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Eixo de extrema-direita se organiza para conquistar a Europa

Ex-estrategista do governo, Steve Bannon, está organizando as estruturas da fundação O Movimento e já conversou com lideranças radicais europeias

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Bannon observa Le Pen em convenção da FN
Bannon observa Le Pen em convenção da FN

Depois de atuar como estrategista de campanha e, por oito meses, ser o principal assessor no governo de Donald Trump, Steve Bannon rompeu com o presidente dos EUA. Mas, ao que parece, mantém o mesmo discurso conservador da campanha, criando um caminho próprio para implementá-lo.

Quase um ano depois de sair do governo, Bannon foi visto em Londres na mesma época em que Trump visitava a primeira-minstra britânica Theresa May.

Em reuniões paralelas, independentes da do governo, conversou com vários líderes da direita radical europeia, inclusive italianos, e se animou com a ideia de abrir o escritório da fundação O Movimento, em Bruxelas.

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No último dia 20, em entrevista ao jornal The Daily Beast, o ex-assessor chefe da Casa Branca disse ao jornalista Nico Heines que pretende criar tal fundação para liderar uma revolta populista de direita em todo o continente, a começar pelas eleições para o Parlamento Europeu na próxima primavera.

Movimento neo-fascista


Para a professora de História Barbara Weinstein, da Universidade de Nova York, esse tipo de organização que está sendo montada por Bannon, aparentemente sem fins lucrativos, representa interesses de uma minoria poderosa que deseja manter a hegemonia no mundo ocidental.

"Parece mais uma tentativa internacional de criar um movimento neo-fascista"

(Barbara Weinstein, professora da Universidade de Nova York)

"Parece mais uma tentativa internacional de criar um movimento neo-fascista. Não conheço Bannon, nem os detalhes das suas atividades, não falo especificamente dele. Mas sei que existem iniciativas deste tipo, sei que há muitas pessoas que têm posição de poder e de informação nos EUA, no mundo intelectual, empresarial e no próprio governo que estão incentivando esses movimentos plenamente anti-democráticos."


A plataforma do grupo é um contraponto à existência da União Europeia e a iniciativas de acolhimento de refugiados, como a do milionário húngaro George Soros. Já em movimentações preliminares, Bannon, em março último, participou de conferência de imprensa conjunta durante a convenção anual da FN (Frente Nacional), em Lille, norte da França, ao lado da ultra-conservadora Marine Le Pen.

Bannon e Trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rompeu no início deste ano, em público, com o estrategista de sua campanha. O motivo parece ter sido mais pessoal do que conceitual.

Entre as divergências estariam as opiniões de Bannon de que membros do governo e até familiares de Trump atrapalhavam o presidente, por causa de supostos negócios escusos. Trump se ofendeu e criticou o ex-aliado.

Antes da campanha presidencial, Bannon, mesmo negando ser racista, comandou o Breitbart News Network, site de extrema-direita moderna, acusado de fomentar notícias falsas. E foi considerado uma peça-chave no início do governo.

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Em funcionamento

À Reuters, em entrevista e conversas por e-mail, Bannon e Raheem Kassam, ex-assessor chefe do líder britânico anti-UE (União Europeia) Nigel Farage, disseram que o grupo já está funcionando e contratando.

Bannon e Kassam estão atuando juntos e representam os dois lados nesta aliança — o americano e o europeu.

"O Movimento será nosso ponto de contato para o movimento populista, nacionalista na Europa. Estamos focando em ajudar indivíduos ou grupos preocupados com questões de soberania, controle de fronteiras, empregos, entre outras coisas", disse Kassam.

Segundo Bannon, a fundação é um "projeto populista" que tem como objetivo causar uma "mudança de placas tectônicas na Europa".

"O Movimento será nosso ponto de contato para o movimento populista%2C nacionalista na Europa."

(Steve Bannon, estrategista político da ultra-direita)

A opinião de Weinstein vai na linha do parlamentar alemão, Udo Bullmann, que criticou os planos de Bannon, tachando-os como um ataque à democracia. Weinstein aponta para uma distorção em relação ao termo populista.

"Não gosto de usar a palavra populista, no fundo é um movimento mais para a direção de governos neo-fascistas. Os fascistas têm um elemento de populismo, mas no contexto de América Latina os movimentos populistas eram mais de esquerda, a direita está aproveitando essa palavra para dar sensação de que se trata de um movimento popular."

Movimentos de elite

A especialista considera que tais iniciativas se opõem às reivindicações das camadas mais humildes da população.

"Os criadores desses movimentos geralmente são pessoas das elites, riquíssimas e com muito poder, não são movimentos que surgem, por exemplo, de sindicatos. O populismo na América Latina tem uma forte relação com movimentos de trabalhadores, esse movimento, na Europa, ao contrário, é totalmente contra o sindicalismo e o interesse dos trabalhadores."

Conhecedora de muitos aspectos da história americana, Weinstein destaca que sempre houve no país uma parte ultra-conservadora calcada em valores como nacionalismo e xenofobia. Neste sentido, a união com forças conservadoras europeias, mesmo não sendo inédita, seria um fortalecimento desta cultura ocidental ligada à extrema-direita.

Crise migratória impulsiona nacionalismos na UE
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"Acredito que um dos objetivos destes movimentos é justamente desmanchar totalmente qualquer posicionamento da classe trabalhadora dentro da política. Há também uma preocupação grande com a questão da cultura ocidental conservadora, com o medo do impacto da imigração, com receio em relação aos movimentos que defendem a causa dos negros pelo mundo."

E ela completa:

"Há uma série de interesses econômicos e culturais, da direita, que se combinam. Uma terceira vertente é reconstruir o Estado, que, em vez de buscar o bem-estar social, almejará um certo controle e certo nacionalismo, mas com poucos benefícios para os pobres. É uma tentativa de reinventar o Estado e o seu papel na sociedade moderna."

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