Entenda a influência dos EUA na disputa entre Rússia e Ucrânia
Rivalidade entre russos e americanos foi intensificada em 2021, mas é pouco provável um confronto direto entre as potências
Internacional|Lucas Ferreira, do R7
O confronto territorial entre Rússia e Ucrânia, que começou a escalonar após a anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, ganhou novos contornos nos últimos meses com o aumento de tropas das duas nações na fronteira entre os países. A tensão fez com que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e os Estados Unidos entrassem nessa discussão.
Um grande conflito armado entre russos e americanos, entretanto, é pouco provável, na visão do pesquisador e sociólogo Gustavo Lacerda: “Os Estados Unidos não querem [se envolver em uma guerra]. Por todos os motivos do mundo eles não querem”.
Diferentemente da guerra civil na Síria, na qual os americanos apoiam os curdos enquanto os russos estão do lado do presidente sírio, Bashar al-Assad, o conflito ucraniano teria dimensões muito maiores para a Rússia. Consequentemente, um confronto bélico entre as nações seria de grande escala.
“Esses confrontos entre Rússia e Estados Unidos se dão de diferentes maneiras, mas alguns em particular assumem uma dimensão maior, e a Ucrânia é esse conflito”, explica o especialista.
Lacerda ressalta que o presidente dos EUA, Joe Biden, tentará evitar a qualquer custo um conflito armado, em especial pelo insucesso dos 20 anos de guerra no Afeganistão. Os R$ 4,5 trilhões investidos no conflito foram “dinheiro jogado fora”.
Estados Unidos e Rússia partilham da mesma estratégia
Se Biden não deseja colocar os Estados Unidos em um conflito com a Rússia, por que decidiu se envolver na questão da Ucrânia? Simples, pelo mesmo motivo que Vladimir Putin dá apoio aos países latino-americanos que incomodam politicamente os EUA, como Cuba, Nicarágua e Venezuela.
“Assim como o Leste Europeu é propriedade da Rússia, os americanos têm clareza de que até o Panamá é tudo território dos Estados Unidos”, destaca Lacerda, ressaltando a tentativa de influência das duas potências mundiais nos países vizinhos.
Tanto Biden quanto Putin não desejam que a nação contrária prospere, e isso está por trás da política externa das duas superpotências.
“Os Estados Unidos querem evitar que a Rússia faça qualquer coisa. E não são só os EUA. A Inglaterra pensa o mesmo, a Itália também. Não porque são países ocidentais, mas em termos de geopolítica, pura e simples, não querem deixar que a Rússia vire novamente a União Soviética.”
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Para Lacerda, caso os russos decidam invadir a Ucrânia, pouco seria feito pelas nações ocidentais, uma vez que a tomada da região da Crimeia ocorreu sem grande repressão de outros líderes mundiais. Na opinião do especialista, não há uma grande vantagem para os americanos se envolverem no conflito caso se torne bélico.
“Se os Estados Unidos forem agora para a Ucrânia, não vai ser como no Afeganistão, que tem montanhas onde é possível se esconder. A Ucrânia faz fronteira com a Rússia, eles vão estar cercados pelos Bálcãs, pela Polônia e por outros regimes que são contrários aos Estados Unidos. Vão gastar rios de dinheiro para quê?”
Concordamos em discordar
Biden e Putin se reuniram algumas vezes nos últimos meses. Em um desses encontros, em Genebra, na Suíça, o presidente russo disse que a conversa foi “construtiva”. Lacerda não enxerga com tanto ânimo os encontros entre os dois líderes.
“Encontro construtivo quer dizer que eles não se mataram e não declararam guerra”, brinca o pesquisador. “Isso é linguagem diplomática. [...] Quando os russos dizem que tiveram um resultado positivo, isso significa que eles concordaram em discordar.”
No entendimento do pesquisador, as trocas de acusações e ameaças de sanções entre Biden e Putin são uma demonstração de como funciona o jogo da diplomacia internacional.
“Eles sabem jogar esse jogo. Eles sabem, eles estão nisso há séculos, então sabem como disputar”, conclui Lacerda.