo humanitário", como definiu a ONG Human Rights Watch — ou um "apartheid de gênero", como classificou o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, Gordon Brown.
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O regime afeta todas as pessoas, mas principalmente mulheres e meninas. Elas foram excluídas do sistema educacional, do mercado de trabalho e até dos espaços públicos, sendo proibidas de frequentar locais como parques, jardins e academias.
Mulheres mal podem sair de casa — e, quando saem, precisam estar de burca, vestimenta que cobre o corpo todo, inclusive o rosto, e tem apenas uma pequena rede na altura dos olhos para possibilitar a visão. Recentemente, o Talibã ordenou o fechamento de todos os salões de beleza, os únicos lugares onde as mulheres ainda podiam socializar.
Com as atenções da comunidade internacional voltadas para outro conflito, a guerra da Rússia contra a Ucrânia, o Afeganistão deixou de ser uma prioridade nas relações internacionais e não há indícios de que haverá esforços para encerrar o domínio do Talibã sobre o país e reverter essa situação.