Entenda o caos causado pelo navio encalhado no Canal de Suez
Criado para encurtar a distância entre Europa e Ásia, rota marítima é passagem para R$ 55 bilhões em mercadorias todos os dias
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
Nesta semana, um navio gigantesco encalhou no Canal de Suez, no Egito, e causou uma inesperada comoção mundial. Enquanto alguns compartilhavam memes pela situação inusitada, outros se preocupam com quanto de dinheiro está sendo perdido com o incidente.
O Canal de Suez é uma das rotas marítimas mais importantes do mundo. "Construído no século 19, o canal tinha como principal objetivo encurtar a distância entre a Europa e a Ásia, facilitando o transporte de mercadorias e de navios de guerra na época", explica o professor de Relações Internacionais da ESPM, Gunther Rudzit.
Hoje em dia, passam cerca de 106 navios por dia cruzam o canal levando 9,6 bilhões de dólares (cerca de R$ 54,7 bilhões) em mercadorias diariamente. “Se os navios não passarem por lá, eles vão ter que contornar a África, o que aumenta a viagem em praticamente um mês”, conta Gunther.
Por lá, passa-se de tudo, explica o professor. A maioria dos navios carregam toneladas de contêineres, mas também circulam por ali navios tanques de gás e até porta-aviões americanos. “Praticamente, só não passam os grandes petroleiros”, explica.
O impacto do bloqueio
Um bloqueio dessas proporções é inédito no Canal de Suez. Normalmente, navios cargueiros só são impedidos de circular por ali por questão de segurança, quando os porta-aviões dos Estados Unidos precisam passar.
Segundo as autoridades do canal, o navio Ever Given teve uma pane e foi arrastado por fortes ventos durante uma tempestade de areia. A embarcação, que tem 400 metros de comprimento, bloqueou totalmente a passagem pelo canal e mais de 230 barcos estão ancorados esperando uma solução.
Segundo o especialista, as empresas responsáveis por esses cargueiros terão que absorver os custos desses atrasos, e alguns navios já estão mudando a rota para conseguir realizar as entregas. Se os barcos tiverem que dar a volta pela África, o trajeto aumenta e o preço dos fretes também.
“Dependendo dos contratos, as empresas terão que arcar com os custos e, dependendo da empresa, terão que ver se é possível alterar os contratos já estabelecidos”, analisa o professor da ESPM.
Apesar da importância da passagem, as mercadorias que circulam por ali não são, no geral, emergências na maior parte do tempo. No inverno no Hemisfério Norte, navios levando gás circulam pelo canal para conseguir aquecer a Europa. Com o fim do inverno, essa não é mais uma entrega que precise ser priorizada. As cargas que precisam ser entregues em menor tempo já são levadas de outras formas, como em aviões.
Após o caos causado pelo navio encalhado, a necessidade de uma reforma para alargar o Canal ou construir uma nova rota pode ser discutida entre as autoridades. O Canal do Panamá, importante rota que liga o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico, já passou por reformas para ser alargado e permitir a passagem de navios maiores sem problemas.
“As medidas de segurança agora terão que ser revistas, e, acredito que a possibilidade de se ter um segundo canal pode ser levantada”, reflete o professor.
As autoridades do Canal de Suez seguem tentando liberar o caminho, com escavadeiras alargando as margens e rebocadores tentando puxar o navio. Ainda não se sabe se essa operação vai demorar dias ou semanas, mas, enquanto isso, os navios ancorados ficarão no aguardo.