A “narrativa” da mídia ocidental, segundo a esquerda, é única: os afegãos estão numa fuga em massa para escapar do terrível regime talibã; uma tragédia que o mundo acompanha, estarrecido. Não é bem assim.
Quem está fugindo aos borbotões são os diplomatas, militares e civis (das minoritárias classes média e alta) que apoiaram, nos últimos vinte anos, a intervenção americana - aquela que entregou o país a uma elite corrupta e que nada fez pelo povo miserável e analfabeto do Afeganistão.
Os afegãos comuns que tiverem de fugir por medo da barbárie do fundamentalismo islâmico vão ter de cruzar fronteiras a pé, como refugiados. Ainda não sabemos quantos são. Talvez levem tiros pela costas, em vez de caírem de um avião cargueiro enviado pela CIA.
Depois a esquerda namastê reclama de fake news sobre direitos humanos com aquele ar de superioridade intelectual. Francamente. E a soberania dos povos? O que faremos se os sobreviventes do abandono promovido pelo governo Biden decidirem apoiar o Emirado Islâmico do Afeganistão? Seja por questão de fé ou desejo de uma sobrevivência pacífica. O que faremos?
Antes de projetar valores pessoais nos outros, temos que refletir sobre a realidade dos fatos. Crenças – ainda mais no caso de extremistas religiosos – requerem muito mais a atenção de todos nós. O que lá acontece é muito grave e importante. Diz respeito aos que acreditam, pensam, lutam e oram.
Temos de olhar para o Afeganistão sem paixões ideológicas. E com muita atenção.