Espanha suspende extradição de ex-militar venezuelano Hugo Carvajal
Ex-diretor de inteligência de Hugo Chávez delatou na Europa que Venezuela financiou partidos de esquerda pelo mundo
Internacional|Luís Adorno, da Record TV
A Audiência Nacional da Espanha suspendeu, nesta sexta-feira (25), a extradição do ex-general venezuelano Hugo Armando Carvajal, conhecido como "Pollo" [frango em espanhol]. Ele é procurado nos Estados Unidos sob suspeita de participação em um esquema de tráfico de drogas. O ex-militar nega os crimes.
A decisão da Corte espanhola atende um recurso proposto pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, sediado na França, que apontava risco de Carvajal ser condenado nos EUA a pena de prisão perpétua. Desta maneira, Carvajal continuará preso em Estremera, a prisão madrilenha.
Hugo Carvajal foi, por anos, braço direito e homem de confiança do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. A relação com Nicolás Maduro, no entanto, ruiu. Em lado oposto politicamente, o ex-militar passou a apoiar Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente do país em 2019.
Em uma carta enviada à Record TV em dezembro de 2021, Carvajal explicou que recebeu ajuda do governo da Espanha para chegar a Madrid, em uma fuga da Venezuela, onde ele afirmava correr risco de morrer. Carvajal disse ter ido até Trindade e Tobago, de barco, e, de lá, viajou de avião até a capital espanhola.
Ao chegar ao aeroporto de Madrid, ele afirmou ter sido recebido por membros do governo espanhol. Carvajal havia acordado delatar financiamentos que, segundo ele, a Venezuela fez ilegalmente, no início dos anos 2000, a partidos de esquerda pelo mundo, incluindo na Espanha.
Em paralelo, o governo dos Estados Unidos, que já buscava Carvajal, descobriu o endereço onde ele estava, numa área nobre de Madrid. E enviou os dados requerendo ajuda ao governo local. Após isso, Carvajal foi preso dentro de seu apartamento. Policiais que participaram da prisão afirmaram que ele não reagiu.
Desde a detenção, ocorrida em setembro de 2021, uma batalha jurídica ocorreu na Audiência Nacional. Carvajal esteve, ao menos três vezes, perto de ser extraditado aos EUA.
Como estratégia para tentar se livrar da extradição, Carvajal delatou à Audiência Nacional o esquema de financiamento ilegal da Venezuela a partidos de esquerda. Após sua delação, representantes da Argentina, Peru, Itália, entre outros países, enviaram delegação para tentar mais detalhes sobre suas denúncias.
Entre os denunciados, Carvajal afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também recebeu dinheiro de Chávez. No entanto, o ex-militar venezuelano não especificou ano, valores e dinâmica de pagamento. A Audiência Nacional entendeu, no fim de 2021, que pouco do que ele afirmava poderia ser confirmado.