'Estou em choque', diz jovem ucraniano após a Rússia bombardear Kiev
Moscou atacou a capital ucraniana pela última vez em 26 junho; ofensiva é considerada uma reação à explosão de uma ponte na Crimeia, região controlada pelos russos
Internacional|Do R7
No belo parque arborizado Taras Chevtchenko, no centro de Kiev, o míssil deixou uma cratera profunda e desfigurou uma área de recreação infantil. Uma fina fumaça branca ainda escapa do buraco.
Pouco depois das 8h desta segunda-feira (horário local), dois mísseis atingiram esse bairro imponente, com menos de um minuto de intervalo e a 300 metros um do outro.
Na rua que fica ao redor do parque, as janelas dos prédios foram estilhaçadas. Cacos de vidro se espalham pelo chão. A onda da explosão arrancou a porta de um restaurante. Os funcionários já estão ocupados varrendo os escombros.
Em uma esquina do parque, o primeiro ataque atingiu uma encruzilhada, bem ao lado de um prédio administrativo branco de três andares, cujas janelas também foram destruídas.
A morte em um instante
Uma tubulação foi atingida pelos ataques russos e, como um riacho, a água desce pela rua que leva à avenida principal do centro da capital ucraniana.
Sentado em um banco mais adiante no parque, Ivan Poliakov ainda está pálido. O jovem de 22 anos tem dificuldade em se expressar.
"Estou em choque. Cheguei a Kiev nesta manhã. Estava andando pela rua... quando as explosões aconteceram", diz ele.
"Vi crianças e mulheres chorando. Gosto de Kiev, as pessoas são boas, são corajosas. Mas num instante... a morte vem."
Ksenia Riazantseva e seu marido moram na rua ao redor do parque, do lado do pátio, em frente à área de recreação infantil.
"Estávamos dormindo e ouvimos a primeira explosão" no cruzamento, disse à AFP. "Acordamos e fomos checar, e então veio a segunda explosão (no parque). Não entendemos o que aconteceu", continuou.
"Vimos a fumaça, depois os carros, e percebemos que não tínhamos mais janela. Felizmente moramos do lado do pátio", acrescentou a professora, de 39 anos.
"Há uma universidade, dois museus, não há nenhum alvo militar ou algo assim. Eles só matam civis", concluiu ela com raiva.
Questionada sobre seus sentimentos após o ataque, o primeiro desde 26 de junho na capital, ela respondeu: "Olha, estamos em guerra!"
Para Seguii Agapov, um homem que pintava a moldura de um busto na parede de um prédio em frente ao parque, não há dúvida de que os ataques são uma retaliação após a explosão na ponte da Crimeia no sábado (8).
"Depois da ponte da Crimeia, tudo começou. Ontem Zaporizhzhia, hoje Kiev. Sim, acho que são represálias, muito horríveis e cruéis porque os civis sofrem", disse ele.
Eles sentem "medo e desejo de que isso acabe logo. Não entendemos por que estão fazendo isso conosco, qual é o sentido de tudo isso?", acrescentou.
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Em torno dos dois impactos dos ataques, especialistas documentam ao redor das crateras. Uma fita vermelha e branca isola a área, que é vigiada por policiais armados.
Após os ataques, os pedestres eram escassos na rua Krechtchatyk, a principal avenida do centro da cidade, que passa pela praça Maidan. As inúmeras lojas ainda estão fechadas.
Na véspera, na tarde de domingo, a multidão caminhava pela cidade, sob o sol radiante.