Em um mês, 6.700 rohingyas morreram em Mianmar
Entre as vítimas, estão 730 crianças menores de 5 anos
Internacional|Do R7, com agências internacionais*
Pelo menos 6.700 muçulmanos da etnia rohingya foram mortos no estado de Rakhine, em Mianmar, entre 25 de agosto e 24 de setembro deste ano, segundo pesquisa divulgada pela organização MSF (Médicos Sem Fronteiras) nesta quinta-feira (14). Entre as vítimas, estão 730 crianças menores de 5 anos.
Segundo o estudo, foram constatadas nove mil mortes de membros da etnia em Rakhine, onde há a maior concentração dos rohingyas, durante o período. "Como 71,7% das mortes relatadas foram causadas pela violência, cerca de 6,7 mil rohingyas, nas estimativas mais conservadoras, foram mortos", diz o relatório.
O número contradiz os dados oficiais das autoridades locais, que apontam "apenas" 400 mortes no estado, sendo a maior parte de "terroristas islâmicos".
O levantamento da MSF ainda aponta que a principal causa das mortes foram os tiros — responsáveis por 69% dos óbitos. Em segundo lugar, estão as pessoas queimadas até morrer em suas casas (9%) e espancadas até a morte (5%). Entre as crianças com idade inferior a 5 anos, mais de 59% das que foram mortas durante esse período foram alvo de tiros, 15% foram queimadas até a morte em casa, 7% foram espancadas até a morte e 2% morreram devido a explosões de minas terrestres.
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Em 25 de agosto de 2017, forças de segurança birmanesas lançaram as últimas "operações de varredura" em Rakhine, matando rohingyas e ateando fogo a vilas inteiras onde vivia a população. Desde então, mais de 647.000 Rohingya fugiram de Mianmar para Bangladesh. O relatório da MSF foi formulado com o relato dos refugiados, que apontam que famílias inteiras foram mortas "porque foram impedidas de deixarem suas casas".
Historicamente, os rohingyas são perseguidos pelo Estado em Mianmar, com acesso restrito pelo governo a instituições de saúde, educação e sistemas de transporte — o que condena seu povo a sobreviver sob riscos permanentes. A repressão se intensificou desde 2012, quando uma onda de violência entre as comunidades budista e muçulmana tomou conta do país.
Recentemente, um acordo foi firmado entre o governo de Mianmar e Bangladesh para permitir o retorno dos rohingyas, mas a MSF afirma que ainda é "prematuro" obrigar pessoas que passaram por tamanho trauma a voltar para Mianmar.
*Texto de Ana Luísa Vieira, do R7.