Primeiro-ministro Boris Johnson luta para se manter no comando do Reino Unido
Rob Pinney/Getty Images Europe/POOL/AFPOs britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (5) para as eleições locais, que elegem representantes para distritos por todo o país. O pleito, que não costuma ter muita importância, pode ser mais uma ferramenta para pressionar o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, a renunciar do cargo.
Em entrevista ao R7, o professor da USP (Universidade de São Paulo) Kai Enno Lehmann contou que tradicionalmente as eleições locais são utilizadas pelo povo britânico para protestar contra o partido que comanda o Parlamento sob a figura do primeiro-ministro.
“O partido que está no poder, como no caso do Partido Conservador, [costuma] se sair mal nas eleições locais porque é uma chance de protestar contra o governo nacional sem grandes custos políticos para o eleitor. Então, tradicionalmente, os governos nacionais se dão mal nas eleições locais”, explica Lehmann.
Porém, com os escândalos das festas de Johnson durante o confinamento no Reino Unido — apelidado de Partygate —, o resultado das eleições locais podem fazer o primeiro-ministro sofrer mais um revés diante dos parlamentares do Partido Conservador.
“Boris Jonhnson está sob pressão por causa do Partygate e uma crise de inflação, principalmente no setor energético. Então, ele está está sob pressão dentro do próprio partido e com isso ele precisa de um bom resultado. A questão seria qual é um bom resultado para o Partido Conservador nessas eleições.”
Lehmann ressalta que um bom parâmetro para medir a força dos conservadores no país é comparar seus votos nas eleições locais com a votação do principal adversário, o Partido Trabalhista.
“Se a distância entre os dois [partidos] no voto nacional for muito grande, Boris Johnson tem um problema internamente muito grande. Se a diferença for menor, ele pode dizer que [os conservadores] estão há mais de 10 anos no poder, que esse tipo de resultado era esperado, não foi uma catástrofe — legitimando que ele permaneça no poder”, explica o professor da USP.
Premiê contou aos parlamentares britânicos que não tem intenção de deixar o poder
Peter Byrne/AFP - 28.4.2022Se funcionam como termômetro para o Partido Conservador, as eleições locais não representam um fator determinante no futuro de Johnson. Lehmann, porém, destaca uma combinação de situações que podem ser vitais para a manutenção do primeiro-ministro no poder.
“Se tiver mais punições [pelo Partygate] contra Jonhson pessoalmente, em combinação com o resultado ruim nas eleições, eu acho que isso pode substituir o líder do Parlamento. E fora disso, como vai se desenvolver a chamada crise do custo de vida. Acho que esses fatores podem levar a uma crise de Johnson.”
Historicamente, o Partido Conservador costuma retirar do poder os premiês que perderam apoio. Na próxima eleição parlamentar, Johnson não seria o representante do partido seguir chefiando a Casa.
Esse padrão dos conservadores britânicos os tornaram o partido mais bem-sucedido de toda a Europa Ocidental. “Os deputados vão com certeza olhar para os resultados dessas eleições e vão dizer o que isso significa para eles e para suas cadeiras no Parlamento Nacional”, diz Lehmann.
Sem voto obrigatório no Reino Unido, o professor da USP estima que apenas três em cada dez britânicos deva comparecer às eleições locais. Entretanto, a crise que Johnson vive nos últimos meses pode elevar o número de eleitores dispostas a irem às urnas.
“Acho que o futuro de Johnson é incerto, porém se tiver um resultado muito ruim, acho que as chances dele se candidatar ou ser o candidato a primeiro-ministro nas próximas eleições nacionais são muito pequenas”, conclui Lehmann.