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Eleições parlamentares podem definir futuro do governo Trump

A perda do Congresso dificulta a reeleição, mas, no caso de Trump, colocará em risco a agenda conservadora e dará margem até para o impeachment

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Trump está preocupado com eleições parlamentares
Trump está preocupado com eleições parlamentares

Todo presidente americano, no meio de seu mandato, passa por um teste muito importante: as eleições legislativas. Neste ano, elas ocorrerão nesta terça-feira (6) e têm um significado ainda maior para Donald Trump.

Normalmente, a perda do controle do Congresso dificulta uma reeleição presidencial. No caso do republicano Trump, colocará em risco toda a sua agenda conservadora, amparada principalmente pelos representantes de cidades do interior americano.

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Mais do que isso, a perda da maioria parlamentar na Câmara e no Senado aumentaria a pressão sobre ele, deixando Trump quase sem alternativas diante da ferrenha oposição de parte dos democratas.

Há até a possibilidade de impeachment, que neste momento é muito remota, mas poderá ganhar dimensão em caso de um revés avassalador.


Obama x Trump

Para além das disputas em cada distrito eleitoral, os Democratas apostam nas chamadas "midterms elections", ou eleições de meio de mandato, como um embate direto com o presidente republicano.


Todas as grandes lideranças do partido entraram na campanha. O ex-presidente democrata, Barack Obama, por exemplo, convocou os americanos a votarem nesta que ele considera a “eleição mais importante da história do país”.

O professor de Inteligência da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Ricardo Gennari, ressalta que, ciente da importância do momento, Trump nem deixou os Estados Unidos nos últimos meses, preocupado em manter suas bases.


“Em caso de derrota geral, ele terá de ir sozinho para uma 'guerra' política. Aí não sabemos se, lá na frente, a economia entrará em crise. Neste momento está muito bem, o que o favorece. Mas já existem algumas condições preocupantes, como a alta circulação de dinheiro e a leve alta dos juros. É essencial, portanto, para Trump ter condições de equacionar sua administração com o apoio do Congresso.”

Os trunfos de Trump

Para manter a maioria, Trump tem dois trunfos neste momento: a economia em crescimento, com baixíssimo índice de desemprego, e a sua retórica pela segurança do país, ultimamente presente em discursos contra a onda imigratória vinda da América Central.

Mas um terceiro viés também é fundamental: a manutenção do apoio da maioria dos membros da Câmara dos Representantes e do Senado.

Na opinião de Raquel Saed, professora especialista em Estudos Internacionais, da Universidade Iberoamericana do México, essa situação relacionada à caravana de imigrantes vinda da América Central tem sido utilizada politicamente pelo presidente.

"A base social que apoia Trump é formada por uma classe média tradicional nos Estados Unidos. Há uma guerra de discurso contra imigrantes, tanto mexicanos e centro-americanos quanto afro-americanos. Com isso ele está dividindo o país, o objetivo de Trump é mesmo a divisão, para manter sua política."

Manter a maioria nas duas casas, conforme afirma Gennari, evitará que o presidente americano fique dependente do crescimento econômico (muitas vezes vinculado a condições voláteis) e das movimentações imigratórias, cada vez mais incontroláveis. E permaneça agradando o seu eleitorado.

“A garantia da maioria dará a ele muito mais tranquilidade. Trump sabe que tem apoio de parte dos democratas, inclusive nesta questão imigratória, e quer aproveitar esse momento decisivo para não ficar isolado.”

O que está em jogo

Em jogo nestas eleições estão todas as 435 cadeiras da Casa dos Representantes, com um mandato de quatro anos, e um terço (35) das cadeiras do Senado, com um mandato de seis anos. Também serão renovados 36 governos de 50 Estados.

Com o objetivo de se desvincular de uma imagem truculenta, Trump passou as últimas semanas visitando algumas cidades, discursando para multidões e dando entrevistas coletivas.

A estratégia é manter pelo menos a maioria do Senado já que, segundo Gennari, há grandes chances dele perder a maioria na Câmara.

“Trump sabe que dificilmente vai manter a maioria na Câmara. Mas todos os seus esforços dos últimos dias estão voltados para garantir uma diferença menor entre republicanos e democratas. Para ele seria muito mais fácil perder de pouco entre os deputados, porque ele sabe que provavelmente terá o Senado a seu favor.”

Mesmo com a economia em crescimento e o apoio do chamado “americano médio”, Trump passou por um verdadeiro pesadelo em setembro último, a partir do lançamento do livro de autoria do jornalista Bob Woodward, que traçou um perfil negativo do presidente, trazendo supostos episódios em que ele demonstrava despreparo e arrogância.

Na mesma época, uma carta anônima, em que um alto funcionário da Casa Branca relatava supostos desmandos e desequilíbrios do presidente, foi publicada no The New York Times. Estes acontecimentos fizeram Trump sentir o baque e se voltar para as eleições, temeroso até com a ameaça de impeachment. 

Estilo do presidente na berlinda

Foi um momento em que o estilo de Trump ficou realmente na berlinda. A partir de então, o presidente deixou de lado as atitudes polêmicas e passou a se mostrar mais afável, paciente e equilibrado.

Ao mesmo tempo, endureceu a retórica contra a imigração ilegal, defendendo a ideia de não mais dar cidadania aos filhos de imigrantes ilegais nascidos nos EUA.

Gennari ressalta que todas essas iniciativas, assim como a rápida visita a Pittsburgh após o atentado que matou 11 membros da comunidade judaica, ocorrido no último sábado (27), tiveram como pano de fundo a preocupação com as eleições. E com a manutenção de sua agenda conservadora, em um projeto de longo prazo.

“Essa agenda é a que ele vendeu e venderá em 2020. Trump não tem como mudar a estratégia. É essa e vai continuar assim. O americano pensa em duas coisas, economia e segurança. Na economia, ele está levando muito bem e na segurança, está tentando mostrar força. Caso perca a maioria, a agenda estaria em risco, principalmente porque, na essência, ele não muda. A agenda de Trump é Trump. E Trump precisa da maioria.”

Veja também: Fotos de marcha de imigrantes aos EUA podem pressionar Trump

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