Entenda a real dimensão da crise da Venezuela, do petróleo à fome
Venezuelanos devem escolher no domingo se mantém Nicolás Maduro no poder, em meio a uma crise sem precedentes num país rico em petróleo
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
Após um período de muitos investimentos no social, a Venezuela começou a entrar em uma derrocada há cinco anos, quando morria o ex-presidente Hugo Chávez. Tudo começou com a queda do preço do barril do petróleo, principal produto de exportação do país.
O sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, mesmo eleito presidente de forma apertada, governa o tempo inteiro em meio a essa crise gigantesca, que envolve instabilidade política, econômica, miséria, escassez, inflação, acusações de arbitrariedades e violência. Desde 2016 a oposição tenta tirá-lo do poder. Neste momento, a presença de voluntários, em situações de emergência, como campanhas de vacinação, tem possibilitado pelo menos uma mínima diminuição do drama de muitas famílias no país.
Veja os principais dados de cada setor:
Política
Manifestações com um grande número de participantes encheram as ruas das cidades venezuelanas, com protestos reprimidos por meio da violência policial ou de milícias. Os atos arrefeceram a partir da instalação da Assembleia Constituinte, em julho de 2017, sem a participação da oposição.
Também houve acusações de prisões arbitrárias de oposicionistas, como o ex-prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, que fugiu da prisão e deixou o país.
Economia
A queda do preço do barril do petróleo foi determinante para a crise econômica. Em um período de cerca de quatro anos, o PIB diminuiu 35% e a inflação no país chega a 2.700% ao ano.
Inflação no país chega a 2.700% ao ano
Escassez de medicamentos
Em pesquisa feita em 33 hospitais públicos, relatório elaborado pela Assembleia Nacional (opositora) e pela ONG Médicos pela Saúde, apontou a escassez de medicamentos em 88% dos hospitais, dos quais 79% registram falta de material cirúrgico. Das salas de emergência, 21,9% estão sem condições de operação e em 96% das cozinhas não há alimentos.
Pobreza e miséria
Mesmo com o governo continuando a investir grande parte do orçamento (cerca de 70%) na área social, a pobreza atingia 81,8% da população em 2016, segundo relatório da OEA (Organização de Estados Americanos), divulgado em fevereiro de 2018.
81%2C8% vivem abaixo da linha da pobreza
Escassez de alimentos
O país perdeu a capacidade de importar, devido à desconfiança de empresas estrangeiras. O governo também atribui isso a um boicote da elite do país. De qualquer maneira, prevalece em muitas regiões a escassez de alimentos.
Por este mesmo relatório, feito pela Comissão Interamericana de Diretos Humanos da OEA, em 2015 o desabastecimento já atingia 80% da população.
Desabastecimento de comida atinge 80% da população
Violência
Além dos protestos contra o governo, que deixaram pelo menos 120 mortos, o país entrou em uma espiral de violência urbana.
Segundo a ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, Caracas assumiu o posto de cidade mais violenta do mundo em 2016, com uma taxa de homicídios de 119 para cada 100 mil habitantes. Cidades como Maturin e Valencia também estavam entre as sete primeiras da lista.
Habitação
Há também forte escassez de habitação, com o governo Maduro adquirindo carros abandonados para derretê-los e improvisar moradias. Tudo isso devido à falta de aço.
Outra medida polêmica usada para tentar sanar o problema é a restrição ao número de propriedades. Quem tem pelo menos três imóveis é obrigado a repassar o aluguel, estando sujeito a multa ou até a expropriação, o que gerou protestos.
Imigração
Um levantamento da empresa venezuelana Consultores 21, divulgado em janeiro último, com base no mais recente censo do INE (Instituto Nacional de Estatísticas) apontou que, nesta crise, um total de 4.091.717 venezuelano migraram para outras nações. Além disso, 29% das famílias no país tiveram algum de seus integrantes deixando o país. Os principais destinos são Colômbia, Chile, Peru, EUA e Brasil.