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Escritor Salman Rushdie respira por aparelhos e pode perder um olho após ser atacado nos EUA

Britânico de origem indiana foi condenado à morte por um líder iraniano depois de publicar 'Os Versos Satânicos', livro que provocou indignação no mundo muçulmano

Internacional|Do R7

Escritor Salman Rushdie está respirando com ajuda de aparelhos após ataque nos EUA
Escritor Salman Rushdie está respirando com ajuda de aparelhos após ataque nos EUA

O escritor britânico Salman Rushdie, condenado à morte há mais de 30 anos pelo líder religioso iraniano Khomeini, está sob respiração artificial e pode perder um olho após ter sido esfaqueado várias vezes nesta sexta-feira (12) em um evento literário no estado de Nova York, nos EUA.

"As notícias não são boas", disse seu agente, Andrew Wylie, mais tarde ao The New York Times. "Salman provavelmente perderá um olho, os nervos de seu braço foram cortados e seu fígado foi esfaqueado e danificado", disse Wylie.

Em 1988, Rushdie publicou Os Versos Satânicos, livro que provocou indignação no mundo muçulmano e pelo qual o líder revolucionário iraniano aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu uma fatwa (decreto religioso) em que pedia a morte do escritor.

O escritor britânico de origem indiana nascido em Bombaim em 1947 foi esfaqueado enquanto dava uma palestra na Chautauqua Institution, na cidade de Chautauqua, localizada às margens do lago de mesmo nome, no noroeste do estado de Nova York.


Após o ataque, que ocorreu pouco antes das 11h do horário local, Rushdie foi levado de helicóptero para um hospital, onde foi submetido a uma cirurgia de emergência.

"Este ato de violência é chocante", disse em comunicado Jack Sullivan, conselheiro de segurança do presidente dos EUA, Joe Biden. "Todos os membros do governo Biden-Harris rezam por sua rápida recuperação", acrescentou.


"O que muitos de nós testemunhamos hoje foi uma expressão violenta de ódio que nos abalou profundamente", disse a Instituição Chautauqua em comunicado.

Neste sábado (13), o principal diário ultraconservador do Irã, Kayhan, escreveu: "Parabéns a este homem corajoso e consciente do dever que atacou o depravado Salman Rushdie". "Vamos beijar as mãos daquele que rasgou o pescoço do inimigo de Deus com uma faca", acrescentou.


Esfaqueado no pescoço e abdômen

A polícia imediatamente prendeu o agressor, identificado como Hadi Matar, um homem de 24 anos de Fairfield, Nova Jersey, sem detalhar seus motivos.

Rushdie foi esfaqueado no pescoço e no abdômen, disse a polícia. Vários participantes do evento atacaram o agressor antes que ele fosse parado por um policial presente no local.

Um médico administrou os primeiros socorros ao escritor antes da chegada dos serviços de emergência.

O entrevistador Ralph Henry Reese, de 73 anos, que estava no palco com o escritor, sofreu uma lesão facial, mas foi liberado do hospital.

Carl LeVan, professor de ciência política que testemunhou o ataque, disse à AFP por telefone que um homem se jogou no palco enquanto Rushdie estava sentado, "apunhalou-o vigorosamente várias vezes" e "tentou matá-lo".

Uma década escondido

Rushdie, de 75 anos, alcançou a fama com seu segundo romance, Midnight's Children, em 1981, que recebeu aclamação internacional e o prestigioso Prêmio Booker do Reino Unido por seu retrato da Índia pós-independência.

Em 1988, o livro Os Versos Satânicos foi considerado por muitos muçulmanos como desrespeitoso ao Profeta Muhammad.

Um ateu declarado, Rushdie, membro de uma família de muçulmanos não praticantes, foi forçado a se esconder quando uma recompensa foi oferecida por sua morte.

O governo do Reino Unido, onde estudou e fez morada, deu a ele proteção policial após ataques a seus tradutores e editores. Em 1991, o tradutor japonês do romance, Hitoshi Igarashi, foi esfaqueado até a morte.

Rushdie passou quase uma década escondido, mudando constantemente de casa e incapaz de dizer aos filhos onde morava.

Ele só começou a sair do esconderijo no fim dos anos 1990, depois que o Irã disse em 1998 que não apoiava seu assassinato.

Rushdie, que se estabeleceu em Nova York em 2000, é um grande defensor da liberdade de expressão. Ele fez uma forte defesa da revista satírica francesa Charlie Hebdo depois que um grupo de islâmicos matou alguns de seus funcionários em Paris em 2015.

A revista publicou desenhos de Maomé que provocaram reações furiosas entre os muçulmanos de todo o mundo.

"Voz essencial"

Ameaças e boicotes persistem contra os eventos literários de Rushdie, e seu título de cavaleiro britânico em 2007 provocou protestos no Irã e no Paquistão, onde um ministro do governo disse que justificava atentados suicidas.

Mas a fatwa não conseguiu silenciar Rushdie e inspirou seu livro de memórias Joseph Anton, o nome de seu pseudônimo enquanto estava escondido, escrito na terceira pessoa.

Os livros de Rushdie foram traduzidos para mais de 40 idiomas e seu romance Midnight's Children, com mais de 600 páginas, foi adaptado para o teatro e para o cinema.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse estar "horrorizado" com o que aconteceu. O presidente da França, Emmanuel Macron, mostrou seu apoio ao escritor. "Por 33 anos, Salman Rushdie encarnou a liberdade e a luta contra o obscurantismo. O ódio e a barbárie o atingiram covardemente", escreveu no Twitter. "O combate dele é nosso, universal."

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse por meio de seu porta-voz que estava "horrorizado" com o ataque e que "de forma alguma a violência é uma resposta às palavras".

Suzanne Nossel, diretora nos Estados Unidos da organização PEN, que defende a liberdade de expressão, destacou seu apoio ao "corajoso Salman", desejando-lhe "uma recuperação completa e rápida".

"Apenas horas antes do ataque, na manhã de sexta-feira, Salman me enviou um email para ajudar com a localização de escritores ucranianos que precisam de refúgio dos graves perigos que enfrentam", disse Nossel em comunicado. "Sua voz essencial não pode e não será silenciada."

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