Em defesa de imigrantes, prefeitos desafiam Salvini na Itália

Prefeituras de Nápoles, Florença, Reggio Calabria e Parma anunciaram que também não respeitarão algumas normas do chamado "Decreto Salvini"

03/01/2019 - 14h56 (Atualizado em 20/04/2024 - 11h40)

Após o prefeito de Palermo, Leoluca Orlando, os governantes de outras importantes cidades da Itália se juntaram ao boicote ao "Decreto de Segurança e Imigração", editado pelo ministro do Interior Matteo Salvini e que aplica medidas contra migrantes e refugiados.

Os prefeitos de Nápoles, Luigi de Magistris, Florença, Dario Nardella, Reggio Calabria, Giuseppe Falcomatà, e Parma, Federico Pizzarotti, anunciaram que também não respeitarão algumas normas do chamado "Decreto Salvini", ação que enfureceu o ministro.

Espanha foi principal entrada de migrantes na Europa em 2018

O texto, em vigor desde o início de outubro, abole a permissão de estadia por motivos humanitários e impede que estrangeiros se inscrevam no registro civil das cidades quando as autorizações já concedidas expirarem.

‌

Além disso, menores de idade beneficiados também não poderão fixar residência no país ao completar 18 anos. Os prefeitos, no entanto, alegam que tais regras, que atingem apenas estrangeiros com situação regularizada, são inconstitucionais.

"Em Palermo, daqui quatro ou cinco meses, 80 menores que estudam, trabalham e vivem integrados completarão 18 anos e se tornarão ilegais. É a confirmação que esse decreto é desumano", disse Orlando à ANSA.

‌

"Aplicaremos apenas as leis que estiverem em conformidade com a Constituição. Existe a Constituição, sobre a qual juramos, e as leis ordinárias, que devem ser interpretadas. Mais uma vez o governo descarrega nos prefeitos decisões difíceis que arriscam comprometer a dignidade das pessoas", reforçou De Magistris.

Leia também

Salvini, por sua vez, afirmou que os prefeitos em desacordo com seu decreto devem "se demitir". "Façam seu trabalho", cobrou, em vídeo transmitido no Facebook. O ministro também acusou os chefes municipais de "desobediência" e ameaçou denunciá-los.

‌

No entanto, em 2016, quando estava na oposição, o mesmo Salvini instou os prefeitos de seu partido, a ultranacionalista Liga, a desobedecerem a uma lei que reconheceu as uniões civis entre homossexuais na Itália.

O ministro do Interior e também vice-premier se tornou o principal rosto do governo por causa de sua deriva contra migrantes. Desde que chegou ao poder, em 1º de junho de 2018, Salvini fechou os portos italianos para ONGs que atuam no Mediterrâneo e diminuiu os recursos destinados a projetos de acolhimento de estrangeiros.

Dos cinco prefeitos que lideram o boicote, três pertencem ao centro-esquerdista Partido Democrático (PD), principal força de oposição: Orlando (Palermo), Nardella (Florença) e Falcomatà (Reggio Calabria). De Magistris (Nápoles) pertence ao movimento de esquerda Democracia Autônoma, enquanto Pizzarotti (Parma) é dissidente do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que governa a Itália em aliança com Salvini.

Galeria: Veja a rotina de um navio de resgate no Mediterrâneo

Juan Medina, um jornalista da agência Reuters, passou 29 nove dias no principal barco de resgate de migrantes da instituição de caridade espanhola Proactiva Open Arms e registrou como era a rotina das pessoas resgatadas no Mar Mediterrâneo ao tentarem chegar a costa da Europa em barcos clandestinos

No começo do seu relato, o jornalista conta sobre um resgate chocante, no dia 17 de julho. Apenas uma mulher sobreviveu a este naufrágio. Os médicos relataram que ela havia passado dias agarrada nos destroços do navio antes de ser encontrada

Medina confessou que localizar migrantes à deriva é como encontrar 'uma agulha em um palheiro'. No dia 16 de julho, eles receberam um chamado de um navio chamado Triades que afirmou que tinha localizado uma jangada no meio do mar

O navio da Open Arms foi ao local, resgatou as pessoas e ainda iria demorar três dias e meio para o navio chegar a um porto em Palma de Maiorca, na Espanha

O fundador da Open Arms, Oscar Camps, entrou com uma ação onde acusou o capitão de Triades e o capitão da guarda costeira da Líbia de homicídio involuntário e de não ajudar os imigrantes. Sob a lei marítima internacional, os navios devem tentar resgatar alguém em perigo no mar

O tribunal de Palma de Maiorca disse que a reclamação ainda estava sendo processada e que um juiz de instrução ainda não havia sido designado

Camps também acusou a Itália e Malta de se recusarem a deixar o Open Arms atracar depois do resgate, forçando-o a fazer uma viagem muito mais longa para a Espanha

Sobre as respostas das acusações do fundador da Open Arms, o jornalista contou que a Itália acusou a instituição de mentir sobre as circunstâncias do resgate e a guarda costeira da Líbia negou, em comunicado, que tenha abandonado a jangada no mar

Juan Medina, um jornalista da agência Reuters, passou 29 nove dias no principal barco de resgate de migrantes da instituição de caridade espanhola Proactiva Open Arms e registrou como era a rotina das pessoas resgatadas no Mar Mediterrâneo ao tentarem ...