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Esquerda perde as últimas três eleições na América Latina e reduz sua influência na região

Com a vitória de José Antonio Kast no Chile, direita passar a comandar 11 países no continente

Internacional|da CNN Internacional

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • A direita na América Latina conquista vitória nas eleições, com José Antonio Kast no Chile, aumentando para 11 o número de países sob seu comando.
  • Derrotas significativas da esquerda refletem insatisfação popular e baixa capacidade de resposta às demandas sociais pelos governos atuais.
  • As eleições podem consolidar um novo ciclo conservador, embora a esquerda ainda tenha influência em países populosos como Brasil e Colômbia.
  • O cenário eleitoral é incerto, com crises internas e pressões externas que podem afetar as próximas eleições em 2026 e 2024.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

José Antonio Kast foi eleito presidente do Chile neste domingo (14) Rodrigo Garrido/Reuters - 16.11.2025

A direita na América Latina conquistou mais uma vitória eleitoral neste domingo (14) no Chile, encerrando um ano invicto em eleições presidenciais na região e aumentando as expectativas para 2026, que verá as principais nações do continente em disputa.

A vitória tranquila do candidato de direita José Antonio Kast sobre Jeannette Jara baseou-se na promessa de ordem e segurança, priorizando a economia em detrimento do debate político. A candidata do governo não conseguiu se distanciar da baixa popularidade do governo de Gabriel Boric, que não correspondeu às altas expectativas de mudança com as quais assumiu o poder.


A situação foi diferente em Honduras, onde o vencedor ainda não foi oficialmente declarado há duas semanas, mas a apuração dos votos já coloca Rixi Moncada, candidata apoiada pela presidente de esquerda Xiomara Castro, em uma posição bem atrás. Lá, o presidente dos EUA, Donald Trump, desempenhou um papel muito mais decisivo, apoiando o candidato de direita Nasry Asfura, cuja pequena vantagem sobre o também direitista Salvador Nasralla ainda está sob análise. Ambos fizeram campanha com retórica contra a Venezuela e destacaram a incapacidade do partido governista de cumprir suas promessas.

A Bolívia também se deslocou para a direita em agosto, quando Rodrigo Paz (posteriormente eleito presidente) e Jorge “Tuto” Quiroga avançaram para o segundo turno, enquanto o Movimento para o Socialismo (MAS) foi dizimado por disputas internas e o candidato de esquerda mais bem posicionado, Andrónico Rodríguez, não conseguiu atingir 9% dos votos. Em meio a uma crise econômica e financeira e à escassez de combustível, os bolivianos encerraram um ciclo de quase 20 anos que começou com o primeiro mandato de Evo Morales.


Esses são três casos em que o partido governista de esquerda sofreu derrotas retumbantes, com demandas populares não atendidas e sem sinais de renovação. A direita não vence apenas por suas propostas, mas também pela forte rejeição aos governantes atuais.

Com as recentes eleições, a direita, com diferentes graus de influência, governará 11 países: Argentina, Bolívia, Chile (a partir de março), Costa Rica, Equador, El Salvador, Honduras (assim que a disputa eleitoral for resolvida), Panamá, Paraguai, Peru e República Dominicana. Enquanto isso, a esquerda, também em diferentes graus, mantém o poder em oito: Brasil, Colômbia, Cuba, Guatemala, México, Nicarágua, Uruguai e Venezuela.


A expectativa conservadora é consolidar um novo ciclo que finalmente substitua a onda rosa da primeira década e meia do século na América Latina. Mas se, em vez disso, surgir um período de ciclos curtos, o pêndulo poderá oscilar da direita para a esquerda. Nesse sentido, uma das primeiras mensagens de Kast como presidente eleito foi um apelo à calma. Administrar as expectativas para mostrar resultados a curto prazo pode muito bem ser seu maior desafio.

A impaciência do eleitorado “é um fenômeno que afeta ambos os lados do espectro político”, afirmou a cientista política Florencia Rubiolo, diretora do Insight 21, um think tank da Universidade Siglo 21. Segundo a pesquisadora, a esquerda tem tido dificuldades para cumprir as promessas de ampliar e garantir direitos. No caso de Boric, ela afirmou que “a mudança em sua agenda o levou a se concentrar em questões mais ligadas a assuntos externos, a crises de segurança regionais que se alastraram para o interior do país”, razão pela qual ele precisou mudar o foco para políticas de segurança em vez de reformas sociais.


O único caso em que o partido governista se manteve no poder foi no Equador. No primeiro semestre do ano, o país voltou a se polarizar entre apoiadores e opositores do ex-presidente Correa, mas o presidente Daniel Noboa venceu com uma clara vantagem no segundo turno contra Luisa González, prometendo combater o crime organizado em meio a uma crise de segurança.

Esses são cenários em que as questões de segurança diante do avanço do crime organizado e a (in)capacidade de responder às demandas socioeconômicas estão intrinsecamente ligadas. Num mundo cada vez mais instável e numa região que pode deixar de ser chamada de “zona de paz” (conceito que ignora os altos níveis de violência interna), a promessa de ordem e a visão nacionalista podem acabar tendo mais peso do que as plataformas de justiça social.

“O problema da esquerda não é a direita, mas sim ela mesma. Ela não conseguiu ser relevante para o mundo em que vive. Faz denúncias e, quando chega ao poder, não tem capacidade para gerir a construção de uma realidade viável”, afirmou o sociólogo Alberto Mayol, professor da Universidade de Santiago (Chile).

“A direita tem a sorte de que seu rival não seja competitivo. As sociedades ficam com menos recursos políticos para enfrentar seus próprios desafios. Os maiores perdedores são as sociedades que não têm uma proposta política adequada aos tempos atuais”, acrescentou.

Os vencedores das recentes eleições, representando diversas facções de direita, juntam-se à lista que emerge como maioria, e não apenas devido à franqueza de outros líderes como os presidentes da Argentina, Javier Milei, e de El Salvador, Nayib Bukele.

Isso não significa que a esquerda tenha pouca representação na América Latina. De fato, os três países mais populosos — Brasil, México e Colômbia — são governados por presidentes progressistas: Lula, Claudia Sheinbaum e Gustavo Petro, respectivamente. No entanto, dois deles enfrentarão a reeleição em 2026, o que pode levar a movimentos ainda maiores.

Na Colômbia, Petro reiterou que não pretende concorrer nas eleições de março, e as candidaturas estão em meio à formação de alianças. O Pacto Histórico, partido governista, obteve reconhecimento legal neste mês para participar das eleições de maio, com o senador Iván Cepeda como seu pré-candidato. A votação interna do movimento, em uma demonstração de força eleitoral, atraiu um número recorde de eleitores.

Enquanto isso, o Centro Democrático, alinhado a Uribe e ainda abalado pelo assassinato do senador Miguel Uribe Turbay, prolongou as negociações para escolher seu candidato entre três senadoras, que parecem estar perdendo terreno para a crescente proeminência do advogado de direita Abelardo de la Espriella, pré-candidato do movimento Firme por la Patria (Firme pela Pátria).

No caso colombiano, Rubiolo acredita que um fator-chave será a crise em curso na Venezuela e a pressão exercida pelos Estados Unidos sobre o presidente Nicolás Maduro. “Será um fator determinante. O impacto direto é mais forte do que no Brasil, ligado à insegurança, à militarização e às fronteiras permeáveis.”

Do ponto de vista eleitoral, embora diversos fatores possam influenciar, a analista destaca que o partido no poder costuma arcar com o custo mais alto. “As crises tendem a levar a mudanças”, e isso pode resultar em “uma busca por soluções excepcionais dentro de uma oposição bem fundamentada”, acrescentou.

No Brasil, Lula lidera confortavelmente as pesquisas contra todos os potenciais candidatos de direita, de Flávio Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mas sem apoio suficiente para vencer no primeiro turno.

Enquanto isso, a direita se reorganiza após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e ainda não definiu seus principais candidatos, portanto o cenário permanece incerto à medida que nos aproximamos de outubro.

Colômbia e Brasil são dois dos países que têm mantido uma relação tensa com os Estados Unidos nos últimos meses. O presidente Donald Trump, além de apoiar Asfura em Honduras, também apoiou Milei nas eleições legislativas de outubro na Argentina e atribuiu a si mesmo o mérito pelo resultado favorável.

A estratégia de segurança nacional dos EUA, publicada este mês, fala, aliás, em “alcançar aliados” no hemisfério e expandir por meio do “fortalecimento de novos parceiros”, portanto, espera-se que Trump seja ativo em ambos os processos eleitorais.

Para Mayol, se a agitação social continuar, o pêndulo continuará oscilando, mas com maior intensidade. “Opções radicais com soluções simplistas estão surgindo, piorando cada vez mais a situação”, comentou.

Em fevereiro, a Costa Rica também irá às urnas. Atualmente governada por Rodrigo Chávez, um social-democrata que derrotou a centro-esquerda em 2022, o presidente, aliado de Trump, é considerado pela Casa Branca como um de seus aliados. As pesquisas apontam a candidata de direita Laura Fernández, que fez parte do gabinete de Chávez, como favorita, embora haja um grande número de eleitores indecisos.

O Peru, que atravessa um longo período de instabilidade política, votará em abril com um cenário político bastante fragmentado, semelhante ao de 2021. Keiko Fujimori buscará novamente a presidência, entre outros candidatos conservadores, como o prefeito de Lima, Rafael López Aliaga, enquanto ainda não surgiu uma figura de esquerda com apelo nacional. Com isso, o país manterá a média de quase um presidente por ano: quem vencer as eleições será o nono presidente desde 2016.

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